segunda-feira, 30 de março de 2015

O Grande Mergulho de António de Sousa

No fundo do mar
lá no fundo, no fundo
dum mar que não é 
nem do céu nem do mundo;
as velhas areias,
entre alguns feixes,
conchinhas, moluscos,
luzentes escamas 
de meigas sereias 
e rápidas flamas 
do arco-íris dos peixes, 
a chave lá está...

-Quem desce a buscá-la?
Cem anos, mil anos,
alguém que tecia
a mística rede
com sonhos humanos,
naufrágios e sede,
martírios e crimes,
geométricos gritos
e poemas sublimes,
cordinhas de viola
e nus de infinitos,
num pronto apanhou-a!

Se chega cá acima:
ao Cabo ou ao Pólo,
ao Havre ou a Goa,
ou mesmo a Lisboa!...

Mas, longa, a subida 
tão longa, a demora
a conta sabida:
A hora por hora 
é sempre uma vida...

in A Ilha de Sam Nunca, Atlantismo e Insularidade na poesia de António de Sousa, organização da Antologia de Natália Correia

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