| Desenho de Liv Ullmann (Daniel Seabra Lopes) |
terça-feira, 30 de setembro de 2014
Miss Julie de Liv Ullmann
Demos conta desse rosto e actriz
de Ingmar Bergman num domingo de manhã numa sessão do cineclube. Há muito tempo,
portanto, para nossa grande surpresa! A sensação inédita de estar perante
aquele rosto tal como a presença no écran de uma mulher e actriz demasiado
bonita e interessante. Pode-se dizer, que a actriz é intelectualmente apaixonante. Deleitava
ouvir o seu timbre suave e melancólico, as inflexões da voz, o sussurrar de uma
língua estranha e desconhecida, os gestos discretos, e aquele olhar de uma inatingível ternura,
não descurando ainda os cabelos doirados de uma luz ténue, que podemos imaginar ser do
norte europeu em período outonal. Liv Ullmann escreveu um livro denominado
"Mutações" que não se consegue encontrar nas livrarias portuguesas, mas sim em estantes perdidas de gente interessante. Depois veio a carreira cinematográfica., com o seu primeiro filme intitulou-se "Infidelidade” e, alegria das alegrias,
o seu mais recente filme “Miss Julie”, a partir de um texto de Strindberg, que chegará em Novembro às salas portuguesas. Congratulemo-nos em norueguês: Tusen Takk!
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Da tristeza
"(...)A culpa de ter nascido com a Primavera virada para a tristeza - é minha."
Leonardo Sousa
18
Como se de azul, deliberadamente,
partilharia contigo a boca, a voz,
as emoções e a vida.
domingo, 28 de setembro de 2014
Requiem
"E allora vieni avanti, disse la
voce di Tadeus, ormai la casa la conosci. Chiusi la porta alle mie spalle e
avanzai per il corridoio. Il corridoio era al buio, e inciampai in un mucchio
di cose che caddero per terra. Mi fermai a raccogliere quel che avevo sparso
sul pavimento: libri, un giocattolo di legno di quelli che si comprano nelle
fiere, un gallo di Barcelos, la statuetta di un santo, un frate delle Caldas
con un sesso enorme che faceva capolino fuori dalla tonaca. Inciampare è la tua
specialitá, sentii che diceva la voce di Tadeus dall´altra stanza. E la tua
collezionnare spazzatura, replicai io, sei senza un soldo e compri frati col
cazzo di fuori, quand´è che metti la testa a posto, Tadeus ? Sentii una grande
risata, poi Tadeus apparce nel vano della porta, controluce. Vieni avanti
timidino, disse lui, questa è la mia casa di sempre, qui ci hai mangiato, ci
hai dormito, ci hai scopato, stai facendo finta di non riconoscerla? Neanche
per idea, protestai, sono venuto chiarire cosette, sei morto senza dirmi
niente, sonno anni che mi ci sto rodendo, ora è venuto il momento di sapere,
sono libero oggi, sto vivendo una libertá extrema, davvero, mi sono persino
perduto il SuperrEgo, è scaduto come il latte, per davvero, sono libero e
liberato, è per questo che sto qui."
in Requiem, António Tabuchi, Giangiacomo Feltrinelli, Editore Milano.
Vem aí...o Domingo!
"Perchè perchè
La domenica mi lasci sempre sola
Per andare a vedere la partita
Di pallone
Perchè perchè
Una volta non ci porti anche me."
Rita Pavone
Amanhecemos funâmbulos na despedida
Amanhecemos funâmbulos na despedida
em remorso de cada vocábulo nosso conquistado
à etimologia de hélice e o verso saqueado
nos olhos, nas mãos de marinheiros em terra,
petiz pavor pela ínsula voraz revolvido
o estrídulo fascínio pelo pesadelo ao alongar da alba
findou em nós a poesia alinhavada em revestida carga
desse liame de aventura acometido.
desse liame de aventura acometido.
Poema
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
Mário Cesariny, in "Pena Capital"
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
Mário Cesariny, in "Pena Capital"
sábado, 27 de setembro de 2014
Memória
"Nenhuma coisa permanece tão intensamente na memória, como o desejo de a esquecer."
