Fotografia de Carlos Olyveira |
Que
dia cinzento e chuvoso em Santa Clara, capacete total e um clima que abafa toda
a energia circundante. Avista-se no ar um avião que passa em direcção ao
aeroporto João Paulo II, inaugurado em 24 de Agosto de 1969, situado na zona da
Relva, pertença do concelho de Ponta Delgada. Daqui podemos imaginar aqueles
passageiros que dali a pouco passarão, também eles, por uma sala de embarque.
Naquele caso entrarão na zona de chegadas, tão pouco saberão eles que é de
partidas que nos encontramos neste "barracão" a ensaiar e trabalhar.
Avançamos
para o quinto ensaio, agora com o texto muito mais sabido, quase decorado pelo
coração, as personagens vão crescendo, ganhando força e identidade. Temos, é
certo, ainda um mês pela frente e com isso quer dizer que estaremos com o foco
e a mente concentrados em ensaiar de forma consecutiva e persistente este texto
intitulado “Sala de Embarque”.
“Como deve ser essa fala que relaciona com um
comportamento humano reconhecível? Um ser humano fala para obter aquilo que
ele, ou ela, quer” diz-nos David Ball em “Para Trás e para a Frente” e
acrescenta: “Essa é a chave da linguagem
dramática, uma linguagem bem distinta da linguagem da poesia ou da prosa
escrita não dramática. E é a chave para uma criança ao aprender a falar. As
crianças aprendem as palavras como instrumentos para controlar o meio ambiente –
para obter o que querem. Talvez, a
maturidade nada mais seja do que aprender meios mais eficazes que berros, a fim
de obtermos o que queremos. Quando o bebé grita e fica vermelho, ou quando o
adulto entoa “Eu, por favor, gentil mortal”, ambos querem alguma coisa. Aquilo
que uma personagem quer motiva a fala. Um ser humano pensa em muitas coisas,
jamais expressas. Dentre essas inúmeras em que uma pessoa pensa, ela selecciona o
que quer dizer, de acordo com o que quer. Veja isso de outro modo: se você nada
quer, você nada diz. Nem tudo no drama espelha a vida real, mas a fala sim. Uma
personagem que fala, quer alguma coisa; de contrário, não falaria. Esse
elemento universal da natureza humana é a base de todo o drama.” Eis-nos por isso à procura da
intencionalidade dos gestos, dos movimentos, a construção e interiorização de cada personagem. Conseguiremos? Resta-nos seguir o exemplo de quem faz as coisas bem: ensaiar,
ensaiar, ensaiar…
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