"C’è la stessa malinconia e la stessa speranza"
Vittorio Lega
quinta-feira, 6 de abril de 2017
Sobre a Sala de Embarque no Teatro Micaelense
(Fotografia de Carlos Olyveira)
Quatro personagens encontram-se,
por razões diversas, numa difusa sala de embarque: um velho em perda mental,
uma rapariga sonhadora, um jovem impaciente e uma mulher de meia-idade caída no
desemprego. O cenário é simples: no palco, dois bancos de madeira condensam o
impasse e as tensões que se vão estabelecer entre o quarteto; no alto, nuvens
suspensas, que tanto alimentam sonhos como anunciam tempestades. Nos Açores, os
humores atmosféricos acentuam essa ambiguidade. Nunca se sabe o dia de amanhã
e, talvez por isso, o final seja em aberto. Ninguém parte de mala vazia, sem as
sombras do passado e as interrogações do futuro. Não estamos num momento
definido, mas é impossível dissociarmos do nosso tempo mais recente, os anos da
Troika, em que nos indicavam uma porta de saída do país, aconselhavam “a
abandonar a nossa zona de conforto”, que não “fossemos piegas”. Não sou
competente para discutir questões técnicas, representações, textos e ritmos da
dramaturgia. Nem se fosse o caso isso teria qualquer interesse para aqui. O que
eu quero salientar são a coragem e o empenho de uma equipa alargada não
profissional em levar à cena uma reflexão sobre a partida, primeiro, no final
do ano passado, na Galeria Arco 8, e, no dia 25 de Março de 2017, no salão
nobre da ilha, o Teatro Micaelense. Tal como nas três sessões anteriores, a
sala esgotou. Valeu a pena a viagem, a deles e a minha. Ao contrário do que nos
acusam, nem sempre gastamos todo o tempo e o dinheiro “em copos e mulheres”.
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