Georges Montaigne
(1532-1585)
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Discos d´Outono
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Os Garajaus vão para Acra
Os garajaus vão para Acra
alegam a consistência das nuvens
reforçam o princípio imutável das estações
esperam reunir-se no calor dos veleiros
à nova rota investem brancura no voo
desaparecendo na claridade da canícula
confiscando ao desfolhado Outono
o seu fim, precocemente, anunciado.
alegam a consistência das nuvens
reforçam o princípio imutável das estações
esperam reunir-se no calor dos veleiros
à nova rota investem brancura no voo
desaparecendo na claridade da canícula
confiscando ao desfolhado Outono
o seu fim, precocemente, anunciado.
17
Construamos barcos para as madrugadas
insulares. Tábua a tábua, porões,
convés, mastreações, velames,
vento nas enxárcias...
Construamo-los nós mesmos: velas brancas,
lemes, mastros, cascos que se afundem
nos horizontes repetidos.
Vertiginosamente aquáticas estas mãos
que adormeceram tempo de mais
no emaranhado dos sargaços
saberão, certamente, como redimir-se.
Desçamos às profundidades oceânicas
galvanizados por essa voz extrema
que nos toca tão de perto
e sintamos em cada tábua que um carpinteiro
alcança a outro carpinteiro – antevisões
de serras, puas, prumos,
viagens puras – cartografia perfeita
inscrita no dorso azul e fusiforme
dos cardumes.
Inéditas seriam estas paisagens submersas
se o coração as não soubesse.
Construamos barcos, ilhas / barcos
derivando.
in "Arqueologia da Palavra", Heitor Aghá Silva, 1991.
insulares. Tábua a tábua, porões,
convés, mastreações, velames,
vento nas enxárcias...
Construamo-los nós mesmos: velas brancas,
lemes, mastros, cascos que se afundem
nos horizontes repetidos.
Vertiginosamente aquáticas estas mãos
que adormeceram tempo de mais
no emaranhado dos sargaços
saberão, certamente, como redimir-se.
Desçamos às profundidades oceânicas
galvanizados por essa voz extrema
que nos toca tão de perto
e sintamos em cada tábua que um carpinteiro
alcança a outro carpinteiro – antevisões
de serras, puas, prumos,
viagens puras – cartografia perfeita
inscrita no dorso azul e fusiforme
dos cardumes.
Inéditas seriam estas paisagens submersas
se o coração as não soubesse.
Construamos barcos, ilhas / barcos
derivando.
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Enfia as tuas Mãos
enfia as tuas mãos
não te incomodes
arranca essa coisa que te dói
aprende as artes da mandrágora
nenhum líquido te sobrará
depois de já não haver mais anéis
— nem do meu cabelo, nem do teu —
depois de já não haver mais nada
deixa a marca
dos animais que dormem todo o
verão,
a viseira do cavaleiro andante,
a roca e o fuso,
deixa a marca dos animais
o selo, o número, o uivo, a pega
deixa o rio
a seda, a prata, um fruto seco
a embarcação
Ana Paula Inácio, in «Vago Pressentimento Azul por Cima», Porto:Ilhas, 2000.
FAZENDO Cinema
O Jornal Fazendo irá apresentar, no próximo dia 25 de Setembro, pelas 21 horas, na Biblioteca Pública da Horta, uma sessão de cinema com três curtas-metragens rodadas nos Açores. Destas, duas, o “Ponta dos Rosais”, de Dinarte Branco e o “Varadouro”, de Paulo Abreu e João da Ponte, contarão com a presença dos seus realizadores. Ainda nesta sessão será projectado o “Ser Ilhéu”, de Francisco Rosas, que foi rodado em São Miguel e em São Jorge. A entrada, para visionamento dos três filmes, é livre e gratuita.
domingo, 21 de setembro de 2014
E que o Povo Cante...
