quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
sábado, 22 de dezembro de 2018
Escrito no passado Outono
amar é tão difícil falar de amor.
soletramos plantas que não dão flor esta estação
pelo caminho pisamos as folhas que nos deixaram
nuas
as árvores caídas no chão.
Tiago Rodrigues in Em Maio Florimos Melancolia, Letras & Desenhos d´Angra Líquida, 2013.
soletramos plantas que não dão flor esta estação
pelo caminho pisamos as folhas que nos deixaram
nuas
as árvores caídas no chão.
Tiago Rodrigues in Em Maio Florimos Melancolia, Letras & Desenhos d´Angra Líquida, 2013.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
A Arte de Caminhar
"O Paraíso é onde estou. É precisamente o que penso quando estou em casa sentado na sala com um bom livro, a partilhar uma refeição com uma pessoa cuja companhia prezo, ou quando vou dar uma volta.
Naturalmente, um estado de espírito tão agradável não dura muito, mesmo que aquilo que nos rodeia não se altere. Tal como um estado de espírito desagradável também não dura para sempre. A razão disto é que até a permanência de um sentimento acabará por causar uma mudança do nosso estado de espírito. As sensações de bem estar nunca são infinitas; têm de ser continuamente alimentadas de modo a manterem-se. E, de vez em quando, esses suplementos adicionais acabarão. Então temos a sensação de que alguma coisa se perdeu."
Erling Kagge, in "A Arte de Caminhar", Quetzal, 2018.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2018
Lo Difícil
Enarmorarse es fácil
Uno pude enamorarse
-sin demasiado esfuerzo –
varias veces al dia,
a nada
que se lo proponga
y se mueva un poco por ahí;
y si es verano,
ni te cuento
Enamorarse no tiene
maior mérito
Lo realmente difícil
-no conozco
ningun caso-
Es salir entero
de una história de amor.
Karmelo C.Iribaren
Karmelo C.Iribaren
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
Muito Obrigado, Bruno da Ponte!
Há dias
despedimo-nos de Bruno da Ponte, mais um amigo que vai fazer falta. O Bruno
tinha formação em Economia mas foi na área cultural a que dedicou a maior parte
do seu trabalho. Bruno da Ponte trabalhou assim toda a vida enquanto editor,
tradutor, jornalista, e coordenador de tantas editoras – Minotauro, Teorema ou
as Edições Salamandra. Comecei, primeiro, por vê-lo na Associação Cultural
Abril em Maio, em Lisboa, à altura, rua da Verónica, onde lançou as sementes de muitas coisas bonitas,
entre elas uma agenda repleta de manifestos, mas foi na sua terra natal (São
Miguel) que falei com ele pela primeira vez numa rua de Ponta Delgada, acidentalmente. Foi com alegria que aceitou o convite para colaborar
e escrever para o Boletim Cultural Fazendo, sediado na Ilha do Faial, do qual
foi sempre um leitor e entusiasta. Ele que durante anos esteve ligado a 121 publicações
relacionadas com os Açores através da colecção Garajau, e, como tão bem escreveu Onésimo Teotónio de Almeida, estabeleceu uma verdadeira ponte entre o
arquipélago e o continente português. O Bruno da Ponte foi um verdadeiro amante
das artes e das letras e, recordo, por isso, o quanto era delicioso e instigante
ouvi-lo discorrer sobre qualquer assunto ou tema literário. Saudades!
saxofone baixo.13
o mar enrolou-se no ouvido
quando a maré vazou
restou apenas o sal nos tímpanos
a música rente à terra
no cimo dos telhados fumam-se cigarros
laranja da beata no tijolo
pode-se morrer de súbito aqui
o mofo abafado do silêncio toca
os velhos discos
e é já cinza o sal dos tímpanos
pode-se chorar aqui
de súbito
à espera que a lua arraste a maré cheia
da música rente
dos telhados se cai no mar
não basta calar a beata é preciso afogá-la
Tiago Araújo, in Diapositivos, Quasi Edições, Novembro de 2001.
quando a maré vazou
restou apenas o sal nos tímpanos
a música rente à terra
no cimo dos telhados fumam-se cigarros
laranja da beata no tijolo
pode-se morrer de súbito aqui
o mofo abafado do silêncio toca
os velhos discos
e é já cinza o sal dos tímpanos
pode-se chorar aqui
de súbito
à espera que a lua arraste a maré cheia
da música rente
dos telhados se cai no mar
não basta calar a beata é preciso afogá-la
Tiago Araújo, in Diapositivos, Quasi Edições, Novembro de 2001.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2018
...
