sábado, 25 de janeiro de 2020

O Mar dos Meus Olhos

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma

E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma

Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Mar, a Última Fronteira


Com Mar, a Última Fronteira o objetivo era “surpreender os portugueses”. “Fazer o primeiro grande projecto sobre a nossa vida marinha. Filmar todos os sítios mais remotos que fossem. A costa continental portuguesa inteira, sete das nove ilhas dos Açores, o arquipélago inteiro da Madeira.” A ideia – mais ou menos a mesma que leva a dizer que “as pessoas protegem o que amam” – era “deixar os portugueses orgulhosos por termos esta vida marinha – por ainda termos vida marinha. Claro que é um projecto de conservação. Não queremos seja catastrófico e negativo. Queríamos que os portugueses se interessassem pela vida marinha e se preocupassem em conservá-la. O formato? Mais Cousteau que David Attenborough, menos locução de imagens captadas e mais aventura e reacções  em tempo real (obrigado full face mask, debaixo de água que transporta os espectadores para o fundo do mar). “Torna tudo mais espontâneo. As pessoas sentem que estão debaixo de água connosco. Se acontece o imprevisto, elas acompanham as sensações e emoções. As pessoas passam pelas aventuras connosco. Se há um problema e somos atacados por um peixe-porco, elas vivem isso.”

Nuno Sá em entrevista a Luís Octávio Costa, Suplemento "Fugas", Público, 11 de Janeiro de  2020.

Federico Fellini: 100 anos!

Cartaz de "A Voz da Lua"
(Fundação Federico Fellini)

Esculturas e Desenhos de Agnes Juten


domingo, 19 de janeiro de 2020

Um Verso de Dan Bejar

The night sky above used to mean anything

Da Genialidade

            "Soube que era um génio quando comecei a encontrar o romance nas montras das livrarias; quando o retrato principiou a aparecer no jornais; quando dei a primeira entrevista à televisão. Consciente da minha celebridade e do meu talento pareceu-me injusto não sair para a rua a pé, em carro descoberto, cercado por guarda-costas de óculos ray-ban, a mostrar-me e a abençoar."

António Lobo Antunes, in Algumas Crónicas, Publicações Dom Quixote.

sábado, 18 de janeiro de 2020

Sara Cruz e Romeu Bairos no Teatro Micaelense


             
         Ontem, dia 17 de Janeiro, estiveram no palco do Teatro Micaelense os músicos Sara Cruz e Romeu Bairos, num espectáculo intitulado Dentro da Caixa. Sara Cruz teve honras de abertura, cabendo a si a tarefa de aquecer a audiência com os temas do seu trabalho “Above our Heads”. 
      Sozinha em palco, apresentou temas antigos e outros originais, evidenciando grande confiança e sagacidade, interessada que estava em proporcionar uma noite recheada de canções orelhudas, melodias povoadas de histórias de amores, perdas de aviões e outros desamores, pontuadas aqui pela sua voz segura, leveza e graciosidade em crescendo. Depois, seguiu-se Romeu Bairos que encantou o público presente ao cantar os temas do seu EP - “Cavalo Dado”, editado em 2019, e, claro, dando voz a temas de Zeca Afonso – “Cantigas de Maio” ou Francisco José com “A Rosinha dos Limões”. Acompanhado pelo músico jorgense, Paulo Borges, umas vezes ao acordeão outras num pequeno piano digital, Romeu Bairos foi certeiro na intensidade dos temas do seu debutante disco, agarrando o público com pequenas histórias e desvarios nos momentos iniciais das canções, para lá do momento “poético” em que convidou João Malaquias, para com ele cantar repetir os versos de “Quantas Asas tem o Vento do teu Nome”, letra pertencente ao escritor micaelense, Leonardo Sousa. O concerto fechou tal como começou, com este eufórico a cantar "Meu Amigo Anda Sozinho", mas com a certeza absoluta de que saímos todos muito bem acompanhados. 

