Gostaria
de ter sido um girassol. Um girassol hirto no seu caule, de
longas
folhas verdes desajeitadas e uma enorme corola doirada, se
guindo
cegamente o sol.
Estou
só e a minha cabeça explode em milhões de girassóis.
terça-feira, 30 de novembro de 2021
Van Gogh por Van Gogh de Jorge Sousa Braga
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
Fim de Semana Musical no Arquipélago
sábado, 27 de novembro de 2021
"Ir Indo" de Joaquim Castro Caldas
a gente aprende
o coração à lareira
que
se fica a ir
e
reacende
até
que um dia
alguém se lembre
in Magoa das Pedras.
sexta-feira, 26 de novembro de 2021
Cinema Polaco: "Ida" de Pawel Pawlikowski
quinta-feira, 25 de novembro de 2021
quarta-feira, 24 de novembro de 2021
"a pão e água" de Joaquim Castro Caldas
ainda
há gente boa, de cabeça deslumbrada, o coração em cima
da
mesa com uma pistola descarregada, a contar a última aventu-
ra
sem medo que lh´a levem, ainda gente pura que partilha
a
aventura e empresta a pistola, carrega o coração às costas com
a
cabeça à mostra: ainda há gente, e bem haja, com quem se
pode
abrir a vida toda e a quem se deve o prazer de ser gente,
não
só a bem de quem mas à maneira de ser gente pura e mais
nada.
Ainda há gente rija e linda que demora mais a amar do que
é
amada. um grande amor ainda espera pelo amor mais do que
uma
vida inteira.
in Mágoa das Pedras, Deriva Editora, 2008.
terça-feira, 23 de novembro de 2021
WE SEA: "Cisma" no Arquipélago da Ribeira Grande
Cinco anos volvidos desde a sua apresentação e com um novo álbum pronto a estrear eis que os ribeiragrandenses, WE SEA, estão de volta ao Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande. O encontro dar-se-á no dia 26, sexta-feira, às 21h30. Com os habituais Rui Rofino (voz) e Clemente Almeida (sintetizador e baixo) estarão também em palco Rómulo San-Bento (guitarra) e Pedro Rodrigues (bateria) na apresentação de “Cisma”, 2021, o disco que substitui “Basbaque”, editado em 2019, e que será o mote para reunião alargada da sua legião de seguidores neste seu regresso a casa!
Desta feita, aguarda-se com expectativa, para lá da estreia dos temas de "Cisma", o entoar de canções como “Ser de
Ver”, “Basbaque”, “Tantos mas, mais quantos Nós?”, “Verde Seco Feito Negro” na voz distinta e arrojada de Rui Rofino! É sabido que Rui Rofino continua a escrever de
forma livre, divertida e desempoeirada! Este canta com muita alma e é seu
costume entregar-se em palco, destilando a verve e o charme na língua de Antero
de Quental, mantendo incólume o seu sotaque açoriano. Quem o ouviu e viu pela primeira vez, há cinco
anos, soou de imediato a descoberta e augúrios de encantamento. É previsível, agora, que haja uma maior maturidade e desenvoltura em palco, uma diversidade na explanação no cardápio
das narrativas e versos tal como maior plasticidade na luz e no timbre das
canções. Por isso, ouvidos à escuta, dado que não já não há muito que cismar até à próxima sexta-feira!
segunda-feira, 22 de novembro de 2021
domingo, 21 de novembro de 2021
Do Riso
"Passamos a vida a perguntar se passámos os limites e se há limites se há alguma coisa sagrada da qual ninguém se deve rir. Eu acho uma boa pergunta e acho que não. Não há nada que não mereça ser alvo de risada. Algumas coisas não vão ter piada, mas não é por isso que devam ser clean"
Gregório Duvivier, Revista Expresso, 20 de Novembro de 2021.