Passo o teu nome da minha boca para este lugar de papel.
E assim tu vens, menina do rio,
louca e desastrada, nessa tua canoa de silêncios,
a entrar no poema.
Mãos em existência felina
e respirando sem pausas. Voltas a cabeça para o lado
da luz e abre-se devagar o talento incendiado
do teu rosto.
Vasco Gato, in 47, edição do autor, 2005
E assim tu vens, menina do rio,
louca e desastrada, nessa tua canoa de silêncios,
a entrar no poema.
Mãos em existência felina
e respirando sem pausas. Voltas a cabeça para o lado
da luz e abre-se devagar o talento incendiado
do teu rosto.
Vasco Gato, in 47, edição do autor, 2005
sábado, 15 de dezembro de 2018
sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
Venezia
O entardecer acende os escombros
dos vechi palazzi.
Nas águas mortas de Veneza acendem-se
as cores, húmidos pigmentos,
podridos vermelhos, amarelos, azuis,
o deslumbrante fascínio da corrosão.
Sob a forma, a pedra exibe o quanto
tem de corpo. Estanque albergue de paixões,
com o passar do tempo, a parcela de labirinto
que o próprio tempo esboroa.
Cárcere de ecos dissolvem a solidão,
faz ressoar nos rumores dos brindes,
o correr da cortina da noite, que sublima
na Piazza de S. Marco, os roubos,
de Alexandria e Constantinopla.
Rui Miguel Ribeiro, Europa e Mais Três Poemas, Letra Livre, Novembro de 2017.
dos vechi palazzi.
Nas águas mortas de Veneza acendem-se
as cores, húmidos pigmentos,
podridos vermelhos, amarelos, azuis,
o deslumbrante fascínio da corrosão.
Sob a forma, a pedra exibe o quanto
tem de corpo. Estanque albergue de paixões,
com o passar do tempo, a parcela de labirinto
que o próprio tempo esboroa.
Cárcere de ecos dissolvem a solidão,
faz ressoar nos rumores dos brindes,
o correr da cortina da noite, que sublima
na Piazza de S. Marco, os roubos,
de Alexandria e Constantinopla.
Rui Miguel Ribeiro, Europa e Mais Três Poemas, Letra Livre, Novembro de 2017.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2018
Roma
I.
Não falaram muito. Guardaram cada um,
na escuridão da noite de Ferragosto,
as últimas palavras.
Nas suas línguas estrangeiras cercaram
regiões. Reservas de lugares que aproximaram
de cada um a sua deriva, na festa,
na Piazza S. Lorenzo.
Um último gesto - aceno e acento final.
Que a vida, no Verão, é uma iminência
entre horários de comboios e o peso
das mochilas.
Mais tarde, sob o céu nocturno junto
ao Panteon, voltei a vê-lo:
-Riscava fósforos. Para acender a noite.
Rui Miguel Ribeiro, in Europa e Mais 3 Poemas, Letra Livre, 2007
Não falaram muito. Guardaram cada um,
na escuridão da noite de Ferragosto,
as últimas palavras.
Nas suas línguas estrangeiras cercaram
regiões. Reservas de lugares que aproximaram
de cada um a sua deriva, na festa,
na Piazza S. Lorenzo.
Um último gesto - aceno e acento final.
Que a vida, no Verão, é uma iminência
entre horários de comboios e o peso
das mochilas.
Mais tarde, sob o céu nocturno junto
ao Panteon, voltei a vê-lo:
-Riscava fósforos. Para acender a noite.
Rui Miguel Ribeiro, in Europa e Mais 3 Poemas, Letra Livre, 2007
Da Malandragem
"O tempo querido! o bom tempo! Foi das nossas discussões sobre a Arte que estes contos nasceram...A bella vida, a vida risonha e malandra, passada assim!...Lembra-se?"
