quarta-feira, 30 de abril de 2014
Ontem escrito numa parede da cidade...
sábado, 26 de abril de 2014
“Vir`ó Balho” dos Myrica Faia no Auditório do Ramo Grande
Imagem retirada do "Quiosque Açoriano" |
Abrilizar...
quarta-feira, 23 de abril de 2014
segunda-feira, 21 de abril de 2014
Postal Pascal para Miriam Manaia
Continua a invernia por aqui.
sábado, 19 de abril de 2014
Dois Poemas sugeridos por Tiago P. Rodrigues.
quarta-feira, 16 de abril de 2014
Ontem escrito numa parede da cidade
terça-feira, 15 de abril de 2014
Wave Jazz Ensemble no Auditório do Ramo Grande
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Há Rótulos na Biblioteca de Angra
Reservatório
terça-feira, 8 de abril de 2014
Pavese e Alexandra sabem do que falam...
Foto: F.R |
Citando Cesare Pavese:
“Un paese ci vuole. Non fosse che per il gusto di andarsene via. Un paese vuol dire non essere soli. Sapere che nela gente, nelle piante, nella terra, c´e qualcosa di tuo. Che anche quando non ci sei resta ad aspetarti.”
domingo, 6 de abril de 2014
Soneto Branco
fundo de areia à água azul dos sons
ao nome do navio que a sobrenada
tal como à estrela animal de seis pontas
lembrando a flor e o cheiro a maresia
recém-casados por amor de abrir
o peito à colheita da solidão
que as mais das vezes se chama poesia
depois quebra-se o encanto dão-se a ler
linhas sem feitiço corpos reféns
coisas da vida que aí se lhes rouba
no sentido que dão sem querer ter
ressurreições que trazem à lembrança
mortes que já mais houveram lugar
João Paulo Esteves da Silva
FAZENDO DAS ILHAS
Revelação e Ousadia Lírica
Houve um tempo que foi simples, demasiado
simples até, escrever ou editar um livro em Portugal. Trabalho árduo será
publicar um livro que contenha uma determinada identidade e que possua dentro de
si um sentido de comunidade e diversas e intrincadas conexões estéticas, isto
é, que goteje lastro e contamine tudo à sua volta num universo visível de
centelha para lá de abarcar dentro de si um combinado sensível de partilha e
inclusão. Impossível? Pode ser que não!
O
livro “há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida”, do jovem micaelense,
Leonardo Sousa, é uma primeira obra que reúne dentro de si uma galáxia afectiva
de diferentes autores, sendo, sobretudo, um livro de um autor com força e
singularidade que editou o seu livro iniciático e que não é, certamente, mais
um a povoar as estantes das livrarias ou das bibliotecas. Escrever um livro é,
portanto, uma tarefa arriscada e, na maioria das vezes, um feito inglório,
ainda que nos convençam do contrário. O autor que tem uma aguda consciência do
exercício da escrita e da transpiração que esta requer, escreve na página 41
deste livro em forma de aviso: “fazer um
verso é entregar a alma e mutilá-la muitas vezes”. Alma mutilada, portanto.
Daí que este livro com o curioso título “há-de flutuar uma cidade no crepúsculo
da vida”, para além de ser a primeira súmula de versos e contos do autor, é
também o anúncio da sua afirmação enquanto escritor e literato, a sua assunção
de vida literária e sinónimo de revelação e ousadia lírica como podemos ler em
“Nota Informativa I”: “não há utilidade
em conhecer palavras / tua boca move-se com a lentidão das portas à noite /ou com
a monotonia do lume que te passeia nos olhos/ continuas a procurar/ as sílabas
que te levem ao derreter dos versos/ ou ao presságio da saliva dos espelhos”.
Escrever ou procurar as sílabas que te
levem ao derreter dos versos passou, portanto, a fazer parte da sua vida e
este enfrentamento é digno de estima, elogio e admiração. Seria, no entanto,
bom esclarecer que muito embora os encómios naturais a que esta primeira obra possa
estar sujeita convém não embandeirar em arco ou desperdiçar loas de forma fácil
e corriqueira pois acreditamos que ainda há muito caminho por fazer e desbravar.
