A
cidade é campo aberto para a respiração. Respiramos as ruas, as casas,
os sólidos, corpos e luzes em movimento. Desse exercício diário de aproximação
à existência vemos apenas aquilo que realmente importa, dedicamos especial cuidado
à delicadeza dos gestos e prestamos ainda uma atenção inusitada pelas coisas
que diariamente se repetem. Repetidamente, também nós, por aqui, vivemos e, tal e qual Bresson um dia disse: "Fotografar é colocar na mesma linha a cabeça, o olho e o coração".
A
partir dessa rotina e dos hábitos que se instalam estamos, portanto, preparados
para nos concentrarmos naquilo que muitas vezes nos parece descabido, focados nos
gestos mais banais ou inesperados ou, quem sabe, detidos na permanência insistente dos
traços que julgamos ser comuns. Um distinto louvor à passagem do tempo. Eis, então, que entra aqui o fotógrafo, enquanto conhecedor da urbe e do seu pulsar, narrador
curioso por calcorrear os seus recantos e buscar a vida no interior das ruas e rostos
de personagens conhecidos. A visão do fotógrafo fixa, portanto, cada instante que passa,
obedecendo aos humores das sombras e da luz. À semelhança deste seu olhar, espreitamos também com ele o quotidiano trânsito da ilha em viagem, tornamo-nos cúmplices da sua
paisagem e movimento. Alimentamos o corpo com estas imagens para de novo vibrar
com a existência, afagando e abraçando estes registos enquanto diário visual, reconhecendo
o corpo citadino e as suas indissociáveis figuras. Acompanhar este olhar carece de continuidade, de expressão e reflexão crítica. Contemplemos pois, a repetição dos gestos tal qual a
cidade e os dias que julgamos ser nossos, pois é assim que acreditamos estar vivos. Carlos Olyveira é o fotógrafo dos dias que passam!
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ResponderEliminarQuestiono-me!
ResponderEliminarSão as fotografias que te despertam as palavras ou são as tuas palavras que as descobrem!?
O Doutor Mara interroga-se:pode ser ambas?
ResponderEliminarSe o Doutor Mara se interroga... Quem sou eu para responder!?
ResponderEliminarNo entanto, podemos fazer um exercício conjunto de reflexão... e concluir que sim, que a origem do pensamento pode estar em qualquer uma delas!? E que o que mais importa é o facto de pensarmos sobre a vida e as sensações que o estar vivo nos permite... seja com palavras, fotografias... ou qualquer outra forma de expressão artística!?
Não!?
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