terça-feira, 26 de junho de 2018

Mare: Gianni Berengo Gardin


               Labutávamos nas Oficinas de São Miguel no número inicial da fanzine FALTA quando nos deparámos com uma mala cheia de revistas da publicação alemã intitulada Mare. Entre elas o número 18 - uma edição dedicada a Veneza.  Ao folhear o referido número dedicado à cidade italiana de Veneza, “cidade estrangeira, cidade familiar”, constatámos a existência de um portefólio a preto e branco do fotógrafo Gianni Berengo Gardin. Até essa altura não o conhecíamos e perguntámo-nos quem seria? Conhecido mundialmente por ser o fotógrafo de Veneza, apesar de ter nascido na Ligúria por acaso, aí os seus pais se encontravam de férias aquando do nascimento.
                  Berengo Gardin conta hoje com 88 anos de idade e uma experiência de vida mais do que interessante. Nesta galeria nas páginas da Mare estão registos fotográficos das construções venezianas sobre o mar, as gôndolas que varrem a paisagem líquida desta cidade italiana, o Vaporetto com gente de todas as classes, os jovens clérigos passeiam pelas avenidas, outros jovens reunidos na praia do Lido  a ouvir música desde uma grafonola...tudo isto envolvido num texto a necessitar de tradutor. Demorou pouco tempo até procuramos a origem e história deste fotógrafo - agora sabemos ter dedicado um livro a esta cidade “Veneza e le Grande Navi”. Estamos fascinados com as imagens de Gianni Berengo Gardin e, por isso, gostaríamos que independente da forma, a haver o próximo número 1 da FALTA, que este estivesse presente.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Arco 8: À Flor da Pele


Já passava da meia-noite e avizinhava-se assim uma madrugada longa e preenchida de sons distintos e estimulantes. Foi, então, necessário ligar aqueles elementos musicais díspares e conectá-los pelo fio condutor do sufoco metereológico de Junho, disponibilizar os poros e membranas dum corpo musical alienígena à deriva pela noite dentro, que abarcasse a paleta musical dos Portishead, Shed Seven, Mayra Andrade, Naifa, Jens Lekman, Franz Ferdinand, Dans Le Sac Vs Scroobius, Memorie Tapes, Tindersticks, Naifa, Miguel Guia & Tó Ricciardi, Cazuza, Lou Reed, Linda Martini, O´rquestrada, Galundum Galandaina, Caetano Veloso, Bandarra, Ban, Gaiteiros de Lisboa, etc, para lá da música marroquina, maliana, cigana, cabo-verdiana, angolana, argentina, brasileira e senegalesa. Em suma, foi montada a carga sonora no seu vigor e amplificação, um grande e variado conjunto de naves musicais a confluir até à chegada da luz matinal. Enfim...sons e ritmos para sentir  e fruir à flor da pele!

domingo, 17 de junho de 2018

Revista Mare

Fotografia de Carlos Olyveira
    
         A Mare é de origem alemã e tem como director Nikolaus Gelpke e, como mera curiosidade, a directora de arte é Claudia Bock. Esta revista é a celebração em papel dessa força incrível da natureza que é o mar. É uma forma bonita de homenagearmos quem nos dá tanto (por vezes, também tira!) e que nós, à força desta civilização consumista e exploradora, lhe estamos a retirar quase tudo. À semelhança do programa televisivo Bombordo, só que desta feita em papel impresso, toda a revista é composta por temas marinhos e imagens, tanto no fundo como à superfície dos oceanos ou mesmo das actividades que subsistem do mar. E como é entusiasmante  e auspicioso percorrer as suas páginas e encontrar o portefólio de fotógrafos como Gianni Berengo Gardin, Yukihiko Otsuka, Sergio Larraín, as ilustrações de Nyoman Suarsa, as pinturas de T. Lux Feininger ou ainda os poemas de Conrad Ferdinand Meyer. Um luxo para os olhos e ainda uma preciosidade maior quando se sabe que os proprietários das respectivas as quiseram despachar  para que pudessem encontrar novos e diferentes leitores.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Eterno Retorno

“Todo o prazer da vida está fundado sobre o retorno dos objectos exteriores. A alternância do dia e da noite, das estações, das flores e dos frutos, e de tudo o que vem até nós nos períodos fixos, de que nós podemos gozar, eis os verdadeiros impulsos da vida terrestre.”
 Goethe

terça-feira, 12 de junho de 2018

Corpo Triplicado de Maria Brandão


                                                                                                    Sentido Único


            Na minha casa não há roupa fora de uso, fotografias antigas, recordações de viagens, revistas desbotadas, recortes de jornais, bilhetes de amor, recibos de compras, artigos decorativos, vasinhos de plantas ou animais de estimação. Livro-me de coisas inúteis como me livro dos amigos hipócritas e dos amantes incompetentes. Sem remorso e sem saudade.

