"Os
Pescadores, de Raul Brandão, fresco literário publicado em 1921, ainda hoje
constitui a etnografia mais conhecida sobre a pesca e os pescadores. É rara a
sessão pública sobre estes temas onde uma bela frase do escritor não sirva de
epígrafe a exaltações pitorescas ou grandiloquentes sobre as pescarias de Portugal.
Nascido na Foz do Douro, em 1867, acostumado às lides e tragédias do mar, quando terminou a carreira militar Raul Brandão dedicou-se ao jornalismo e à literatura. Num tempo de transição para um mundo novo, de acentuada industrialização das pescas, Os Pescadores são uma prosa impressionista de múltiplos sentidos, menos literária do que parece. Assente na observação directa da paisagem litoral, a narrativa consiste numa visita guiada pelas praias e enseadas de pesca do litoral português. Com mestria literária e alguns arroubos mitificadores, o escritor realça a diversidade de uma paisagem geográfica e humana ameaçada de corrosão. As tensões entre uma pesca industrial em expansão e as velhas pescarias artesanais perpassam nos textos do escritor andarilho. As consciências dos desmandos pelas artes de embarcações depredatórias agudizam a concorrência em tempos de crise do abastecimento. Por isso, durante a República o Estado aperta os regulamentos que restringem os arrastos. Já em 1928, é proibido o registo de propriedade de novos galeões e traineiras que usassem redes de cercar para bordo e interdita-se qualquer alteração dos existentes."
Nascido na Foz do Douro, em 1867, acostumado às lides e tragédias do mar, quando terminou a carreira militar Raul Brandão dedicou-se ao jornalismo e à literatura. Num tempo de transição para um mundo novo, de acentuada industrialização das pescas, Os Pescadores são uma prosa impressionista de múltiplos sentidos, menos literária do que parece. Assente na observação directa da paisagem litoral, a narrativa consiste numa visita guiada pelas praias e enseadas de pesca do litoral português. Com mestria literária e alguns arroubos mitificadores, o escritor realça a diversidade de uma paisagem geográfica e humana ameaçada de corrosão. As tensões entre uma pesca industrial em expansão e as velhas pescarias artesanais perpassam nos textos do escritor andarilho. As consciências dos desmandos pelas artes de embarcações depredatórias agudizam a concorrência em tempos de crise do abastecimento. Por isso, durante a República o Estado aperta os regulamentos que restringem os arrastos. Já em 1928, é proibido o registo de propriedade de novos galeões e traineiras que usassem redes de cercar para bordo e interdita-se qualquer alteração dos existentes."
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