Ilustração de Jacques Cousteau (Pedro Valim) |
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
Fazendo de Março (nº97)
J.P.Simões no Sporting...da Horta.
Fotografia:http://www.jpsimoes-fotos.blogspot.pt/ |
Já passaram mais de dez anos dos “Quinteto Tati” e houve, entretanto, o álbum “1970” e um trovador em dueto com Márcia (a canção chamava-se “A Pele que Há em Mim (Quando o Dia Entardeceu”), tendo este tema ajudado a elevar-se ao trono da popularidade. Para trás ficou a participação enquanto cantor dos "Belle Chase Hotel" e várias “óperas musicais” levadas a cima do palco em forma de canção. Quem for assistir ao concerto na sala do Sporting da Horta, no próximo dia 28 de Fevereiro, pelas 23 horas, pode ouvir baladas, dissonâncias e ousadias deste cantautor presentes no recente disco “Roma”, editado em Abril de 2013. A organização do concerto é da Associação Cultural Música Vadia.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Que Vergonha Rapazes!
Que
vergonha, rapazes! Nós práqui,
caídos na
cerveja ou no uísque,
a enrolar a
conversa no “diz que”
e a
desnalgar a fêmea (“Vist’? Viii!”)
Que miséria, meus filhos! Tão sem jeito
é esta
videirunha à portuguesa,
que às vezes
me sorgo no meu leito
e vejo
entrar quarta invasão francesa.
Desejo recalcado, com certeza...
Mas logo
desço à rua, encontro o Roque
(“O Roque
abre-lhe a porta, nunca toque!”)
e desabafo:
- Ó Roque, com franqueza:
Você nunca quis ver outros países?
-Bem queria,
Sr. O’Neill! E... as varizes?
Alexandre O`Neill in "De Ombro na Ombreira" (1969)
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Os Wave Jazz Ensemble no Teatro Faialense
-Em que fase é que
o Wave Jazz Ensemble se encontram, isto é, o que é que têm feito e o que pensam
fazer?
Fotografia de Manuel Martins Menezes |
WJE-A banda, tendo nascido em 2010,
partindo da vontade de uma exploração da linguagem jazzística em combo, no
sentido de permitir uma abordagem mais livre dos temas, privilegiando o
desenvolvimento da improvisação, continua a fazer esse trabalho no sentido de
uma evolução em termos de conjunto e também individual. Paralelamente, ou
complementarmente, a banda tem trabalhado e desenvolvido temas originais e
arranjos próprios de standards e, também, temas tradicionais. Os Wave têm
feito, também, um trabalho gravação de alguns desses temas, com vista a uma
publicação futura, neste momento, sem prazo definido, dependendo esta dos
apoios necessários. Para além desta atividade, existe depois o trabalho
específico de preparação de repertório específico para os concertos que,
felizmente, têm acontecido, sendo o próximo no dia 28 de fevereiro às 21h30, no
Teatro Faialense. No futuro próximo, a banda tem compromissos em agenda de
natureza estritamente musical e, também, de divulgação e sensibilização para o
Jazz, encontrando-se alguns deles em fase de produção, e que vêm na sequência
dos concertos marcantes para a banda, como foram aqueles com Claus Nymark, Coro
Pactis, por exemplo, sendo a nossa intenção poder fazê-los, também fora da
Terceira, com outros convidados, assim haja interesse das entidades promotoras
de eventos nesse sentido.
Excerto de uma
entrevista aos Wave Jazz Ensemble
domingo, 22 de fevereiro de 2015
Ontem escrito numa parede da cidade
"Eu nuvem, tu nuvem, ele nuvem, nós nuvem, vós nuvem, eles nuvem de certeza."