O suplemento Ípsilon do Jornal Público dedicou uma capa, seis páginas
e uma recensão crítica ao filme,“Alentejo,
Alentejo”, de Sérgio Tréfaut e, que, saúde-se agora, chega às salas de
cinema portuguesas. O interior do suplemento contém também a apreciação de dois críticos do
jornal – Luís Miguel Oliveira e Vasco Câmara - com duas estrelas ao documentário,
e que é sinónimo de razoável. Quem
escreve a recensão sobre o filme, o jornalista Jorge Mourinha, atribui-lhe a apreciação
de três estrelas, sinónimo de bom. Não
se pode deixar de pensar que houve aqui alguma contenção crítica ou avareza encomiástica
após considerável destaque efectivo, palpável, visível aos olhos de um leitor
assíduo do jornal. Arriscaríamos dizer que talvez tenha havido aqui um pequeno
desacerto com essa celebração do país que canta, com aquilo que há de melhor numa
comunidade que se organiza para preservar e manter viva uma das suas mais
antigas tradições, e que o demonstra com alegria e a disponibilidade representada por todos os que se envolveram neste enorme labor. E, curiosidade das curiosidades, celebra o cante enquanto come, enquanto bebe, ou
em lugares públicos, muitas vezes de braço dado. Por outro lado, ainda bem que nem todos
podemos dizer maravilhas ou ter grandes arrebatamentos após visionarmos este trabalho documental, bem como podemos, inclusive, discordar de semelhante prémio almejado e conquistado em
festival de cariz interno. E que do ponto de vista crítico ou cinematográfico podemos considerar que a razoabilidade é aceitável dentro de um panorama de reconhecimento amplo e merecido. Ou, então, será que estamos sob efeito desse drama social
que nos afecta enquanto cidadãos deste país à beira mar defenestrado e que se trata dessa nossa eterna dificuldade de gostarmos de nós próprios,
simplesmente de nos orgulharmos de sermos quem somos e de nos revermos nessa pertença à alma que julgamos ser portuguesa?Dois Poemas de Heitor Aghá Silva
Na mão direita o silex
Na mão direita o sílex,
a pedra tosca.
Preênsil o sonho adere
o gume rápido,
à súbita e excessiva claridade.
Galho a galho, feericamente iluminado,
treparei às bagas mais desejadas
e nos ramos mais altos dos meus olhos
Trepador exímio de cíclicas mutações
visceralmente confluo
às regiões remotas
onde a Primavera permanece intacta.
Comovido pelo remoinho ancestral
no vértice mais criativo
redescubro a água e a luz,
raiz e sonho da memória biológica
assimilada.
in "A Arqueologia da Palavra", Heitor Aghá Silva, 1991.
Na mão direita o sílex,
a pedra tosca.
Preênsil o sonho adere
o gume rápido,
à súbita e excessiva claridade.
Galho a galho, feericamente iluminado,
treparei às bagas mais desejadas
e nos ramos mais altos dos meus olhos
sílaba a sílaba construirei
as luzes rápidas
da minha anunciada humanidade.
Trepador
exímio
visceralmente confluo
às regiões remotas
onde a Primavera permanece intacta.
Comovido pelo remoinho ancestral
no vértice mais criativo
redescubro a água e a luz,
raiz e sonho da memória biológica
assimilada.
in "A Arqueologia da Palavra", Heitor Aghá Silva, 1991.
sábado, 20 de setembro de 2014
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Gato Filósofo
eu sou um racionalista
por isso não saio de casa
indolente
no dia em que vem o cio
vou ao bordel em silêncio
consciente
quando volta a acalmia
sou sem remorsos nem filhos
ausente
tudo é poema na vida
se pensado em geometria
persistente.
in feldegato cantabile, José Martins Garcia, 1973, Livraria Paisagem.
por isso não saio de casa
indolente
no dia em que vem o cio
vou ao bordel em silêncio
consciente
quando volta a acalmia
sou sem remorsos nem filhos
ausente
tudo é poema na vida
se pensado em geometria
persistente.
in feldegato cantabile, José Martins Garcia, 1973, Livraria Paisagem.
terça-feira, 16 de setembro de 2014
Baleias e Baleeiros: o álbum de família da baleação!
![]() |
| Francisco Soares da Silva em Baleias e Baleeiros |
Ver um filme com a sala do teatro
faialense completamente a abarrotar, com galerias e camarotes repletos, ainda mais
com um público atento e silencioso, pareceu mesmo coisa de outro tempo.