Raul Brandão in Impressões e Paizagens, edição fac-símile, A Bela e o Monstro, 2013
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
Verso de Frank Zappa
So he goes
back to his ugly little room and quietly dreams his last imaginary guitar
solo...
domingo, 9 de dezembro de 2018
Hálito Azul, de Rodrigo Areias, estreou no Porto/Post/Doc
“O outro é uma estreia — Hálito Azul, a mais
recente aventura de Rodrigo Areias, aqui explorando a povoação açoriana de
Ribeira Quente inspirado por Raul Brandão. A fragilidade do filme de Pestana vem do olhar a nu sobre uma
década da sua vida; a de Hálito Azul vem da indefinição do projecto, na sua
essência um documentário sobre a Ribeira Quente com “interferências”
narrativas, mais conseguido na vertente documental do quotidiano insular, menos
convincente nas incrustações encenadas.”
Jorge Mourinha, in Público 18 de Novembro de 2018
“Um
dos filmes mais aguardados é português e o PortoPostDoc conseguiu a sua
antestreia mundial. É Hálito Azul, de Rodrigo Areias, a partir de Raúl Brandão.
Trata-se de um dos pontas-de-lança da competição internacional. Um grande feito
do festival, sobretudo porque se trata de mais um belo triunfo do cineasta de
Guimarães, aqui a viajar para Ribeira Quente, nos Açores, e a documentar com
uma beleza matreira o dia-a-dia da população piscatória. Uma câmara que olha
para os homens, as mulheres e as crianças com uma dignidade serena. Depois, há
também um trabalho de apropriação das palavras de Brandão que não cai em
clichés baratos de "poesia ilustrada"
Rui Pedro Tendinha, in Diário de Notícias, 23 de Novembro de 2018
“Hálito Azul traz elementos fantásticos que
fazem parte do imaginário e do vocabulário dos pescadores, assim como apresenta
elementos de ficção e de documental ao misturar situações de observação com a
criação de momentos ensaiados, e nos revela, como parte da trama (trama no
sentido mais próximo de costura e tecido, e mais distante da noção de sequência
planejada) estes encontros entre os habitantes locais para ler as falas do
roteiro. Enfim, muitas coisas podem ser ditas sobre este lindo filme, extremamente
delicado e lírico, mas deixo isso pra outro artigo exclusivo a ele.”
Raquel Gandra,in Ambrosia, 24 de Novembro de 2018
“Hálito
Azul é isso mesmo, um desvio ao encontro da comunidade da Ribeira Quente, em
São Miguel, nos Açores, em um período crucial para o tradicionalismo de uma das
suas atividades principais – a pesca. Através desse impulso, a aventura não
brava os setes mares mas segue ao encontro de uma população que não esconde os
seus vínculos com o Oceano, todo o seu quotidiano e atividades gira envolto
desta imensidão.”
Hugo Gomes, in C7nema, 1 de Dezembro de 2018
sábado, 8 de dezembro de 2018
Resposta a Janeiro Alves Antes que o Inverno Irrompa
Caro Janeiro Alves,
Respondo-lhe
no pináculo da minha popularidade, no cocuruto da minha notoriedade pois já não
consigo palmilhar qualquer rua sem ser suspendido por vários transeuntes a implorar
por autógrafos, selfies e perguntas
sem nexo. Uma verdadeira amolação.
Aproveito assim para retorquir a sua
missiva em plena classe executiva do avião com os nervos à flor da pele, bastante
perturbado até, tendo acabado por relê-la na Sala VIP do Varna Film Festival. Constato que Janeiro criticou publicamente o
aparecimento do meu nome no horário nobre da televisão pública, irou-se com as
respetivas loas da intelligentzia local
à minha participação num folheto considerado por si de origem duvidosa, bem
como denegriu, aliás, feriu de morte, a comunidade artística presente na
apresentação do tão badalado opúsculo acabadinho de editar. Desta feita, pude
constatar que Janeiro não suporta o glamour televisivo e cinematográfico, rejeitando
de forma desmedida o universo da vernissage e do croquete. Entretanto, a
recepcionista do hotel veio devolver-me o kit de banho que o meu bom amigo
tinha esquecido durante o período da residência realizada em Varna, em que se
dedicou à pintura na Primavera passada. Já cá mora para lhe entregar na sua
próxima visita.