Maria Brandão, Edição Companhia das Ilhas, 2018.

Vinho de André Laranjinha



           André Laranjinha filma o nosso mundo, esta realidade que nos está próxima e que vai desde o pão, ao vinho, aos muros de pedra, à matança do porco, até à ilha, por vezes pessoal e transmissível, de quem aqui aportou. Neste documentário intitulado “O Vinho”, quase uma hora de imagens em movimento, resultado de várias visitas à Ilha do Pico, o realizador mergulha nessa crosta de lava no meio do oceano Atlântico, à procura das vinhas que estão espetadas na terra e cuidadas pelos seus guardiões. 
Num registo demorado, mas escorreito, vamo-nos apercebendo da alteração das estações, documentando o gelo da grande montanha no inverno, ao surgimento das primeiras folhas e da enxertia necessária sempre com a presença dos homens no tratramento da vinha, que é tudo menos fácil. A uva vingou numa terra difícil que resiste ao cultivo, demasiado áspera e propensa aos elementos, daí o prodígio do vinho nessa ilha conhecida por homens que bebem e celebram a existência desse precioso líquido. Uma boa parte do filme é passado em adegas, nessas arrecadações onde se deposita e protege o vinho, a aguardente, os licores, mas também pontos de encontro com portas escancaradas ao debate, à reunião e à música, ou somente ao resguardo no final de mais um dia de canseiras e afazeres. Um documentário com ilhéus dentro. 

domingo, 10 de junho de 2018

Foi no Mar que Aprendi

Foi no mar que aprendi o gosto da forma bela
Ao olhar sem fim o sucessivo
Inchar e desabar da vaga
A bela curva luzidia do seu dorso
O longo espraiar das mãos de espuma

Por isso nos museus da Grécia antiga
Olhando estátuas frisos e colunas
Sempre me aclaro mais leve e mais viva
E respiro melhor como na praia

Sophia de Mello Breyner Andresen (in Obra Poética - o Búzio de Cós e outros poemas)

sexta-feira, 8 de junho de 2018

A FALTA está na Rua

Fotografia de Carlos Olyveira

Durante oito sessões foi bonito ver o envolvimento de pessoas empenhadas a realizar algo de que gostam e acreditam. A pergunta impõe-se: continuaremos a FALTA, rumo ao número 1? Foram cerca de 15 pessoas que frequentaram de livre vontade as Oficinas de São Miguel, usaram-se 900 folhas de papel, 5 litros de tinta, contámos com 25 colaboradores: Alberto Plácido, Daniel Blaufuks, Eduardo Brito, Marco Evo, Ana Paula Inácio, Leonardo, Gregory Le Lay, Igor Boyer, Blanca Martín-Calero, André Laranjinha, Miguel Castro Caldas, Doutor Mara, Pedro Gaspar, Margarida Rodrigues, João Amado, Maria Emanuel Albergaria, Nuno Malato, Carlos Olyveira, Caso, Alberto Borges, Lígia Soares, João Malaquias, Luísa Cardoso, Alice Borges, Joana Matos, Petar Sculac e Sandra Rocha. Para concretizarmos este número zero da FALTA discutiu-se muito à volta de almoços, realizaram-se jantares, tomámos muitos cafés, fumaram-se muitos cigarros, beberam-se algumas cervejas...e trabalhámos muitas horas à volta da ideia de repetição e superação de dificuldades. Estas páginas foram maioritariamente impressas em serigrafia por meio de uma tela de seda e com o uso de diversas cores e tintas. O número zero envolveu gente de diversas áreas e demais pessoas que quiseram meter as mãos na massa. Eis chegado o lançamento da FALTA na Galeria Brui, situada na rua d’ água, 46, em Ponta Delgada. A hora de apresentação é às 18 horas. O grafismo da revista foi da inteira responsabilidade da Júlia Garcia.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Durruti Column: Melodias aquáticas


