três araucárias apenas
e ele de frente
Constrói a tua casa, mas de pedra,
e os alicerces que tenham
o fundamento que em ti achaste.
As madeiras sejam das mais duras
e secas como os antigos sabiam
que se secam as madeiras de obra.
Não deixes nada ao descuido
dos que não vão habitá-la,
nada à pressa desses
que sem amor constroem.
Cada janela, cada porta,
cada quarto e os corredores
no espaço certo: tudo
tão certo e próprio como depois
não te sentires nunca estranho
na casa que construíste.
E não é necessário que seja
uma casa grande. Seja
apenas a tua casa, medida
pelo tamanho de a habitares
como habitas o teu corpo:
uma casa que respire
e se alegre ou entristeça
como tu respiras, como
sabes rir, ou como
te entristeças. Uma casa
verdadeiramente a tua casa,
que construíste e sobreviva
a todas as tuas mortes.
Fotografia de Carlos Melo |
José Carlos Barros, in Ipsílon, sexta-feira, 20 de Maio de 2022
“Que força é essa?”, perguntava Sérgio Godinho na canção que abria o seu primeiro LP, Os Sobreviventes. O álbum foi gravado em abril de 1971, numa vivenda nos arredores de Paris, curiosamente no mesmo estúdio onde, também nesse ano, foram gravados Cantigas do Maio, de José Afonso, e Mudam-se os tempo, mudam-se as vontades, de José Mário Branco."
Miguel Cardina in FALTA#4, edição de Maio de 2022.
Esta FALTA#4 conta com os contributos literários e artísticos de autores de várias geografias e de áreas artísticas bem diferentes. Há, portanto, muito para ver e ler em 74 páginas numa edição de 250 exemplares.
in Um dia tudo isto será meu (uma antologia), elogio da sombra, Porto Editora, Setembro de 2019.
"Era decerto condão das flores - mas também de Maio que chegou, com a sua magia e o seu sonho. Rebentaram novas fontes, e a terra dila-eis agitada e viva. Sob o chão que calcamos correm rios de tintas que transbordam e cobrem as árvores de roxo, púrpura, de verde."
in "A Pedra ainda espera dar Flor", Organização de Vasco Rosa, Quetzal edições, (Brasil-Portugal, Lisboa, 16 de Maio de 1901, pp.125.26. Tb.in Vimaranense, Guimarães, 5 de Maio de 1917, p.1).
"Todos somos uma espécie de teatro, e quando escrevemos, ainda mais. A escrita para o outro é abraçar isso, conscientemente. A escrita para nós é fingir que isso não existe. Mas agora, em vez de acreditar na pureza, tento dizer algo de genuíno por outro caminho. Quando pomos uma máscara, o nosso corpo mexe-se de forma diferente. Somos impelidos a inventar ou imitar uma personagem. Nós estamos nessa invenção, que é uma faceta do que somos."
Rodrigo Amarante entrevistado por Lia Pereira, Revista Expresso, 14 de Abril de 2022.