"A Tragédia do Largo do Rato conduziu a que muitos jornalistas e outras pessoas tenham insistido comigo para ajudar a compreender aquilo que se passou. Profissionalmente não devo - e pessoalmente não quero - trazer a público elementos do meu trabalho que possam permitir mais especulação acerca do comportamento, da personalidade e motivações do meu paciente. O Verão de 2012 foi terrível para ele. Aquilo que o atormentava estava, receio bem, muio além dos meus fracos poderes, dos diálogos que oriento ou acompanho, dos remédios que prescrevo. Dividido como estava entre a vontade de ver claro em si e a tendência neurótica para perceber em tudo uma conjugação maléfica de factores independentes da sua vontade, o meu paciente não conseguiu integrar ou dar conta do seu sofrimento. Tomei muitas notas daquilo que ele me disse, do que não me disse mas adivinhei, recebi dele fragmentos de um texto, talvez uma espécie de romance, que estava a escrever e nunca terminou, palavras que acredito terem tido relação directa ou indirecta com o seu mal e com aquilo que sucedeu no decorrer do Verão."
in "o Verão de 2012", de Paulo Varela Gomes.
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