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Hoje, às 17 horas. no palco do Teatro Micaelense |
sábado, 18 de novembro de 2017
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
quarta-feira, 15 de novembro de 2017
Uma Missiva Extraordinária de Janeiro com Selo e sem Dinheiro
Magnífico Doutor,
A presente carta reveste-se de um carácter extraordinário e premente, e resulta da minha indisfarçável preocupação com o modelo adoptado para as Conferências da Fajã deste ano. Por este andar, qualquer dia seremos uma espécie de web summit regional, um folclore mediatizado de pseudo-hypster-trendy-dandys engalanados, preocupados com os seus egos, e pouco interessados no pensamento de vanguarda e no bem comum. Qualquer dia, as Conferências da Fajã são patrocinadas pela vodafone ou pela margarina vaqueiro! Como pudemos aqui chegar, Doutor Mara?! Como podemos deitar por terra todo o manancial de reflexão crítica e construtiva para a construção do Séc. XXII futurista e expressionista?! Para que tenha noção do meu estado, tenho o sobrolho a palpitar, de nervoso. Há pouco, tomei um calmante e um copo de Macieira, para ver se não descambo. Perante isto, temos de tomar uma atitude, Doutor Mara! Eis portanto a razão desta carta.
Em primeiro lugar, e porque nem tudo é
mau, queria dar-lhe (pessoalmente) os parabéns pela escolha do Champagne. É
realmente uma selecção cuja dignidade e sofisticação se coaduna com a elevação
do evento. Eu juntaria apenas o famoso Boerl & Kroff Brut, bastante
apreciado quando bebido em cenário natural ou florestal, combinado com leves
odores a maresia. Infelizmente, não posso dar-lhe os parabéns pessoalmente como
desejaria, dada a impossibilidade física e psicológica de me deslocar, pelo que
deixo aqui os meus parabéns por escrito. Apesar de não ser um acto tão efusivo
como seria pessoalmente, onde seria selado com um aperto de bacalhau e algumas
palmadas nas costas, tem a vantagem de ficar registado para a posteridade ou
pelo menos até que estas folhas voem dos seus bolsos para a beleza do
desconhecido.
Sem causar prejuízo na congratulação
antecedente, avanço com a minha severa crítica à escolha dos chefes Gomes de Sá
e Bulhão Pato para conferencistas, pois como é do conhecimento geral, estão presos
ao passado, são conservadores, botas-de-elástico, e contribuem sempre com a
mesma receita para pensar o país, aquela que já apresentaram no passado, e que já
enjoa de tanto enjoar. Relativamente aos restantes conferencistas, por muita
categoria que tenham, vejo muita gente ligada à temática do turismo. E a
consciência Futurista, Doutor Mara? O turismo é apenas um fenómeno passageiro
do nosso tempo. É preciso ver mais além! É preciso gente das ciências ocultas,
da sociologia, da meteorologia, das artes e letras, da indústria têxtil!
Por outro lado, reconheço no Doutor Mara
qualidades para a organização de um evento deste gabarito, mas não vislumbro em
si dotes de “curassário”, esse vocábulo espalhafatoso e sobredimensionado.
Julgo que a Comissão Geral se precipitou ao depositar em si toda esta
responsabilidade. O Doutor Mara precisa de ser assessorado por quem saiba da
matéria. Infelizmente não vou poder ajudá-lo nesta fase, pois estou a tratar da
minha dentição de forma a vir a revelar um sorriso irrepreensível nas sessões
fotográficas das Conferências. Ainda assim, é meu dever dar uma mão a um amigo
de longa data, sobretudo quando mais precisa. É por isso que a seu tempo
enviarei algumas sugestões ao Dr. Costa Martins, da comissão organizadora.
Quero no entanto, e previamente, recolher a sua opinião sobre a ideia que tive
esta manhã, a aplicar já na próxima edição: Proponho que os conferencistas vistam
roupas tradicionais dos seus países, para que os restantes colegas possam fazer
um reconhecimento imediato da sua proveniência, podendo assim preparar
antecipadamente uma abordagem para conversa casual nos coffee breaks, evitando-se desta formas constrangimentos
linguísticos desnecessários. Estou certo que também considerará esta ideia
genial. Fazemos o que podemos, com altruísmo, e por amor à causa.
Por fim, despeço-me do meu caro amigo
com uma triste notícia. Por imposição das elevadíssimas e doutas autoridades
sanitárias desta cidade, deu-se ordem para a extinção imediata do fabrico de
filetes de peixe, com ou sem espinhas, pelo facto de este produto gastronómico
não obedecer à normativa nº 121 do código de qualidade e segurança 3001 da
União Europeia, com efeitos retroactivos e devolução imediata dos produtos
adquiridos nas últimas 3 semanas. Assim, e por ordem daquela autoridade,
solicito-lhe que me devolva os filetes de peixe da última remessa.