Fiquei
estupefacto, deixe-me confessar. E, à flor da pele, aspiro tecer duras críticas a seu respeito, já
que não poderia deixar de lamentar aqueles seus calções de banho com listas verticais
vermelhas e uma toalha verde-alface da mais alta burguesia, decadente e dondoca,
onde o meu amigo se move como uma jamanta. Imagine e, tendo em conta a nossa
já longa amizade, que decidi arriscar uma entrada no mar negro com os seus
rubros calções listrados. De imediato, senti-me com uma autêntica planta
exótica a derreter, mirrei da cabeça aos pés e quase desapareci de tanta
brancura. Certo que podia ter nadado com o meu escafandro, coisa que sempre fiz
nos mares gelados, mas quis experimentar o seu kit, sentir-me à medida de
Janeiro Alves, mas acabei um mês numa cama de hospital em convalescença.
Regressado à ilha, à minha bolha
existencial, tenho recuperado a rotina à conta de gengibre e beterraba. Ingiro
doses industriais de limão e por esse motivo não poderei estar presente na
homenagem que lhe será feita pela Sociedade das Artes e das Letras, já que
estou constantemente a ir à casa de banho. Foi, no entanto, com grande pesar
que soube que o “Compêndio Geral de Plantas Exóticas” - obteve o galardão de
“Pior
Livro do Ano 2017”. Estranho, pois tinha sido informado logo nos primeiros dias por um membro do júri que iria obter o prémio de “melhor livro”. A ser assim,
desconfio que alguém quisesse que Janeiro tirasse da arca o seu fato de asas de
grilo, a lembrar as últimas Conferências da Fajã, e, assim, desse um novo impulso
a esse trabalho glorioso em prol de prelecções futuristas que salvassem a
humanidade do degredo. Por este motivo, conto dizer apenas algumas
palavras de agradecimento por vídeo-conferência, enviar um emissário ao
beberete e de seguida augurar que o amigo Janeiro seja levado sob escolta até
Penedono, sem qualquer incidente. Aviso-lhe: eu nunca lerei o seu livro, já dei
indicações precisas ao carteiro para não aceitar encomendas pois ninguém sabe o que esta pode conter. Não me leve a mal mas prefiro gastar os 25 euros na pastelaria groumet que abriu junto do meu
escritório.
Concluo esta meritória missiva com um
até breve pois julgo que chegou a hora de terminar com tantos enxovalhos e
demais galhardetes. Talvez possamos a partir desta data partilhar este espírito
natalício da rabanada e da aletria. Afinal, vivemos apenas uma vida e não quero
passar a recordar os velhos tempos em que a fava e o brinde estavam prestes a
irromper na próxima fatia. Que sejamos felizes com os regalos e delícias da
quadra e do bolo rei.
Com elevada estima e apreço,
Doutor
Mara
quinta-feira, 6 de dezembro de 2018
100 anos de Ingmar Bergman
"Há muitos casais que se destroem na filmografia de Bergman, é mesmo se calhar o tema mais presente em toda a sua obra, o desamor que sucede sempre à paixão, a amargura que a devoção deixa no peito, tema que dura mesmo até ao fim, a esse “Saraband” terminal com que, cinematograficamente, o realizador se despediu de nós em 2013. Mas nenhum tem a turbulência essencial que “Mónica…” ressuma, como um suor amargo na refrega das febres, materializando nesse plano último em que Harriet Andersson olha para a câmara, olha para nós, a interpelar as nossas convicções e juízos. Quando a vida é madrasta, por quem nos tomamos para nos pormos a fazer julgamentos?"