O livro convoca a poesia, a prosa e o conto sendo neste último registo que o
autor arrisca abrir o jogo do que está para vir: “- rasurem a minha vida, quero
escrever outra e medito, eis as minhas pernas um tanque e cicatrizes (…)”. O
escritor está consciente que este é um livro de homenagem aos seus autores
dilectos e que por ali ecoam vozes de leituras, lampejos e demais amores-perfeitos.
Ele começa desta forma um diálogo de gigantes e comprova a presença dos autores
eleitos em muitas das páginas do seu livro, o que convenhamos não há mal nenhum
nisso e é até sinónimo de leitura e gratidão perante a obra de outros. Não será
muito difícil encontrar aqui e ali ecos e ressonâncias de Paula Sousa Lima, Al
Berto e o seu “Horto de Incêndio”, ou ainda marcas de intertextualidade de
leituras mais recentes dos romances e crónicas de António Lobo Antunes, para
além de toda a obra do seu poeta de eleição: Herberto Helder.
A
fasquia que Leonardo Sousa colocou perante si está, portanto, muito elevada e,
só por isso, devíamos neste momento elogiar a sua ousadia e coragem lírica.
Energia e Ética
Para a palavra fazer, gosto da ideia da construção
Gonçalo M. Tavares- 1. Edição: Relógio D’Água, 2004
sexta-feira, 4 de abril de 2014
Declaração Urgente à Primavera!
terça-feira, 1 de abril de 2014
Os Pássaros Nascem na Ponta das Árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
Deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
Quando o Outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
Mas deixo essa forma de dizer ao romancista
É complicada e não se dá bem na poesia
Não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
ALENTOS
acho que é dia
vou entre línguas
que ninguém sabe
amarga e branca
em pleno inverno
o sol já vinha
florescia
fora da amêndoa
dentro das línguas
ninguém sabia
que despertava
com a flor primeira
acho que é dia
II
mexe mexe damasqueiro
ainda sem folhas ali
com as origens à mostra
todo o por dentro de fora
que até se vê através
das flores que não vieram
toca no que ainda dorme
mexe no mês de Janeiro
fica desarmado um ninho
onde o tronco se bifurca
desabitado uma roda
de restos em turbilhão
mexe dentro da origem
toca na polpa do alperce
invisível mas que vem
relâmpago no caminho.
III
se te lembras da China
ou se já tudo esqueceste, diz,
amoreira tão alta, cansada de
tudo. cantas agora em silêncio,
escuta-se
a tua altura sem neve.
lembras-te ao menos do verão
da fadiga, folha após folha
dizendo amoras amoras
dizendo tudo da seda da fruta.
cantar, diziam amoras
nos sinais do Outono
a cair a cantar
IV
querem as uvas sair daqueles meandros
daquelas matérias mortiças;
vide dormindo sem presença
passa despercebida
tempo concentrado, vida escura
querem que pague a fé na sepultura
que hás-de florir
dar sombra verde uma turba de mãos
estender-te velocíssima
agarrar trepar aumentar invadir o espaço
fazer brotar cabelos de bagaço
sei por ouvir dizer
por histórias contadas repetidas
coisas do teu futuro
cachos sumos bebedeiras
bondades crimes carreiras.
acreditas que sonhei
estar sentado à tua sombra
num socalco de Lisboa
e depois vinha uma abelha
de Évora com um ferrão
(daqueles que suicidam qualquer abelha em qualquer lugar)
para me comer à mão?
V
nespereira
não pereira
que já seca
que já arde
na fogueira
pêra seca
sobre a mesa
desespera
a noite inteira
dizes freira
sempre verde
gargalhada
não esperada
cócegas dentro da nêspera
tragédias de Inês Pereira
nome doce
no caroço
abrasivo
na dentada
riso vivo
amarelo
como a casca
como a chama
alaranjada
quatro nozes
vinte vozes
contra a alma
mil algozes
no regresso do Japão
casa queimada não gozes
João Paulo Esteves da Silva