Blanca
Martín Calero estabeleceu-se em São Miguel em 2013. Na edição de 2016 do
PONTES, evento-homenagem em Ponta Delgada ao malogrado produtor, João da Ponte, Blanca publicou um
poema nos "Cadernos de Poesia" intitulado “Cinquenta e Nove”. Foi através deste que Eduardo Brito,
fotógrafo e cineasta, com quem partilha a edição deste livro, se conheceram tal
como tiveram a ideia duma aventura editorial conjunta e consequente lançamento
de “Neste Mar Imóvel”, com a chancela da Araucária Edições (https://araucaria.pt/).“Levaste
a araucária do fundo da rua”, principiava assim o verso desse poema dedicado ao amigo
comum e revelar-se-ia claro o ensejo de Blanca de expandir a sua sensibilidade a
partir do universo das letras. Desde a sua chegada à ilha foram muitas as voltas que a vida deu pois, tal como podemos ver nos títulos do livro, afloramos a presença ou mesmo a ausência da ilha: “Vida
Limitada”, “Ilha e o Desconhecido” ou “O Regresso". Da simbiose entre a escrita de Blanca Calero e a imagem de Eduardo Brito constata-se que as fotografias nascem deste percurso inicial, ainda uma partilha da sua "mirada curiosa" bem como a reflexão que brota dos
interstícios da vivência no espaço insular. E, enquanto se contempla a ilha, comprova-se que esta é um "ninho" em que se entra e sai, ao mesmo tempo que se repara na força incontida das palavras: “O sotaque era grosseiro e rude como deve ser a
verdade”. Ainda que Blanca saiba que se pode estar muito perto de pertencer à ilha, isto é, de fazer parte da sua geografia interior, ainda que ninguém poderá
compreender muitas perguntas que podem continuar sem resposta, algumas deveras
pertinentes: “Pergunto-me se nos podemos tornar ilhéus ou se devemos nascer
numa ilha para o sermos.”, presente em “Ser Ilhéu”. O mesmo será dizer: olhemos para este mar imóvel e sintamos os navios passar.
Sem comentários:
Enviar um comentário