Os domingos de
Lisboa são domingos
Terríveis de
passar — e eu que o diga!
De manhã vais à
missa a S. Domingos
E à tarde
apanhamos alguns pingos
De chuva ou
coçamos a barriga.
As palavras
cruzadas, o cinema ou a apa,
E o dia fecha-se
com um último arroto.
Mais uma hora ou
duas e a noite está
Passada, e
agarrada a mim como uma lapa,
Tu levas-me p′ra a
cama, onde chego já morto.
E então começam as
tuas exigências, as piores!
Quer′s por força
que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de
nós mesmos seremos já senhores?
Estaremos como o
ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim
Zoológico, irracionais, os bichos?
Mas serás tu a
minha «querida esposa»,
Aquela que se me
ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus
beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho
branco que me goza
E deixa-me sonhar
como um prédio em ruína!...
Alexandre O´Neill, in Poesias Completas, 1981.
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