Jorge
Leitão Ramos, in E, Revista do Expresso, 1 de Dezembro de 2018 (imagem wikipédia)
quarta-feira, 5 de dezembro de 2018
E depois de Amanhã há Agenda Sonho
"Somos um grupo de amigos com formações em
diferentes áreas, que vive na ilha de São Miguel e que todos os anos se junta
para criar esta agenda. A Agenda da Tipografia surgiu em 2014 e todos os anos é
dedicada a um tema (que inclui citações das mais diversas áreas - literatura,
poesia, antropologia, filosofia, teatro, populares, etc.). A sua composição
envolve vários processos - tipografia, offset, serigrafia, etc. e parte do
processo é manual, como a encadernação, a impressão da capa, etc.
Todos os anos procuramos introduzir pequenas
diferenças. Este ano temos como tema o “sonho” e teremos uma capa impressa
parcialmente em serigrafia e que vai brilhar no escuro. As nossas edições são limitadas a 750 exemplares numerados."
terça-feira, 4 de dezembro de 2018
100 Anos de Ingmar Bergman: A Entrevista Ambicionada
Ingmar Bergman, Sven Nykvist, Erland Josephson e Liv Ullmann |
«Irascível
e impaciente, concordou, no entanto, em começar a nossa conversa (talvez a
primeira ou única com um jornalista português) por aludir às suas funções e
ambições como director da primeira cena nacional da Suécia. “Não quero ser
dogmático. Não entrei aqui para reformar tudo. Sou um artista, não sou nenhuma
vassoura. O que é bom deve manter-se. Recebi este cargo como se recebe um fato
novo. A forma aparecerá com o tempo.” …. Na realidade, as de início muito
criticadas medidas audaciosas então lançadas por Ingmar Bergman cedo começaram
a surtir efeito e a recolher o aplauso geral. Ele chamou a grande maioria dos
atores, encenadores, dramaturgos e diretores teatrais suecos, incluindo os
intérpretes dos seus filmes, garantindo-lhes boas condições profissionais e
financeiras. Libertou-os de exclusividades absurdas, dando-lhes plena
autorização para aplicar o seu talento na valorização da arte e no benefício do
público em todas as oportunidades possíveis. No Real Teatro Dramático ou
noutros palcos, na capital ou na província, no cinema ou na televisão. Realizou
teatro para crianças e estudantes em salas alugadas. Levou fragmentos do
Dramaten vários pontos do país. Incluiu um reportório infinito, com as obras
mais atuais e discutidas em qualquer ponto do mundo. Criou teatro a preços de
cinema.
“O
mais importante é a difusão do teatro e o direito do público de apreciar o
melhor” – “Satisfeito com os resultados?” – perguntei. Resposta: “Nunca poderei
estar contente desde que haja uma cadeira vazia num espetáculo.”.
(…). Sempre foi evidente que para
Bergman a arte era um sacerdócio. Na sua opinião um artista só devia
desempenhar figuras pelas quais se apaixonasse. Contrariamente ao normal, não
forçava os atores a adaptarem-se sacrificadamente às personagens das suas
obras. Ao criar histórias, modelava-as desde o princípio às características genuínas,
mentalidade e temperamento dos artistas com quem contava. Detestava mudar de
intérpretes nos seus filmes. Uma grande parte dos seus atores trabalhava com
ele ininterruptamente há mais de vinte anos. “Quando trabalho num filme ou numa
peça, todas as personagens se metem de tal forma na minha cabeça, que eu
próprio chego a submergir nelas” – confessou.»
César
Faustino in E, Revista
do Expresso, 1 de Dezembro de 2018
domingo, 2 de dezembro de 2018
Cá Dentro Sou Eu que Mando
Não vislumbro qualquer veleidade em ser poeta profissional
o cuidado do livreiro em estantes devidas
com letras em série exibidos nas livrarias
lidos por leitores com óculos de vidro de garrafa
ou outros mais expeditos a praticar comparações
O que eu sempre quis e sem qualquer tipo de redundância
é dar resposta a esta forma de me sentir à parte
afastado de qualquer verso, rima ou metáfora
a intransigente angústia perante o inefável
fúria infinda de trazer calçado nas ruas
uma meia de cada cor sempre comigo
como se tivesse há muitas, muitas luas
seis curtos e inolvidáveis anos
o olhar incrédulo de minha mãe para gritar:
"-Cá dentro sou eu que
mando!"
sábado, 1 de dezembro de 2018
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