terça-feira, 29 de setembro de 2015
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
Trabalho
"Sei há muito que é impossível trabalhar quando passo bem; tenho necessidade, pelo contrário, de um certo grau de mal-estar, a partir do qual me esforço, tentando desembaraçar-me dele."
Sigmund Freud in Correspondência.
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
Who Knows Where The Time Goes?
Sandy Denny por Ray Stevenson, 1967 |
Across the evening sky all the birds
are leaving
But how can they know it's time for
them to go?
Before the winter fire, I will still
be dreaming
I have no thought of time
For who knows where the time goes?
Who knows where the time goes?
Sad deserted shore, your fickle
friends are leaving
Ah, but then you know it's time for
them to go
But I will still be here; I have no
thought of leaving
I do not count the time
For who knows where the time goes?
Who knows where the time goes?
And I am not alone while my love is
near me
I know it will be so until it's time
to go
So come the storms of winter and
then the birds in spring again
I have no fear of time
For who knows how my love grows?
And who knows where the time goes?
Sandy Denny
Da Convicção
"Não tenho intenção de impor convicções: basta-me exercer uma acção estimulante e abalar preconceitos. Quanto, à custa de esforços penosos, conquistámos uma convicção, temos também, até certo ponto, o direito de pretendermos mantê-la perante e contra todos."
Sigmund Freud in Introdução à Psicanálise (1916-1917)
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
Da Melancolia
"Na melancolia bem como noutros
distúrbios narcísicos, emerge, com acento especial, um traço particular na vida
emocional do paciente – aquilo a que nos acostumamos a descrever como
“ambivalência”. Com isso queremos significar que estão a ser dirigidos à mesma
pessoa sentimentos contrários – amorosos e hostis."
Sigmund Freud in Introdução à
Psicanálise (1916-1917)
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Dan Bejar: destruidor de lugares comuns
A rádio está muitas vezes ligada e as músicas vão preenchendo o espaço vazio, o quotidiano e a vida dos mortais. As músicas acompanham-nos, ajudam-nos a suportar a existência. Subitamente, dá-se conta de algo especial, um raro momento de inspiração perante a rotina auditiva, um momento de tensão melancólica presente desponta a curiosidade e a vontade de tornar efectiva a descoberta. Daí até à paixão propriamente dita é um pequeno passo bem como o despontar desse desejo de tudo pretender descobrir à volta desse objecto musical. Isso aconteceu com a voz de Dan Bejar que, vá-se lá saber por que carga de água, tem como nome da sua banda suporte: Destroyer, não se sabendo se é pela simples ideia de destruir tudo aquilo que está para trás a cada novo álbum consumado ou o ímpeto criativo de destruir para criar algo novo.O cantor Dan Bejar tem daquelas músicas orelhudas que sabemos que mais tarde ou mais cedo iremos trautear de forma fácil e despreocupada. Afinal, sempre há mais qualquer coisa no Canadá do que a voz aveludada de Leonard Cohen.
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
Vitor Silva Tavares
Vitor Silva Tavares, editor da &etc, despediu-se
hoje do mundo dos vivos, aos 78 anos. À semelhança do Hermínio Monteiro, olhei
sempre para estes homens com um misto de admiração e desdém. Infelizmente, só troquei umas palavras com o segundo. Foram ambos editores e
amigos dos escritores e dos livros, numa terra sem grande apetência ou hábitos
de leitura. Para além disso, escrevia em português como poucos. Do Vitor Silva Tavares, ficarei com uma memória de um homem integro,
livre e determinado quanto à sua forma de estar na vida e no mundo da edição. Transporto comigo uma frase que um dia este deu a uma entrevistadora: "Eu não quero mudar o mundo, mas também não quero que este mundo que eu não gosto me mude a mim." Os livros da
sua editora eram feitos de forma personalizada, pequenos quadrados que se
destacam em qualquer instante ou mesa de café. Só havia primeiras edições, eram todos numerados e ele próprio sabia onde estavam. Que
luxo!
Perigo
Talvez trouxesse um perigo
como todas as vezes que à porta
esperamos
em silêncio
Talvez trouxesse vários perigos
uma luz ao fundo do túnel,
uma carta de flores escrita,
um gesto terno, respiração.
Ou então somente atender, perceber,
o sinal, o reflexo e o espelho,
a descida,
como chegamos até aqui.
como todas as vezes que à porta
esperamos
em silêncio
Talvez trouxesse vários perigos
uma luz ao fundo do túnel,
uma carta de flores escrita,
um gesto terno, respiração.
Ou então somente atender, perceber,
o sinal, o reflexo e o espelho,
a descida,
como chegamos até aqui.
