domingo, 29 de março de 2015

Fado do Regresso

Voltei com a mesma fome…
Ai, como eu andara enganado!
A quem renega o seu fado
nem o Céu lhe sabe o nome.

Não achei o Paraíso,
e sei que tudo é pequeno.
Mas no teu rosto sereno
é cada ruga um sorriso.

Encontro as flores outra vez;
o sol perguntou por mim,
E foi sobre o meu jardim
que uma nuvem se desfez.

Na firme paz de quem ama,
acabei o meu desatino
Vejo os sonhos do menino
à roda da minha cama.

Adeus, ó ilhas desertas
velas à raiva do vento!
A cadeira em que me sento
é as minhas descobertas...

Nem mesmo o teu fumo quero,
Meu cachimbo de Xangai!
Agora, que já sou pai,
no meu filho é que me espero.

Oh sombra da minha sorte,
que traí com cem mulheres!
Podes vir quando quiseres,
Senhora da Boa Morte!

 in A Ilha de Sam Nunca, Atlantismo e Insularidade na poesia de António de Sousa, organização da Antologia de Natália Correia. (Faixa nº10 do disco “Mar Aberto” de Medeiros/Lucas)

Sem comentários:

Enviar um comentário