sábado, 31 de dezembro de 2022

2023: Muda que Muda!

         O ano de 2022 está a chegar ao fim e, com ele, permanecerão coisas boas, bem como outras más que se perlongarão no tempo, mas agora com outra roupagem. Felizes estávamos quando pensámos ter saído do pesadelo pandémico, com a ajuda das vacinas e a queda das máscaras, mas foi sol de pouca dura. Não tardou e logo entramos numa guerra em solo europeu. É sempre assim, o progresso humano não pode ser considerado linear.
 2023 vai entrar de mansinho e nós continuaremos por aqui, certamente, com a mesma energia ou à procura dela. Poderia ter sido um ano inesquecível e, no entanto, à semelhança de todos os outros anos, as guerras, a fome, o desperdício e o desequilíbrio humano seguem de forma indelével. Até quando?
   Na verdade, há sempre pouca coisa que muda, sendo necessário destrinçar o essencial do supérfluo, ainda que seja indispensável que continuem a existir a força das canções de Nick Cave, a firmeza do timbre de Cátia Mazari Oliveira, a profundidade de Adrianne Lenker, a dolência de Rita Costa Medeiros ou a melancolia de Maria Carolina e Hillary Woods. De volta esteve também a voz delicada de Anna Jarvinen. E, como seria que o novo ano trouxesse de volta a dupla Medeiros/Lucas com uma mão cheia de canções. Continuando pelo lado dos ouvidos, cada vez mais o palco como atenção e o prazer da escuta, 
a música ao vivo - Sessa  e Rodrigo Amarante, dois príncipes da palavra,  encheram de corpo e alma a edição do presente ano do Tremor!
         Depois, que se continue a ler e reler por aqui a poesia de Alexandre O´Neill, Sophia de Melo Breyner, Ruy Belo, João Habitualmente, Emanuel Félix ou Herberto Helder. Para lá da poesia, há também os ensaios de Theodore Kalifatides e Mário Augusto sobre a condição de emigrante num presente de muros e fechamentos. E que não se esqueçam os livros de Alberto Manguel, deliciosos de ler, interpretação das narrativas do mundo, quando é o prazer inicial da leitura que se renova, ou ainda a curiosidade em mergulhar nos textos e livros de memórias do Jorge Silva Melo, personalidade do teatro que nos deixou recentemente. Foi também o ano em que o cinema andou menos pelo  ecrã do computador ou na televisão. Recorde-se, por isso, o documentário “Lúcia e Conceição”, de Fernando Matos Silva, no Centro de Artes Contemporâneas – Arquipélago, "Les Açores des Madredeus" e “No País de Alice” de Rob Rombout e Rui Simões respectivamente, na Sala 2 do Teatro Ribeiragrandense, através do Clube de Cinema da Ribeira Grande. Por último, “Lobo e Cão”, longa-metragem da Cláudia Varejão no Cinema Trindade, que é uma belíssima expressão do vital e do diverso, devolvendo à ínsula  o sonho e o fascínio humano. 
            Por fim, a memória de uma visita maravilhosa ao jardim do Palácio Palácio de Sant´Ana, onde me foi dado a conhecer as suas árvores frondosas e vistosas, num passeio rico pela diversidade dos elemento vegetais e florais que remontam à herança de oitocentos, num percurso em que se avistam araucárias, yucas, melaleucas e dragoeiros, para além de um metrosídero que conta com 170 anos de idade oriundo da Nova Zelândia. Tudo o resto é do domínio do indizível. Um feliz 2023!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

O Teu Nome de Alexandre O´Neill

Flor de acaso ou ave deslumbrante
Palavra tremendo nas redes da poesia
O teu nome, como o destino, chega,
O teu nome, meu amor, o teu nome nascendo
De todas as cores do dia!
(19-12-1924 - 21-08-1986) 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Arte de Viver

 Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver.
Bertolt Brecht 

domingo, 25 de dezembro de 2022

Cineclube Octopus: Uma Bela Manhã

      Pascal Greggory e Léa Seydoux entregam-se a esta “Bela Manhã” e quem ganha são espectadores deste novo filme Mia Hansen-Løve. Assistimos ao drama da degenerescência de Georg Kienzler, antigo professor de Filosofia, que vai perdendo a sua autonomia pessoal à conta do síndrome de Benson. As filhas Sandra e Elodie julgam ter chegado o momento de internar o pai num lar de idosos mas o lugar escolhido torna-se uma impossibilidade, à semelhança do romance de Sandra com Clément.
      Um filme outonal que nos devolve o gosto de ver actores comprometidos com a fragilidade do corpo e dos sentimentos. Mia Hansen-Løve filma Léa Seydoux com grande sensibilidade e, por isso, esta tem aqui um papel de grande contenção e envergadura física.

domingo, 18 de dezembro de 2022

Da Queda

 
"Todos esses livros mal lidos, esses amigos mal amados, essas cidades mal visitadas, essas mulheres mal possuídas. Eu fazia gestos por enfado ou distracção. Os seres vinham logo atrás, queriam agarrar-se, mas não havia nada, e era a infelicidade. Para eles. Porque, quanto a mim, eu esquecia. Nunca me lembrei senão de mim mesmo."
Albert Camus, A Queda. 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Jardim da Parada: César e Reis Juntos!

           “Estes textos, que se tornaram “objecto” graças à perícia do Luís Henriques e do Pedro Santos, foram escritos durante a ressaca amena de uma dessas feiras do livro. Partem de situações e de pessoas concretas, denunciam graças e misérias que não serão exclusivas da poesia. Esta é, em rigor, uma arte verbal (ou, não poucas vezes, uma arrogante impostura). Mas não é abusivo encontrá-la no cinema de António Reis e de João César Monteiro. Ambos escreveram poemas, como é sabido, mas foi talvez no cinema que atingiram a mais alta expressão poéticas de que eram capazes. César renegou todos os seus poemas: Reis apenas uma parte. Ali ao lado, na Travessa do Patrocínio, Fernando Assis Pacheco ouvia Jack Teagarden e Chet Baker, enquanto realizava (em verso) alguma das melhores curta-metragens do século XX.”
            
in “Comércio Local- Jardim da Parada”, Manuel de Freitas, edição Paralelo, Maio de 2018.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

O Dicionário de Paulo Varela Gomes

          “O mais poderoso instrumento de conhecimento com que já trabalhei é um diccionário. Intitula-se (traduzido do francês) Diccionário de Arqueologia Cristã e de Liturgia. Foi publicado em Paris entre 1903 e 1940, durante 37 anos portanto, e consta de 15 tomos e 30 volumes com dezenas de milhares de entradas e notas em letra pequenina. Escreveram-nas, com a informação colhida de por muita gente, dois frades beneditinos: Don fernand Cabrol e Don Henri Leclercq. A obra existe em quatro bibliotecas públicas portuguesas: a Nacional, as da Universidade de Coimbra e Católica, a Gulbenkian.”

Paulo Varela Gomes, "Público", 19 de Fevereiro de 2010