quinta-feira, 6 de abril de 2017

Sobre a Sala de Embarque no Teatro Micaelense

 
(Fotografia de Carlos Olyveira)

         Quatro personagens encontram-se, por razões diversas, numa difusa sala de embarque: um velho em perda mental, uma rapariga sonhadora, um jovem impaciente e uma mulher de meia-idade caída no desemprego. O cenário é simples: no palco, dois bancos de madeira condensam o impasse e as tensões que se vão estabelecer entre o quarteto; no alto, nuvens suspensas, que tanto alimentam sonhos como anunciam tempestades. Nos Açores, os humores atmosféricos acentuam essa ambiguidade. Nunca se sabe o dia de amanhã e, talvez por isso, o final seja em aberto. Ninguém parte de mala vazia, sem as sombras do passado e as interrogações do futuro. Não estamos num momento definido, mas é impossível dissociarmos do nosso tempo mais recente, os anos da Troika, em que nos indicavam uma porta de saída do país, aconselhavam “a abandonar a nossa zona de conforto”, que não “fossemos piegas”. Não sou competente para discutir questões técnicas, representações, textos e ritmos da dramaturgia. Nem se fosse o caso isso teria qualquer interesse para aqui. O que eu quero salientar são a coragem e o empenho de uma equipa alargada não profissional em levar à cena uma reflexão sobre a partida, primeiro, no final do ano passado, na Galeria Arco 8, e, no dia 25 de Março de 2017, no salão nobre da ilha, o Teatro Micaelense. Tal como nas três sessões anteriores, a sala esgotou. Valeu a pena a viagem, a deles e a minha. Ao contrário do que nos acusam, nem sempre gastamos todo o tempo e o dinheiro “em copos e mulheres”.

Paulo Lisboa

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