À Terra dos Maracujás
No regresso, os frutos, o sabor dos frutos, depois da noite mergulhado nos poemas, alguns deles sabidos de cor, amados pelo coração, ditos e relembrados pelas vezes que foram lidos com a vontade de os decorar. Elevamos deste modo a importância das palavras e dos poemas para continuarmos a viver à noite, depois da usura dos dias. No dia seguinte, veio de novo a memória da primeira vez que aqui estive e os maracujás saboreados, degustados, apreendidos de forma original. Os frutos, os poemas, as músicas que caminham connosco e os olhos que nos fazem ver o oceano. Assim quiséssemos construir mais pontes entre as palavras para falarmos abertamente desta tranquilidade sobressaltada. A casa ficou assim com a porta escancarada, sobretudo para deixarmos o ar entrar enquanto esperamos melhores dias para fixar a passagem do tempo e a chegada do Outono.
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Pensar Sobre Muitas Coisas Outras
Pensar sobre muitas coisas outras,
que a ternura e a bruteza casam bem,
esquecer o outro, decidir,
história de azuis e verdes lancinantes,
sem ver aí um estilo perfeito
Na madrugada à bolina,
abandonar a poesia encetada,
a memória de tantos livros pela mesa,
versos ditos, decorados, reditos,
acre rastilho do hálito,
versos ditos, decorados, reditos,
acre rastilho do hálito,
quedou um sorriso refeito.
"Vais embora, meu amor?"
Setembro, fim do verão. Não se pode continuar à espera de algo que não chega. Respirar sofregamente com o coração a bater como se doesse e tudo aquilo que se deixa para trás fosse um amor perdido. Olho pela última vez para a Ilha que Raul Brandão apelidou de "Floresta Adormecida" e anunciam-se na paisagem oirescências, pequenos desenhos de luz e tecidos recortados na paisagem, ainda o avistar da janela do avião do verde glauco do mar. Ali permanecerão as finas cordas de água que por aquelas fajãs continuarão a cair sem interrupção. É tempo de dizer adeus, de fechar os olhos e pensar num outro momento para regressar. Até já.
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
Cavalo Furibundo
Ao Benoît
Um cavalo aflito corre sem parar, nem o verde afasta o movimento,
a teu lado, o passo tosco, o passo lento,
vertical silêncio, plátano discreto,
um coração amigo, rumamos em deleite
ao fogo das azálias, aos rubros araçás.
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
Arlindo
Olhei para ele e demorei algum tempo a reconhecê-lo. Tinham passado mais de dez anos desde que o vi num terreno junto das suas vacas no lugar mais ocidental da Europa. Era um dia de bruma intensa e foi a única pessoa que avistei no trilho efectuado. Enquanto trabalhava no seu terreno, tinha junto de si uma bandeira nacional pregada ao chão. À altura, cumprimentou-me e aproveitei para lhe tirar uma fotografia junto daquele símbolo nacional. A seguir, limitei-me a perguntar pelo seu nome e prossegui o caminho até ao Farol de Albernaz. Nas últimas vezes que lá tenho ido não o tenho visto mas sabia que andava lá por cima a mondar a terra. Voltei agora a vê-lo pela manhãzinha na estrada que vai dar ao centro da freguesia. Consigo transportava um rádio ao peito onde escutava o programa dedicado às bandas filarmónicas. Disse-me ter saudades do tempo em que as pessoas se respeitavam umas às outras, ainda se referiu ao quilo de amoras a quinhentos escudos, e que toda a gente comprava, por sinal, bem como afiançou, felizmente por ali, ninguém rouba nada a ninguém. Era domingo de festa na freguesia e ele ainda tinha que voltar à montanha antes de escurecer.
terça-feira, 15 de setembro de 2015
No interior do livro de Raul Brandão, um recorte de jornal...
Na Fajã
Ao fim de 10 dias na Fajã, sabemos em que dia chega cada coisa e o que é
que nunca chega. Por exemplo, este jornal nunca chega. Estou a escrever sobre
um lugar de Portugal onde o PÚBLICO não existe.
A Fajã tem uma rua que vai da montanha até ao mar, com a
igreja, a mercearia, a tasca, o albergue, o largo das árvores e, no fim, em
frente ao mar, o restaurante.
No princípio de Setembro, a igreja prepara a festa. Ao
lado, a mercearia mantém-se aberta todos os dias das nove às nove. Há o dia em
que chegam os bolos lêvedos, a que toda a gente chama "bolos". Há o
dia em que chega a massa sovada, a que toda a gente chama "massa", e
que é uma espécie de massa de pão-de-leite em forma de pão-de-ló.Há o dia em que
chegam os queijos frescos, a que toda a gente chama "os queijos da
Ilda", e que são os melhores do mundo. Há o dia em que chegam os iogurtes
da ilha, autênticas bombas, em copinhos de vidro. Se há dia para verduras,
nunca fiquei a saber, mas são pobres. A Fajã não é bom lugar para saladas.
