sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Missiva para Janeiro Alves no Mês dos Grilos

Ponta Delgada, quadragésimo segundo dia após o início do Estio Açoriano.

Caro amigo Janeiro Alves,

Escrevo-lhe esta missiva com alguma urgência dado que daqui a instantes tenho que fazer as malas de viagem e ainda aconchegar o estômago com um repasto no Baptista, uma casa de pasto à moda antiga que descobri a semana passada a oito quilómetros do lugar onde durmo. Foi no Batista que provei as melhores asinhas de frango, com muito molho e vinagre, mas, confesso-lhe, o mais importante foi o convívio com outros elementos do Movimento Alarvista. Os Alarvistas são, de facto, imprevisíveis e originalmente fecundos. Imagine só, que um dos seus mais reputados e afamados elementos do Alarvismo, um tal de Alberto Ai, replicou que apesar do seu nome, nunca ninguém o viu desesperado.
Aproveito, assim, para desejar-lhe um Agosto incrível, que seja um oitavo mês repleto de peixe graúdo e fresco, sobretudo bem lá do fundo, com vinho branco das castas Arinto ou Malvasia, sem esquecer a sobremesa de melancias bem rubras e adocicadas. Felizmente, para mim, Agosto é altura de muito trabalho. Este é o mês onde, por norma, labuto 24 sobre 24, já que me espera um batíscafo onde conto fazer um mergulho às fossas marianas. Imagine que fui convidado para visitar as respectivas fossas (há quem jure a pés juntos serem estas minha propriedade) e assim concretizar um mergulho de 11 mil metros de profundidade. Ainda hoje partirei para as Filipinas onde farei os aprestos iniciais após uma década de preparação. O amigo Janeiro Alves poderá constatar que quase não terei muito tempo para respirar (mesmo que eu quisesse lá no fundo, não poderia, já que tenho que suster o pouco ar em disputa). O mergulho é apenas de quatro horas dentro das fossas, no entanto serão precisas muitas horas de treino para ser o quarto a bater mais este recorde.
            E, caro amigo Janeiro, como decorre o Estio? Dentro de uma normalidade esperada ou a debandada geral para o litoral? Nada sei de si de viva voz…mas soube através de uma amiga longa data, que espero não seja das más línguas, que também foi interceptado nas malhas da turistificação ao criar mais um empreendimento dedicado ao alojamento local, em pleno centro histórico da capital. Corre por aqui a notícia que o meu amigo transformou as águas furtadas onde residia numa barbearia tipo gourmet onde vende experiências e sonhos a jovens famosos de todo o planeta que queiram dormir numa cadeira de barbeiro e acordar duas horas mais tarde com a barba feita e o cabelo cortado. Curioso é o nome do empreendimento/barbearia - “AL/FAMA”…caso para dizer que quem fama cria deita-se na barbearia.
                Despeço-me, esperando que Agosto seja fresco e acutilante.
Com estima e descomunal admiração

Doutor Mara

1 comentário:

  1. Prezado Doutor,

    Alberto Ai costuma desesperar apenas quando não sente em cima dele o peso de todos os olharea do mundo em admiração.

    De resto, aconselho o Doutor a levar um bom livro para se entreter na viagem até às Fossas Marianas. Recomendo vivamente uma qualquer edição da "Antologia do Sudoku e Outras Memórias do Infinito".

    Sem mais de momento, deixo-lhe com o mais eufórico ponto no final desta frase.

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