      “A este triângulo dourado de que apenas dois lados permanecem em actividade (Gist e Antenna) devem associar-se também os Durutti Column, aliás, o guitarrista vocalista pianista Vini Reilly. A sua música é qualquer coisa de terrivelmente intimo, como um Paul Mauriat dos tímidos, para ser partilhado apenas por amigos. Os títulos das peças, aliás, dizem quase tudo. “For Mimi”, “For Belgium Friends”, “Detail for Paul”…são séries, dificilmente distinguíveis entre si, de pequenas aguarelas difusas e jogos de cores suaves, sequências de acordes e esboços de melodias aquáticas, repetidas e tornadas a repetir pelo puro prazer de as ouvir ecoar, pontuadas por uma percussão tracejada. Navegando nas mesmas águas (embora bem mais próximas da terra), os Felt praticam a difícil arte de guitarra hesitante e constantemente tropeçando sobre si própria, salmodiando textos adequadamente obscuros de espantos e fascinação.”

João Lisboa, “A Música-Aquário dos Novos Ingénuos” in Jornal Globo, 25/2/1984

John Wayne nos Açores

         "Estávamos em junho de 1963 quando, fora do ecrã, apareceu inesperadamente alguém que não era cowboy de Stagecoach, o homem da cavalaria de She Wore a Yellow Rainbow, o caçador de Hatari!, o irlandês de Quiet Man, ou o homem da marinha de Wings of Eagles. A não ser que se considere John Wayne uma personagem de Marion Morrison, o seu nome à nascença, foi ele, que no sábado teria feito 111 anos, quem saiu do seu iate, o Wild Goose (Ganso Selvagem), e caminhou por Ponta Delgada."

Mariana Pereira, in Jornal Diário de Notícias, 28 de Maio de 2018

domingo, 3 de junho de 2018

Tempo, Conversa, Trabalho e Hesitações

           
Sítio da Bertrand
              «O encenador, dramaturgo e ator Jorge Silva Melo tem mais reservas em relação ao estado da escrita para teatro em Portugal. "De vez em quando surge um autor, há uma peça. Quase nunca volta a ser feita. Faz cinco, dez, três representações . Viram-na os 20 amigos e os 130 adversários. E sumiu-se." Silva Melo assume que, infelizmente, tem visto poucos textos portugueses representados e que, a seu ver, "as mais recentes produções "inovadoras" são aquelas em que o dispositivo cénico comanda a criação das palavras, como se fazia na Alemanha dos anos 90...e aqui agora é dogma". Entre os autores portugueses destaca  os "casos singulares" de Tiago Rodrigues e de Gonçalo Waddington. Faz, no entanto, um comentário: "Ainda os sinto muito presos a um teatro do comentário "que ameaça transformar-se num teatro girando sobre si próprio." "Mas conheço mal", admite. Existe um ambiente teatral-cultural que motive para a escrita de peças e favoreça o surgimento de novos dramaturgos? A resposta é esta: "Não. O trabalho é lento. E trabalhar na formação de um autor, como o fiz em relação ao José Maria Vieira Mendes, exige um horizonte temporal seguro. Não é com festivais, workshops, eventos e estreias, que lá se chega. É com tempo, conversa, trabalho e hesitações. E muita conversa. A correr ninguém chega lá."»


Nuno Costa Santos in "Escrever e editar Teatro em Portugal", Revista Ler, 2018.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

A FALTA será lançada dia 8 na Galeria Brui

8ªSessão da FALTA
(Tipografia Micaelense)

Não sabemos se é fanzine ou revista - é uma questão de somenos importância - mas a certeza que foi impressa por meio de uma tela de seda e com o uso de diversas cores e tintas. O processo ocorreu durante oito sessões e envolveu gente de diversas áreas e demais pessoas que quiseram meter as mãos na massa. O lançamento da FALTA é dia 8 de junho, sexta-feira, na Galeria Brui, situada na rua d’ água, 46, em Ponta Delgada. É às 18 horas e há várias surpresas para quem lá for. O número zero da FALTA contou com a participação de: Alberto Plácido, Daniel Blaufuks, Eduardo Brito, Marco Evo, Ana Paula Inácio, Leonardo, Gregory Le Lay, Igor Boyer, Blanca Martín-Calero, André Laranjinha, Miguel Castro Caldas, Doutor Mara, Pedro Gaspar, Margarida Rodrigues, João Amado, Maria Emanuel Albergaria, Nuno Malato, Carlos Olyveira, Caso, Alberto Borges, Lígia Soares, João Malaquias, Luísa Cardoso, Alice Borges, Joana Matos, Petar Sculac e Sandra Rocha. O grafismo é da Júlia Garcia.