O albergue parece deserto, de tão quieto. O largo das
árvores varia entre dois e três velhos. E no tasco estão os trabalhadores das
obras.
Porque há obras na Fajã, e quem me explicou isso foi o
meu amigo cozinheiro. É um rapagão de outra ilha com este talento autodidacta,
por exemplo, polvo guisado, um polvo do céu. Foi assim que começámos a falar.
Cumprimentei-o pelo polvo e ele perguntou-me se eu era do Porto. Do Porto?
Porque haveria de ser do Porto? Ah, porque com as pessoas de Lisboa há sempre
problemas, nunca nada está bem, disse ele. No fim da conversa, fiquei a saber
que éramos vizinhos. Ele também morava na colina. E na conversa seguinte
anunciou-me que se ia despedir porque se zangara com o patrão. Mas é fácil
arranjar outro trabalho? Ele riu-se, já tinha trabalho, ia para as obras, que
era o que gostava mesmo. Mas há assim tantas obras na Fajã? Ui, disse ele. Há
muito trabalho nas obras, as pessoas daqui é que não querem. Os homens que
param no tasco vêm de fora. E estão a fazer, por exemplo, a segunda, terceira e
quarta casas do presidente da câmara em frente ao mar, ou aquele - como
chamar-lhe? - empreendimento em frente às piscinas naturais. Estão a acontecer
coisas na Fajã, disse o meu amigo cozinheiro. Felizmente, existe o mar, e o mau
tempo, pensei eu. Longa vida ao mau tempo. O mar e o mau tempo são as barreiras
naturais dos Açores.
Mas é mesmo pensamento de lisboeta que lá vai 10 dias. A
Fajã não quer ser o Funchal mas também não quer este isolamento. Não se nasce
aqui, não se é operado aqui, mas morre-se aqui, e uma morte é sempre de todos.
No dia em que vim embora, a Fajã estava de luto. Um homem
que eu vira na véspera a mondar a erva, foi às rochas apanhar cabras para a
festa da igreja e caiu. Eu soube quando o meu amigo cozinheiro me bateu à
porta. Ia fazer de bombeiro, recolher o corpo.
Alexandra Lucas
Coelho, 22 de Setembro de 2010.
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
Ontem escrito numa parede da cidade...
Aristófanes desconhecia as nuvens da Fajã Grande, assim tivesse percebido melhor os sofistas.
As Flores, Flores...
Apareceu, entretanto, um jornal pela mesa, com o nome de Monchique, gente que escreve, no interior do verde e das fajãs. Gente a espalhar palavras pela ilha, provavelmente para tornar mais solta a conversa dos homens no cair da tarde. O editorial constata o que já todos sabíamos, falta crianças a crescer no meio de tanto verde, falta também saber aproveitar melhor e de forma mais saudável um recurso tão útil como a água. Falta tanta coisa e mesmo assim há tanta coisa por aqui: o esplendor do verde e do azul (quando há!), o silêncio feito paz interior, as cascatas a jorrar água permanentemente, uma terra fértil onde brota tudo que se possa plantar. E por fim, um mar com tanto peixe, ainda que seja melhor e menos perigoso pescar no verão. E a Fajã Grande? Lugar de tanta beleza, espaço de prodigiosos encantamentos, apetecível para alemães reformados ou retiros prolongados de gente à procura de trilhos e de descanso. As Flores, as flores...
terça-feira, 1 de setembro de 2015
Notícias do Congresso na Ponta da Fajã
Fotografia de Tiago Rodrigues |
Acabei de encontrar de forma surpreendente na Ponta da Fajã, Ilha das Flores, o meu mui amigo Janeiro Alves. A razão prende-se com mais um congresso anual de amantes das letras e do verde, que terá a presença de oradores oriundos de todas as ilhas do mundo, inclusive das Formigas. Este ano, como é já de todos bem conhecido, apresentarei a palestra com o título: "Dar Milho aos Pombos ou a Suspensão do Tempo sem Propriamente o Matar seguido de As Raparigas Bonitas são atraídas por Machos Alfa." Aguardo, portanto, com ansiedade saber o título da conferência de Janeiro Alves, pois há quem diga que nem ele próprio o sabe, mas será certamente uma pedrada no charco, neste caso um jorro de água na cabeça de alguma incauto que arrisque passar no Poço do Bacalhau. Curiosamente dizem também as más línguas que este ano há excursões de jovens activistas políticos do país inteiro para ouvir a conferência de Janeiro, pois acredita-se que quem ouve com atenção Janeiro sabe de onde vem e para onde vai o dinheiro. Ainda não sei se voltarei a ver Janeiro Alves antes da sua prelecção mas foi uma honra ter partilhado uma bifana e uma mini em tão honrosa roulote que presta apoio aos conferencistas. Um amplexo e até breve com mais notícias.
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