segunda-feira, 20 de julho de 2020

Da Educação


           

         "Hoje, no dia do aniversário de Nélson Mandela, que nunca deixou de valorizar a aprendizagem, a educação e o conhecimento como forma por excelência de afirmação da liberdade humana, e que enquanto esteve detido em Robben Island completou um curso universitário por correspondência, lembremos as suas inspiradoras palavras para nos guiar na acção e dar força na luta pela construção de um mundo mais próspero, justo, livre e pacífico - "A educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo."


              Jorge Sampaio, Público, Sábado, 18 de Julho de 2020.

Um Verso de José Afonso

Vem devagarinho para a minha beira

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Escultura de Canto da Maya

Exposição "Canto da Maya" no Núcleo de Santa Bárbara 

Relógio de Sol

o rapaz sobre a amurada 
vai casar com a rapariga
mais magra de todas 
mas ainda é novo
lança alimento à praia
onde as gaivotas 
se encontram
é o sítio onde mora
irá casar,
não passa da madrugada,
repousa agora,
é cedo

a irmã desse rapaz
deixou o pai morrer 
casou com um libertino
amando-o como a uma profecia
dela a mulher de crença
gasta-se 
com a luz do dia

o irmão de ambos 
prá cidade servir 
crivou a arma de balas
-sabe-se que a a alma é um número-

o homem enche-lhes o copo
d´água tinge-se-lhes o coração
plúmbeo cor de pedra
inevitável os persegue 
são três as horas 
que se lhes esgotam no corpo.


Ana Paula Inácio in "As Vinhas do Meu Pai", Quasi Edições, Junho de 2000. 

quinta-feira, 9 de julho de 2020

"Um Passo para Sul" de Judite Canha Fernandes

"-Professora! - gritou uma voz.
Fingiu que não ouvia. O pior que lhe podia acontecer naquele momento era ter de falar com alguém.
-Professora! Professora!!
Continuou.
-Professora Ângela!
A voz dizia-lhe qualquer coisa (talvez das turmas dos anos anteriores?), mas já alguém lhe tocava no ombro. Um rapaz alto e magro, polo vermelho por fora das calças de ganga escura, aí pelos vinte anos, sorria à sua frente com ar nervoso. O volume na garganta aumentou. Enquanto dava aulas a uma turma, lembrava-se dos nomes de toda a gente, sem excepção, porém, depois de registar as últimas notas na pauta, esquecia nomes e sobrenomes para sempre e desejava com profunda intensidade nunca mais encontrar os respectivos seres humanos.
-Como está, professora?-perguntou.
-Tudo bem - respondeu, tentando sorrir. 
-Há uma coisa que tenho de lhe dizer...- balbuciou, torcendo as mãos.
-Sim?
-A senhora foi a melhor professora que alguma vez tive....mudou a minha vida. 
Dito isto, afastou-se rapidamente. 
Ângela suspirou e continuou a andar. Só ao dobrar a curva, a duas ruas da casa, se deu conta do bonito e enorme daquilo. As aulas, as aulas. O seu precioso e surpreendente prazer. Fechava a porta da sala atrás de si e deixava cada turma engoli-la, voraz, o quadro, os olhos, os livros, recentemente também os vídeos, os links, a conversa, as perguntas, tudo encaixava perfeitamente. Parecera ter nascido para dar aulas magníficas, um poder mágico que nunca soube de onde vinha. Nos intervalos perdia-se de aborrecimento. Às vezes tomava café no bar, outras lia qualquer coisa quando ouvia o que diziam à sua volta, em geral conversas que pareciam discursos, coisas do individualismo hedonista contemporâneo de self-change, sublimadas em vaga espiritualidade. Inevitavelmente, surgia uma frase do tipo: «Eu sei o que isso é, passei por isso, mas tive a força de mudar. Mas até para isso tinha alguma paciência, se alguém lhe dirigia a conversa, ficava calada, sorria, às vezes até anuía com ar compreensivo. Só as aulas lhe interessavam.Talvez por isso os dias de ataques como aquele acontecessem mais ao fim de semana. Ao contrário de muita gente, trabalhar era a actividade mais saudável."
Judite Canha Fernandes, in "Um Passo para Sul", Gradiva, Setembro de 2019.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

domingo, 5 de julho de 2020

Um Verso de Mazzy Star

I think it's strange you never knew

Canto da Maya no Núcleo de Santa Bárbara

"Canto da Ilusão", 1929. 