Com apreço e consideração
Janeiro Alves
Um Poema de Daniel Gonçalves
Dá-me
o mar, o meu rio, minha calçada,
dá-me
todas essas coisas, que embrulhei
nas cartas, e
aqueci nos beijos, dá-me tudo de
volta, mesmo
riscado e subtraído, sem pilhas
nem escamas,
apenas o pó do silêncio, e o
bolso fundo do
futuro, faz-me falta o musgo da
sombra, que
levaste no presépio da alegria,
dá-me o tempo
das searas, e o pão que devíamos
ter amassado,
na poesia da nossa cama, dá-me a
coleira dos
nossos gatos, para eu prender a
tristeza, e voltar a
rezar, se não levaste também, o
deus que sempre
nos perdoou, as horas no sofá, a
esquecer que
tudo isto, como tudo o resto,
passa e acaba.
Inédito com a Márcia
Joana Gama apresenta "Viagens na Minha Terra" no Teatro Micaelense
No ano passado, Joana Gama trouxe-nos Satie.150, mais a narrativa biográfica do músico francês e o seu quotidiano místico e fantasioso em que a vida deste se confundia com a sua própria obra. É que agora que cai tanta chuva por estas bandas que nos servia tanto aquele legado de guarda-chuvas que Satie deixou no seu apartamento da periferia de Paris.
Desta
vez, Joana Gama apresenta-nos “Viagens na Minha Terra”, um reportório composto
por obras de Fernando Lopes Graça e Amílcar Vasques-Dias. O recital é na
próxima sexta-feira, dia 17 de Novembro, às 21h30, no Teatro Micaelense. O
preço dos bilhetes ronda os 7,5 euros.
168 anos depois...
"Preservado em conhaque, o coração de Chopin revela causa da sua morte."
in Atlântico Expresso, 13 de Novembro de 2017
terça-feira, 14 de novembro de 2017
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
Novembro entrou e o Telegrama para Janeiro quase voou
Caro
Janeiro Alves,
Estamos de novo nas primeiras páginas dos jornais e nas bocas do mundo e não se fala de mais nada a não ser nos preparos e organização das Conferências da Fajã. Apesar das divergências que temos tido nas nossas mais recentes trocas epistolares, espero, muito sinceramente, poder contar consigo e com a sua inteligência para mais uma intervenção de alcance futurista.
Sobre
a sua última missiva, apraz-me registar que o meu caro amigo abordou de forma
subtil a minha vida folgada, afirmando mesmo que esta é sustentada com um bom pé-de-meia
que recebi de espólio familiar. Quais são as suas fontes? Já agora, o que é que tem a ver com isso? Quer arranjar o seu fato preto? E quer comprar
um ventilador de ideias em segunda mão? E se mexesse esse seu rico corpinho?
Espalhe a sua sapiência e teorias futuristas por novos contextos sociais e
mercados… é que já não me chegava a sua mania recente de me enviar filetes de
peixe sem espinhas!? No sentido de sossegá-lo, afianço-lhe também que me encontro seguro e que não fui transportado por nenhuma onda.
Certo, certo é que este é um dos momentos mais aguardados do ano. Caso possa, agarre-se à cadeira de Luis XIII em que está sentado, dê lustro ao carvalho francês maciço do Séc. XIX, pois tenho a comunicar-lhe que fui nomeado o principal e eterno Curassário (uma mistura de Curador com Comissário) das Conferências da Fajã. Surpresa??? De súbito, comecei a receber todo o tipo de propostas para prelecções irreais, discursos anómalos, intervenções atípicas e manifestos utópicos. Sei também que tem trabalhado noite e dia, medido e pesado o teor e conteúdo da sua intervenção, muito embora a atenção dada ao seu cágado de estimação. Conto, por isso, nos próximos dias enviar-lhe o magnífico programa em papel couché "brilho" pelos correios com textos e fotografias de todos os palestrantes, conferencistas, manifestos e pausas para champanhe que temos agendadas.
Certo, certo é que este é um dos momentos mais aguardados do ano. Caso possa, agarre-se à cadeira de Luis XIII em que está sentado, dê lustro ao carvalho francês maciço do Séc. XIX, pois tenho a comunicar-lhe que fui nomeado o principal e eterno Curassário (uma mistura de Curador com Comissário) das Conferências da Fajã. Surpresa??? De súbito, comecei a receber todo o tipo de propostas para prelecções irreais, discursos anómalos, intervenções atípicas e manifestos utópicos. Sei também que tem trabalhado noite e dia, medido e pesado o teor e conteúdo da sua intervenção, muito embora a atenção dada ao seu cágado de estimação. Conto, por isso, nos próximos dias enviar-lhe o magnífico programa em papel couché "brilho" pelos correios com textos e fotografias de todos os palestrantes, conferencistas, manifestos e pausas para champanhe que temos agendadas.
Despeço-me com um abraço líquido a condizer com a estação, bem como os augúrios
de bom trabalho,
seu amigo eterno,
Doutor Mara
domingo, 12 de novembro de 2017
De Raul Brandão
"O que eu procuro, pela primeira vez na minha vida, não é o panorama - é a exaltação da vida livre."
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
terça-feira, 7 de novembro de 2017
Señoritas: Canções Dolentes ou Fábulas Urbanas?
“Disse-lhe que Portugal ainda tinha muitos
comunistas
mas o que ele queria saber era onde havia señoritas
que o levassem a dar uma volta.”
in A Naifa, disco “3 minutos antes da maré encher”, poema de Tiago Gomes.
