Fotografia de Eduardo Brito |
terça-feira, 27 de maio de 2014
sábado, 24 de maio de 2014
[JÁ NÃO ESCREVO POESIA]
Uma coisa
aterradora aconteceu na minha vida
já não escrevo poesia
Agora é só água fresca pela manhã
e um dente de alho à tardinha
À noite passeio vinis riscados
pelas
íngremes ruas da cidade.
Pois, não vá alguém perguntar:
-Desculpe, como é que se sente?
já não escrevo poesia
Agora é só água fresca pela manhã
e um dente de alho à tardinha
À noite passeio vinis riscados
Pois, não vá alguém perguntar:
-Desculpe, como é que se sente?
Ontem escrito numa parede da cidade...
"Só consigo beijar-te em ilhas, ali o tempo demora a passar".
sexta-feira, 23 de maio de 2014
"Alentejo, Alentejo" de Sérgio Tréfaut
“Alentejo, Alentejo” foi o nome
escolhido pelo Sérgio Tréfaut para o seu mais recente documentário, desta feita
sobre o cante alentejano e que acabou de conquistar, na categoria de películas
nacionais, a edição deste ano o festival internacional de cinema independente
IndieLisboa. Sérgio Tréfaut filma homens e mulheres, curtos e grossos, pequenos e grandes, crianças
e velhos, essencialmente todos aqueles que se dão à experiência do cante
alentejano e o mantém vivo. Daí este aproximar a câmara aos cantores alentejanos
e deixá-los fazer aquilo que estes mais gostam de fazer quando estão juntos:
cantar, comer açorda e beber o vinho que produzem. “Alentejo, Alentejo” é,
pois, um monumento ao cante antes deste
virar património mundial. Rica alma a deste gente, julgamos ainda ser possível apelidar de povo, e que se expressa no cantar e no
gosto de o fazer publicamente em qualquer lugar, sendo actualmente uma das maiores fontes
de vitalidade e afirmação cultural daquela região. Ergamos um copo e ouçamo-los cantar bem como agradecer à Burra de Milho por esta extensão à Ilha Terceira.
sexta-feira, 16 de maio de 2014
Fim de Semana
Estirado na
areia, a olhar o azul,
do que houve que esburgar para limpar o osso,
do que houve que descer para alcançar o céu,
já não digo esse de Vossa Reverência,
mas este onde estou, de azul e areia,
para onde, aos milhares, nos abalançamos,
como quem, às pressas, o corpo semeia.
Alexandre O´Neill, Poesias Completas, 1951/1981, Biblioteca de Autores Portugueses,Imprensa Nacional Casa da Moeda.
ainda me
treme o parvalhão do corpo,
do que houve
que fazer para ganhar o nosso,do que houve que esburgar para limpar o osso,
do que houve que descer para alcançar o céu,
já não digo esse de Vossa Reverência,
mas este onde estou, de azul e areia,
para onde, aos milhares, nos abalançamos,
como quem, às pressas, o corpo semeia.
Alexandre O´Neill, Poesias Completas, 1951/1981, Biblioteca de Autores Portugueses,Imprensa Nacional Casa da Moeda.
quinta-feira, 15 de maio de 2014
sábado, 10 de maio de 2014
Amor como em Casa
Regresso
devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde".
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde".
sexta-feira, 9 de maio de 2014
Europa.
Duas décadas
depois de ter feito Erasmus na cidade grega de Salónica, regressam agora as
eleições europeias. Hoje, dia da Europa, é verdade que muitos de nós continuamos sem saber
muito bem o que é exactamente a União Europeia.
Naquela
altura, vivia-se um período de desafogo e euforia económica e a Grécia, o berço
da civilização, permitia corroborar que a Europa enquanto conjugação de várias
culturas era per si uma construção
frágil. Não é fácil, por mais que se queira, juntar italianos com suecos,
portugueses com alemães, espanhóis com holandeses, ainda por cima tripulantes da
mesma galera e que a viagem corra às mil maravilhas. No entanto, é possível com
algum sonho e utopia construir uma ideal de democracia que nos permita sair do
ancestral estado bélico e da contínua atracção pela barbárie, bem como montar a
paz por muito tempo e ainda que possamos alargar o campo de possibilidades de
uma sociedade mais justa, democrática e solidária.
Algum tempo depois desse ideal sonhado não há presentemente
muito para celebrar. O desemprego é a face da moeda mais
visível desse desencontro e o medo de viver em democracia
tornou-se uma realidade das sociedades contemporâneas, a acrescentar à contínua anulação
das diferenças e formas de estar de países com fraco poder económico. É tempo, portanto, para evocar a experiência Erasmus e
essa utopia da união das diferenças e de aceitação pelo ritmo e cultura de cada
comunidade e país. Foi assim uma experiência única e vivida de forma intensa e
que foi muito além das trocas universitárias e do programa de estudos aí
existente. Talvez por isso, aprenderam-se línguas, viajou-se bastante dentro e fora do
país em que se esteve, conheceram-se os hábitos e os gostos alimentares de um país
diferente do nosso, contactou-se com a história e a cultura de um outro país bem como
se fizeram amigos e conhecimentos que perdurarão ao longo da vida. Uma coisa
é possível garantir: o melhor da União Europeia passou por aquele
projecto em construção e pela sua ideia de miragem sem grandes imposições. O Erasmus era a união das
diferenças e não o domínio e a imposição de uns sobre outros. Ainda restam dúvidas sobre isso?
As Nuvens, as Nuvens...
Fotografia: FN |
Não sabemos nunca o que dizer
sobre nuvens. Há quem já tenha escrito que as Nuvens Não Precisam de Almofadas.
Gostamos delas quando se mexem, quando se agitam, quando brincam no céu como
crianças no recreio. Gostamos menos quando ficam paradas, quando se instalam,
quando zangadas para nós olham sem saber o que dizer. Muito cinzentas sabemos
que mais cedo ou mais tarde irão chorar. A maior parte das vezes somos
impacientes com elas, rogamos-lhes pragas, fazemos preces para que passem e nem
sempre sabemos o que fazer com elas em dias felizes, a não ser que procuremos
nas gavetas poemas que não sabemos muito que direcção, rumo ou orientação lhes
dar, certamente depois de descobrirmos que afinal o seu instrumento de medição de velocidade e destino já ter sido inventado há muito, muito tempo: “Na rua do inventor do Nefoscópio/ incide
amplo e plúmbeo amplexo/ pesadas nuvens em inusitado branco/ luz rala em cinzento desfeita/ frenética oposição à
precisão/ arremessar a manhã ao sol de Maio/ devolvendo o algodão à superfície/"
sexta-feira, 2 de maio de 2014
Subscrever:
Mensagens (Atom)