...que as Varinas eram as ovarinas de Ovar?

         "Sim, é verdade. As varinas, mulheres que em Lisboa vendiam peixe e se fixaram sobretudo no bairro da Madragoa, e mais tarde em Alfama e Mouraria, são descendentes das gerações de ovarinas vindas do litoral de Aveiro no início do século XIX, essencialmente do concelho de Ovar, para acompanhar os maridos pescadores. Com o tempo caiu a letra que as ligava às raízes e fixava  residência na sua alma. De Ovar trouxeram a atitude viva e desperta que fazia delas uma população inteiramente à parte. E era vê-las, atrevidas e ruidosas com uma canastra de fundo chato, que equilibravam na cabeça com imodesta habilidade."

Ana Rita Ramos, in Jornal Público, sábado, 4 de Julho de 2020

Aprender a fazer chá

           "Para aprender a fazer chá recomendo que se usem exclusivamente os chás sublimes da Gorreana. Visitei há muitos anos as plantações  de chá em São Miguel e recomendo a visita a quem tiver a sorte de ir àquela abençoada ilha. 
            Os chás são todos muito bons e claramente etiquetados, os preços são justíssimos e têm a vantagem de serem naturalmente bio (não há pragas de insectos em São Miguel). A Gorreana é uma família que faz uma família de chás, desde o chá verde ao Oolong e ao chá preto, com folhas inteiras  ou partidas ou naturalmente moídas." 
Miguel Esteves Cardoso, in Fugas, 4 de Julho de 2020. 

sábado, 4 de julho de 2020

"Surdina", de Rodrigo Areias, estreia dia 9 de Julho.

daqui: cinema da villa

       "Embora discuta muito com os realizadores no processo de criação, não tenho intenção de fazer filmes parecidos com os deles, nem que os deles se pareçam com os meus. A liberdade criativa e artística é o que melhor caracteriza o nosso cinema. A desformatação do cinema português está alicerçada nessa liberdade, na abrangência de abordagens e não em criar escolas e linhas de pensamento. 

           Rodrigo Areias, entrevista de Manuel Halpern, in Jornal de Letras, Julho de 2020.

Ontem, escrito numa parede da cidade

Não me canso de trazer papel para casa

Sobre o Teatro...

     "O teatro é uma forma social que depende, mais do que qualquer outra da sua eventual manifestação pública e por isso, de condições culturais gerais. Pode-se teoricamente conceber um filme rodado com intenção de posterioridade, o teatro, esse existe no presente, ou não existe."
                                                                   
                                                                                 Vaclav Havel in jornal "Expresso", Dezembro de 1990.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Um Poema de José Tolentino Mendonça

Os homens nasceram para ser esquecidos 
perante o batalhão de bandeiras extintas 
é natural que muitos se perguntem 
para que servem as mãos 
mas na penumbra, quando o coração bate
sem que saibamos porquê 
vem-nos ao pensamento 
que talvez a chama não esqueça 
o silêncio onde se consumiu

in Três Poemas inéditos, Jornal de Letras, Julho de 2020

Da Claustrofobia

"O filme é um retrato social. Essa má-língua, esse burburinho popular, que se torna um pouco claustrofóbico, ainda subsiste ?

-Os meios pequenos têm essa característica. Senti essa claustrofobia quando cresci em Guimarães. Foi por isso que saí de cá aos 17 anos e só voltei aos 30. E o que me fez voltar é exactamente o que mesmo que outrora me fez ir embora. É bom passear pela rua e perguntarem-me pelos meus filhos. Há uma relação de proximidade. Guimarães tem 160 mil habitantes, mas é como se fosse uma aldeia." 

Rodrigo Areias, entrevista de Manuel Halpern, in Jornal de Letras, Julho 2020.  

Ontem, escrito numa parede da cidade

Um dia destes zango-me com os plátanos