"as algas e o musgo" de Joaquim Castro Caldas
debaixo das pedras vento
vísceras e sol
não há sombras
e a meio do Outono
as gaivotas rompem a neblina
com o bico
os barcos brincam em dueto
ao apito com eco
para a claridade
há um biombo
e a silhueta de uma mulher
despe-se
mergulho no desenho
azul medo do mar
bebemos buio
fumamos breu
conservas o coração
quente para sobreviver
aos rigores do Inverno
e tudo se passa por dentro
in Mágoa das Pedras, Deriva Editores, 2008.
sábado, 20 de novembro de 2021
"Na Ilha de Porto Santo" de Ana Hatherly
o poeta espraia lentamente o olhar
e enquanto as pequeninas ondas
correndo para a praia se abatem
por sobre a areia quase distraidamente
o espírito do lugar penetra-lhe os sentidos
e no seu pensamento subitamente brilha
o perfil mágico, mítico, da ilha.
in Itinerários, Quasi Edições, 2003.
terça-feira, 16 de novembro de 2021
Arquipélago: Há Arte no Centro!
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
"Avec le Temps" de Ana Hatherly
Com o tempo
tudo
passa
do
possível ao improvável
Com
o tempo
desabitamos
as
condições do corpo
a
sua assinatura
Com
o tempo
descobrimos
o sentido fractal –
na
face do Banquete
as
coisas conhecidas
tornam-se
sussurro
O
futuro é um despiste amargo
um
vértice truncado
que
se esfuma
Divorciados
do acaso
afastamo-nos calados
No
deserto
surdamente
gritamos
domingo, 14 de novembro de 2021
quinta-feira, 11 de novembro de 2021
quarta-feira, 10 de novembro de 2021
"Tenerife ao Longe" de Ana Hatherly
que tinham sido penteadas
com pentes de largos dentes
que deixavam
largos riscos no toucado do mar
Ao longe
o vulto difuso da pequena ilha
emergia
acima de uma bruma rósea
com seu pico nevado
Sonhei estar a teu lado
falar-te
ouvir-te
Mas o vulcão está mudo
e tudo me afasta de tudo
in Itinerários, Quasi Edições, Março de 2003.
terça-feira, 9 de novembro de 2021
segunda-feira, 8 de novembro de 2021
" - Como é que é conhecido?
- Como blagueur. Um tipo com graça. E é o contrário, porque se graça resiste, ela é um bocado amarga. Até me arrumarem apressadamente com o Tolentino, o Junqueiro."
in "Diz-lhe que Estás Ocupado - Conversas com Alexandre O´Neill", Edição, organização e introdução de Joana Meirim, Tinta da China, Maio de 2020.
domingo, 7 de novembro de 2021
Um Poema de Óscar Outono
Houve uma precipitação na rima
A queda e gosto pela declinação
Desse teu corpo poroso em demasia
O desgaste eufórico da decepção
"Half-Heard" no Teatro Ribeiragrandense
Esta coreografia teve a direção de Jenny Rocha, com ligações familiares à comunidade açoriana, a música original de Joseph Rivas, por sinal, grave e profunda, que marcava o compasso, esclarecendo a exaltação dos gestos das bailarinas em palco, num elenco composto por: Alexandra Bitner, Dervla Carey-Jones, Nikki Ervice, Jamie Graham, Nicole Lemelin que assim se expunham de forma enérgica e clara, revelando a tirania dos gestos viris, as feições carregadas da opressão em curso e que se manifestam ao longo dos tempos. Continuarão?
E, por instantes, foi assim que, ainda que durante muito pouco tempo, Nova Iorque invadiu São Miguel em pleno Outono! Valeu a pena!
sábado, 6 de novembro de 2021
sexta-feira, 5 de novembro de 2021
quinta-feira, 4 de novembro de 2021
Diogo Lima: o Cineasta Irónico!
"Lúcia e Conceição": À Luz da Camelia Sinensis!