Poemas de Virgínia Dias

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

domingo, 12 de janeiro de 2020

Ver Cinema a Norte


Tempo de interioridade, estação do frio e do recolhimento, espaço de encontro com as artes visuais. Cineclubismo em alta, condições renovadas e aprimoradas da sala do Cineteatro Garret – Póvoa de Varzim - para desfrutar da sétima arte, partilha e pluralidade de visões do mundo bem como diferentes cinematografias. A começar, o filme “Parasitas”, de Bong Joon-Ho, uma película aclamada com a Palma de Ouro no último Festival de Cannes, reconhecida com as melhores críticas da especialidade. Um filme que mistura diferentes géneros, ao mesmo tempo que centra a sua ação no interior de uma casa arquitetonicamente preparada para o efeito e no confronto “classista” entre duas famílias. Repleto de humor, imaginação e ironia sobre o “elevador social” coreano, “Parasitas” é um filme que agarra o espectador, provocando emoções díspares sobre o comportamento humano em diferentes situações. Chega a ser confrangedor e motivo de vergonha alheia o momento em que, aproveitando-se a ausência dos proprietários da casa, a família de vigaristas se reúne para celebrar o golpe e desvendar as motivações rasteiras que estiveram na origem daquele ajuntamento.
Ali mesmo ao lado, na segunda maior cidade deste pequeno país, onde já se viveram outras histórias e memórias, relembre-se que o Cinema Trindade, no Porto, é sala com mais de um século, continue, por isso, com nova dinâmica, atrai agora um leque alargado de amantes do cinema, sendo já novo pólo de encontro e curiosos interessados nos diferentes géneros da sétima arte. A quarta vida renascida deste espaço deve-se a Américo Santos, fundador da Nitrato Filmes, empenhado que está em dar cinema quatro vezes por semana aos portuenses e seus visitantes. O primeiro filme a ser visto foi “Rapariga Fácil”, de Rebeca Zlotowski, um drama em jeito de comédia, procurando nesse cenário estival, Cannes, sul de França, a leveza e diversão em tornos desses anos voluptuosos e sensoriais do período juvenil. A câmara acompanha duas jovens Naima e Sofia em plenas férias, as noites quentes de verão, o glamour e a luxúria das marinas. No final, a sabedoria pertence obviamente a Sofia. Surpreendente é o filme “Clara e Claire”, de Safy Nebbou, numa adaptação do romance de Camille Laurens. Uma película densa que, apesar do tom palavroso ou mesmo de grande pendor descritivo, recupera o gosto pela celebração da arte da representação, a diversidade das emoções humanas e das expressões faciais, denotando também um especial gosto pela duplicidade e exploração da “persona”, aqui expresso na personagem interpretada pela actriz multifacetada – Juliette Binoche. A actriz francesa interpreta aqui Claire, uma professora universitária, de meia idade, recém-divorciada, que inventa um perfil no Facebook, vivendo assim uma outra vida, jogando aí outra existência, virtual e arriscada.Um filme que é, per si, uma belíssima homenagem à actriz francesa, que nos continua a seduzir e agarrar  desde o princípio até ao final da narrativa, por sinal, muito bem engendrada. 

sábado, 11 de janeiro de 2020

Não Pai de Daniel Blaufuks






Daniel Blaufuks escreveu mais um livro na primeira pessoa. Trata-se de um pequeno "passaporte biográfico e existencial" que tem a particularidade de falar da sua memória familiar, do seu passado e, sobretudo, de relações filiais. Este livro é sobre uma falha, uma falta dolorosa e inesperada, um abandono inominável, temas tão caros à melancolia, e, mesmo assim, a vida continua. Belo!

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Uma Missiva Janeirinha para Janeiro Alves

Insigne Janeiro Alves,

Acolhi a sua carta de fim de ano enrolado em cobertores e fui lendo as suas sentenças e narrativas com o eflúvio das derradeiras brasas espargidas na salamandra. O meu amigo Janeiro com a sua missiva à laia de 31 fez jus ao número e à atitude, confirmando com este seu gesto o que já é uma longa tradição de décadas. Só não percebo, ainda que tenha feito mesmo um grande esforço, quem lhe possa ter dito que eu fui cantando aqui e ali pequenos trechos do Gingle Bells, quando na verdade interpretei (em plena avenida de Santa Catarina) trechos intermináveis da Carmina Burana, do germânico Carl Orff. Que sucesso retumbante!
Comunico-lhe, assim, que visitei durante alguns dias da quadra festiva uma estação termal de São Pedro do Sul onde realizei banhos quentes, desta feita mergulhei em tanques de vinho e chocolate muito quente, sempre a temperaturas simpáticas e bem agradáveis, a contrastar com o gelo que fazia cá fora. Apesar do gosto pela familiaridade e das corridas colectivas ao consumo propício da quadra, passei, entretanto, jornadas de felicidade pura instalado nesses tanques aromáticos ou então no recato da minha habitação rodeado de livros de poesia obscura, muita música dita alternativa e um conjunto de filmes marginais. Sim, tudo isto foi o bastante para me ocupar e afastar das compras e presentes natalícios. Por sorte, encontrei por lá a amiga e curadora, a estoniana de origem francesa, a Annemarie Ripsmed, com quem partilhei chá verde e uma caixa de queijadinhas da Ilha Graciosa.
Mencionado este pequeno lembrete, e porque o ano já vai com algum gás, relembro-lhe que agora estou já acomodado no meio do atlântico a recolher material para mais uma obra ensaística e, quem sabe, um romance sobre a natureza das relações humanas. Não gostaria de terminar esta carta sem lhe dizer que não me recordo de alguma vez me ter emprestado cem euros. De qualquer modo, guardei o seu nib para o caso de me sair alguns trocos na raspadinha diária que realizo no snack-bar do meu bairro. Sei que o amigo Janeiro aprecia uma boa esmola despreocupada. 
Digo-lhe adeus como se estivesse fascinado por gladíolos ou impressionado pelo voo secreto das mariposas, augurando ao amigo Janeiro um novo ano muito diferente do anterior, sabendo que só poderei voltar a ouvi-lo em Fevereiro, o que muito me encanta.   

Obediências e cotejos deste seu amigo que não o esquece,

Doutor Mara