A
Galeria Arco 8 há muito tinha anunciado
para o início de Novembro o concerto das Señoritas. Cumpriu-se a vontade e o motivo foi a
apresentação do álbum "Acho que é meu dever não gostar", o mais
recente projecto de Mitó Mendes e Sandra Baptista, cujo disco já tinha sido
estreado em Setembro do ano passado. Conviria recordar que o projecto “A Naifa”, banda anterior do
duo em questão e com impressão de Luís Varatojo, foi presença assídua em vários
palcos do arquipélago, tendo existido mesmo um concerto mítico, à semelhança
daquele dado no Teatro Faialense, em Maio de 2012, à altura carregado de grande simbolismo, pois tratar-se-ia do
primeiro concerto sem a presença do malogrado João Aguardela.
Na noite
de sábado, o público no Arco 8 foi maioritariamente feminino. As Señoritas despontaram em palco com a força e a segurança de quem
gosta muito daquilo que faz pois, segundo elas, continuam a ser livres de
gostar ou não. Mitó Mendes canta e toca guitarra, Sandra Batista toca acordeão
e baixo eléctrico e ambas socorrem-se dum 'leque' de programações que permite
intensificar e preencher as 12 canções do seu álbum debutante.
As
letras de Sandra Baptista são directas, com versos simples
e crus, a roçar emoções ferozes e com refrões disparados em revolta constante.
Depois da abertura com a canção que dá título ao álbum, o foco recai em “7
Pragas” e remete a audiência para um ambiente peculiar. Há, sem qualquer
dúvida, uma sensação de estranheza perante o arrojo minimal e que é traduzido
neste casamento entre um olhar português do século XXI com aquilo que se pode
chamar de pensamento urbano-feminista. A descontracção das duas em palco é bem
visível nas canções como “Mão Armada”, um tema sobre a tensão pós-menstrual, ou
“Nova”, que reflecte sobre quem recusa o envelhecimento, chegando mesmo a ouvir-se
um coro de gente a cantar em uníssono: “viver
bem/ sempre nova/ com os pés prá cova”. Pelo meio escutam-se outras
variações ou fábulas urbanas e eis que intuímos a religião impregnada de culpa
e de pecado em “Confesso” e “Confissão” - onde escutamos vozes gravadas em oração.
Há também um lado sombrio em marcha fúnebre quando se repete até à exaustão -
"Os funerais são os casamentos dos mortos", com uma letra a remeter
para uma existência dolorosa. Menos sombrias e com cadências ligeiras e soltas ouvimos a abordagem ao torpor dos órgãos em “Ciática” ou o regresso à infância com "Alice". A ousada proposta musical
parecia ter chegado ao fim mas a dupla, entusiasmada, sentia-se em casa.
Por
último, as senõritas regressaram ao palco para tocar os dois últimos temas,
despedindo-se com uma versão por elas tão bem conhecida – “Amanhã”- dos Sitiados, canção que nos elucida sobre uma vida sem conflito a que não podemos deixar de fazer frente:
“Alguém morre nos braços do mar/ alguém morre sem acreditar”. A verdade é que
ainda havia muito para dançar e desfrutar com o anunciado DJ Fellini,
certamente não o extraordinário realizador italiano, ainda que por
instantes pensássemos ter estado na cidade das mulheres.
segunda-feira, 6 de novembro de 2017
...
Naquele porto os metalómanos barcos
esmagam a paisagem
de energia brutal, parada.
Num barco soviético
o marinheiro põe o punho a meio gás
como o comunismo enjeitado na sua terra.
Disse-lhe que Portugal ainda tinha muitos comunistas
mas o que ele queria saber era onde havia señoritas
que o levassem a dar uma volta.
Tiago Gomes
esmagam a paisagem
de energia brutal, parada.
Num barco soviético
o marinheiro põe o punho a meio gás
como o comunismo enjeitado na sua terra.
Disse-lhe que Portugal ainda tinha muitos comunistas
mas o que ele queria saber era onde havia señoritas
que o levassem a dar uma volta.
Tiago Gomes
domingo, 5 de novembro de 2017
Os Domingos de Lisboa
Os domingos de
Lisboa são domingos
Terríveis de
passar — e eu que o diga!
De manhã vais à
missa a S. Domingos
E à tarde
apanhamos alguns pingos
De chuva ou
coçamos a barriga.
As palavras
cruzadas, o cinema ou a apa,
E o dia fecha-se
com um último arroto.
Mais uma hora ou
duas e a noite está
Passada, e
agarrada a mim como uma lapa,
Tu levas-me p′ra a
cama, onde chego já morto.
E então começam as
tuas exigências, as piores!
Quer′s por força
que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de
nós mesmos seremos já senhores?
Estaremos como o
ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim
Zoológico, irracionais, os bichos?
Mas serás tu a
minha «querida esposa»,
Aquela que se me
ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus
beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho
branco que me goza
E deixa-me sonhar
como um prédio em ruína!...
Alexandre O´Neill, in Poesias Completas, 1981.
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