sábado, 30 de setembro de 2023
domingo, 24 de setembro de 2023
quinta-feira, 21 de setembro de 2023
quarta-feira, 20 de setembro de 2023
Elegia Múltipla (III) de Herberto Helder
O orvalho da muita manhã.
Corria de noite, como no meio da alegria,
pelo orvalho parado da noite.
Luzia no orvalho. Levava uma flecha
pelo orvalho dentro, como se estivesse a ser caçado
loucamente
por um caçador de que nada sabia.
E era pelo orvalho dentro.
Brilhava.
assim na morte,
batendo nas ervas extasiadas por uma morte
tão bela.
Porque as ervas têm pálpebras abertas
sobre estas imagens tremendamente puras.
De dia. De noite.
A sua cara batia nas candeias.
Batia nas coisas gerais da manhã
Havia um homem que ia admiravelmente perseguido.
Tomava alegria no pensamento
do orvalho. Corria.
Ouvi dizer que os mortos respiram com luzes transformadas.
Que têm os olhos cegos como sangue.
Este corria assombrado.
Os mortos devem ser puros.
Ouvi dizer que respiram.
Correm pelo orvalho dentro, e depois
estendem-se. Ajudam os vivos.
São doces equivalências, luzes, ideias puras.
Vejo que a morte é como romper uma palavra e passar
através da porta,
para uma nova palavra. E vejo
o mesmo ritmo geral. Como morte e ressurreição
através das portas de outros corpos.
Como uma qualidade ardente de uma coisa para
outra coisa, como os dedos passam fogo
à criação inteira, e o pensamento
pára e escurece
Havia um homem que ficou deitado
com uma flecha na fantasia.
A sua água era antiga. Estava
tão morto que vivia unicamente.
Dentro dele batiam as portas, e ele corria
pelas portas dentro, de dia, de noite.
Passava para todos os corpos.
Como em alegria, batia nos olhos das ervas
Que fixam estas coisa puras.
Renascia.
Herberto Helder (1930-2015),
"A Colher na Boca"
terça-feira, 19 de setembro de 2023
Não São Poemas de Rui Costa
São casas onde os pássaros esperam.
Nas suas janelas coincide o mundo.
Nos seus esteios resvalam gigantes.
Algumas vezes ódio.
Algumas vezes amor.
Não são mortalhas incondicionais do medo.
O HÓSPEDE DA CASA NÂO
TEM O DEVER DE SER FELIZ!
Não são poemas que eu escrevo.
São espelhos onde os rostos principiam.
in A Nuvem Prateada das Pessoas Graves, Quasi Edições, Maio de 2005.
segunda-feira, 18 de setembro de 2023
O Mergulho de Rui Machado
sábado, 16 de setembro de 2023
A Natureza da Ausência*
quinta-feira, 14 de setembro de 2023
quarta-feira, 13 de setembro de 2023
Da Mesma Substância de Rui Lage
racionada farinha da primavera
siderado papel sem tintas de morte
amadurando no amor
(e o amor ciente disso),
isso
que lia como notícias da fome em África
Meia maçã tão só seguiu a lei de Newton
tomou para si a larva outra metade
e cinge a gigante vermelha, num rapto,
o caroço mesmo da branca anã
As fivelas que mastigo
contra o céu da boca,
as espaldas do olhar
esmoendo-se em pó
como se respirasse contra a evidência
de alguém que tropeça
num fio de oxigénio.
in Berçário, Quasi Edições, Maio de 2004.
terça-feira, 12 de setembro de 2023
A Natureza da Ausência*
segunda-feira, 11 de setembro de 2023
Dos Alfarrabistas
A Natureza da Ausência*
sábado, 9 de setembro de 2023
À memória de Stéphane Hessel
sexta-feira, 8 de setembro de 2023
Dormir Vestido de João Luís Barreto Guimarães
todos os dias de cada coisa
que amas ( a vida é um veneno que
só se toma
uma vez). Descansa os olhos no mundo
(a dor
assinala o centro)
há uma flecha em viagem com o nome
de cada um. É como
apanhar boleia no guarda-chuva de alguém
(deves pagar a viagem exigindo
segurá-lo). Ou
como dormir vestido (estar sempre
pronto a partir ) levando
em ti o
que aprendeste na universidade
do interior.
A Natureza da Ausência*
quarta-feira, 6 de setembro de 2023
Elis&Tom de Rodrigo Oliveira
Capa do Disco Elis&Tom Institituto António Carlos Jobim |
A Natureza da Ausência*
segunda-feira, 4 de setembro de 2023
Setembro
Vindimar. Ceifar arroz. Colher amêndoa. Estercar as terras semear no Minguante. No Crescente continuar a semear centeio e cevada. Nos pomares, aquando da última apanha da fruta, dar início à poda e limpeza das árvores. Enxertar (em fenda) cerejeiras, macieiras e pereiras e curar a calda. Na Horta semear, ao ar livre e local definitivo, agrião, cenoura, chicória, feijão, nabo, rabanete, repolho, salsa, em canteiro, acelga, alface, alho-porro, cebola e tomate. Plantar com as primeiras chuvas, os morangueiros, regando até pegarem. Colher feijões e cebolas maiores para semente. No Jardim ir preparando composto e semear amores-perfeitos, begónias, cravos, gipsófilas, margaridas, malmequeres, miosótis, papoilas e as de florescimento primaveril. Plantar bolbos de jacintos, tulipas e narcisos.