Ainda hoje o hábito contemporâneo do chá caracteriza-se por ser bebido às cinco da tarde numa chávena de porcelana. O chá terá sido introduzido nos Açores por via das naus e caravelas provenientes do oriente no século XVIII. Depois, foram chegando biólogos e botânicos que aprofundaram o conhecimento da planta camelia sinensis e tornaram o chá um fenómeno insular…até hoje!~
“Lúcia e Conceição” é um documentário produzido pela “Cinequipa”, um grupo de cineastas da RTP, liderada por Fernando Matos Silva. A realização do documentário “Lúcia e Conceição” ocorreu no ano de 1974, um ano antes da primeira emissão de televisão nos Açores, que teve lugar a onze de agosto de 1975. Este documentário retrata as crianças e adolescentes que trabalhavam nas plantações de chá, na Gorreana, freguesia da Maia. A Fábrica da Gorreana é, ainda hoje, dos locais mais antigos da produção de chá na Europa, com data da fundação de 1893. Em 1974, à altura deste registo documental, o vencimento diário destes adolescentes que recolhiam a planta do chá situava-se nos 36 escudos diários. Era um período social e histórico duma zona rural marcada essencialmente por parcos recursos financeiros, pouca ou nenhuma mobilidade social e ausência de luz elétrica.
As adolescentes Lúcia e Conceição, que dão título à aventura cinematográfica em pleno momento do advento da democracia, falam, sobretudo, em emigrar para o Canadá, dada a ausência de trabalho remunerado na ilha. O pai de Conceição, agricultor e camponês, plantava nessa altura essencialmente milho e beterraba. O milho era um elemento fundamental para ser usado em casa para a feitura de massa sovada, depois de ter ido à moagem comunitária. Conceição tinha mais quatro irmãos, sinal de outros tempos em que os agregados familiares eram bem mais alargados. Os hábitos quotidianos, ao final de cada dia destes adolescentes também, pois após os trabalhos duros na recolha do chá, ainda havia tempo para ler “romances de amor”, caprichos, publicações que deviam circular de mão em mão, dizemos nós. Os adolescentes retratados neste documentário tinham maioritariamente a quinta e a sexta classe da altura. Estes trabalhavam cinco meses na apanha do chá e depois deslocavam-se para mais dois meses na atividade da apanha do tabaco. Após visionamento do documentário, constatamos que estas crianças e adolescentes tinham como único horizonte continuar as profissões dos progenitores, sendo que eram raras para estes a oportunidade de prosseguir os seus estudos. Este trabalho da apanha do chá era feito essencialmente pelas mulheres das zonas rurais, já que as da Ribeira Grande se apartavam dos labores agrícolas, e tão só a dedicação às atividades de costura e bordados, implicando por isso uma distinção com as mulheres das freguesias que se dedicavam à agricultura e demais lides domésticas. Quando se lhes pergunta pela alimentação que tinham em casa, estas desmancharam-se a rir. Porque será? A alimentação destas crianças e adolescentes que trabalhavam nas plantações de chá era feita sobretudo à base de peixe e batatas, apesar da abundância de vacas na ilha, sendo a carne para dias especiais.
No início do documentário ouve-se ainda a voz do narrador assegurar que estes adolescentes nunca verão este filme e que por isso não terão oportunidade de fazer o seu autorreconhecimento. Passou entretanto quase meio século, o chá permanece naquele lugar como elemento essencial e motor da economia local. A vida das pessoas e das crianças, por sinal, mudou e bastante. O que dizer agora depois de vermos o filme tantos anos depois?
O Designer Omnipresente!
quarta-feira, 3 de novembro de 2021
Sobre dois adolescentes que esta tarde atravessaram a rua de mãos dadas
Passaram o portão de ferro da escola
e deram as mãos
para atravessarem a rua.
E, de mãos dadas, formaram
uma corrente
tão poderosa, tão compacta,
que o trânsito teve mesmo de parar
e ficou completamente imobilizado. Não vou ceder
agora à tentação
de afirmar que assisti
à materialização de um milagre,
afinal é coisa
que deve estar sempre a acontecer,
em algum lugar, ao fim
da manhã ou da tarde, logo
depois das aulas,
dois adolescentes dão
as mãos, atravessam a rua, bloqueiam
a circulação rodoviária
de uma cidade.
Mas pensa nisso por um segundo,
pensa na força dessa corrente.
Luís Filipe Parrado