automóveis, rafeiros, gente,
vazio, calor, luz
desconhecido por toda a frente
e o mundo pelos lados
de muitas portas fechadas
de algumas janelas escancaradas
de que o vento às vezes tira a
roupa
para vermos num segundo de
deslize talvez
um sofá vazio
uma televisão acesa
ouvirmos
vozes ao fundo
(nada é nosso: até o som de uma
televisão
acesa dentro da casa de ninguém
reproduzindo a voz (e o rosto que
não vemos) de alguém —
vêm desaguar aos ouvidos de
transeuntes
de mares de outros acasos)
às vezes há gente que sai das portas
às vezes há cotovelos sob um rosto à janela
às vezes olha-se para cima e
todas as cores que ninguém alcança
às vezes olho para ti e só se
pode ver
o longe que é tudo
nunca estamos perto das
distâncias à mão
às vezes há gente que acena
só o inferno é mais opaco
nunca ficamos
e há sempre gente e coisas a
fazer imagens simples
para subir nos estilhaços de uma
explosão
de que sou um centro
com olhos abertos
e sede
escrever é inclinado
arfa-se
e a rua cai na boca
de uma ermida
Leonardo
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