Finalmente percebe-se que dar a ver ou mostrar mesmo o que foi a baleação nos Açores, num relato feito na primeira pessoa pelos seus intervenientes, não só não é coisa
ancestral ou mesmo coisa histórica para
ser encerrada em museus ou arquivos, mas é essencialmente uma experiência para ser vivida enquanto
cultura baleeira que persiste e coexiste com a nossa existência contemporânea. É
que foram mais de duas horas entregues a este retrato pessoal e afectivo da
baleação, particularmente à volta da Ilha do Pico e da Ilha do Faial e em que
o "personagem principal" é o avó do próprio realizador, Francisco
Soares da Silva, picaroto e natural de Santa Cruz das Ribeiras. O “avô Chico” e, essencialmente, Luís Bicudo,
estão de parabéns, não só pela realização de tão relevante filme, mas também
por terem sabido reunir a família da baleação açoriana em torno deste tesouro
oral que começa agora a ser desvendado e
conhecido por todos. Por fim, terminar a exibição do documentário com
"Santiana", uma música popular das Flores, na magnífica voz de
Carlinhos Medeiros, bem como exibir um belíssimo conjunto de fotografias a
preto e branco de diferentes autores, não conseguiu deixar de provocar emoções de
exaltação tal como expressar o sentido de
agradecimento e admiração por semelhante e valioso trabalho de cariz memorial.
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Setembro é o mês de "Baleias e Baleeiros"
![]() |
| Cartaz de Baleias e Baleeiros de Luís Bicudo. |
Vai começar a circular pelo arquipélago dos Açores o documentário "Baleias e Baleeiros", do faialense Luís Bicudo. O documentário de 138 minutos retrata a baleação, o seu património e legado, tendo sido filmado nas Ilhas do Faial e do Pico. A sua exibição começa sexta-feira, dia 12, no Auditório do Museu dos Baleeiros, Lajes do Pico. Segue-se a apresentação na Ilha do Faial, dia 14, no Teatro Faialense. Dias 16 e 17 é a vez do Centro Cultural e Congressos de Angra do Heroísmo, pela mão do Cineclube da Terceira, apresentá-lo ao público terceirense e, por fim, dia 20, chega a Ponta Delgada, São Miguel, na Sala do 9500-Cineclube do Cine Solmar, encerrando a digressão. As sessões realizar-se-ão à noite e terão um preço módico ou simbólico. Luís Bicudo, o realizador, é também o autor do auspicioso e surpreendente filme de estreia: "A Banana do Pico", que granjeou reconhecimento e vários prémios em diferentes festivais. "Baleias e Baleeiros" estreia-se assim ao público açoriano, sendo aguardado com enorme curiosidade e expectativa. Mais informações em:
terça-feira, 9 de setembro de 2014
[Pópulo,Silveira,Porto Pim]
Pópulo, Silveira, Porto Pim,
um coração-hélice ruma a destinos salgados
à psicanálise, flébil psiquiatria,
à mãe de robustas vagas e profundezas,
aquele capacete-nuvem por apartar,
crestado cardiograma de abalo sentimental,
copos contíguos de silêncios persistentes,
no bulir de histórias cortadas por guardar,
muito antes da tristeza e da penumbra,
viscoso sangue, delicada mágoa,
em romântico gesto por vir.
um coração-hélice ruma a destinos salgados
à psicanálise, flébil psiquiatria,
à mãe de robustas vagas e profundezas,
aquele capacete-nuvem por apartar,
crestado cardiograma de abalo sentimental,
copos contíguos de silêncios persistentes,
no bulir de histórias cortadas por guardar,
muito antes da tristeza e da penumbra,
viscoso sangue, delicada mágoa,
em romântico gesto por vir.
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Vintage
Ao Café de Porto Pim
A língua estrangeira indicia viagem
a um outro lugar ao abandono,
o rigor causal dos pássaros
ultrapassam a insidiosa estação
no vento determinante da encosta,
acariciando vagamente e, por instantes,
as cigarras repousantes ao cair da tarde.
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Conjunto Homem
O livro "Conjunto Homem", de Jácome Armas, fundador do Boletim Cultural Fazendo(https://issuu.com/fazendofazendo), será editado no próximo sábado, dia 6 de Setembro, às 22 horas na CASA de CHÁ, cidade da Horta (Ilha do Faial). Trata-se de um guião filosófico ou interrogação de um cientista ao universo e à existência. O livro será apresentado pelo editor da Companhia das Ilhas: Carlos Alberto Machado.
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