sábado, 21 de fevereiro de 2015
Ver Estranhas Formas a Pensar - sobre a escultura e os desenhos de Agnès Juten
Escultura como arte da representação. Desde a
antiguidade clássica, muito antes da escultura ter sido escolhida para ser a quarta arte por Ricciotto
Canudo, que esta esteve sempre ao serviço da representação do corpo humano, elevando-o à condição suprema nas artes clássicas, pontuando as suas formas
antropomórficas com o estatuto de divindade. Desta tradição e volume constam o
mármore e o bronze como materiais essenciais ao trabalho do colectivo de
artistas. O renascimento acentua a representação naturalista do corpo humano,
desenvolvendo a técnica e aperfeiçoamento do nu, muito pelo conhecimento
adquirido e avanço do saber acerca da anatomia humana. Os processos criativos
foram variando ao longo dos tempos e das épocas. Esculpir era, pois, ilustrar,
representar por imagens o ser humano em redor, e se possível revelar a
plasticidade das formas humanas, moldando-o com várias técnicas e materiais envolvidos na criação de objetos representativos da figura humana e humanizada.
Sem título - Agnès Juten (2014) |
Escultura como arte em movimento. A
escultura contemporânea e a arte em geral podem ser consideradas inúteis e
desprovidas de qualquer função caso não tenham, pelo menos, a veleidade de nos
fazer pensar. É perfeitamente consensual acreditar que os objetos aqui
presentes nos suscitem um conjunto de significações, sentidos e, com toda a
clareza e distinção, sentimentos. Dessa sensibilidade da autora até ao vosso
entendimento como fruidores da obra da arte é que podemos afirmar se a arte
está a ser devidamente cumprida, isto é, pensada, interrogada, sentida. Essa é
a escultura, enquanto metáfora do mundo e da vida, que faz mover o pensamento, o
sentimento. Aquela que é capaz de lançar novos mundos no nosso mundo.Aquela que
introduz acção, movimento, enfim, desequilíbrio, essencialmente, inquietação. Inquietemo-nos.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
"Novas Obras"de Agnès Juten na Casa Manuel de Arriaga
retirado daqui:www.agnesjuten.com |
Agnès Juten irá expor esculturas
e desenhos na Casa Manuel de Arriaga, na cidade da Horta, Ilha do Faial. A
exposição intitulada "Novas Obras" abre dia 20 de Fevereiro, às 18 horas, e vai até 10 de Abril. Agnès
Juten é uma artista plástica, holandesa, radicada na Horta, com um longo
percurso e pergaminhos. Será mais uma oportunidade de apreciar um
conjunto considerável da sua vasta obra. São desenhos e esculturas muito
recentes, alguns destes realizados para o efeito, que a artista elaborou, imaginou e concebeu no seu atelier da rua Visconde de
Santana, nº 7.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Lastro Rubro de um Fevereiro Ameno
Nuvens feitas farrapos cobrem por instantes o céu que se avista da praia de Porto Pim no declinar do sol. São vários
desenhos de nuvens que se estendem até ao horizonte, dispostos como lençóis brancos
repletos de curvas e de formas bem compridas. Há, no entanto, um clarão de luz a abrilhantar a cor rubro-alaranjada que emerge ao fundo de um cenário alvo e resplandecente.
A noite há-de chegar. E enquanto há reflexos de uma luz flamante resiste-se à
caminhada que nos virá a temperar a vista com um azul cerúleo, desbotado,
completando assim a solenidade de cores que se agrupam sem se agredir.
Acompanha-nos o marulhar das ondas como carneirinhos movimentados a compasso e a talho
de despedida de mais um fim de tarde ameno. Não tarda nada e a noite vencerá o dia.
Desfeita a ilusão que resta da claridade, recupera-se com esperança aquele momento
ténue e reluzente. É noite. A escrita deverá cumprir agora o seu dever do que resta
dessa incandescente interioridade.
Do amadurecimento
"O amadurecimento é perceber que não somos omnipotentes e que os verdadeiros heróis são aqueles que não são mitificados. São aqueles que são heróis e amados por serem como são. Uma coisa é mitificar as pessoas, outra é aceitar a vida como ela é. Absurda. Sem lógica, não mitificada. Não ficcionada."
Beatriz Batarda, in P2, 15 de Fevereiro de 2015
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
Outros Sentires e Pensamentos do Corpo
Wave de Agnès Juten (1988) |
“A
realidade criativa do artista é a de questionar as respostas da arte, no
sentido de abrir a percepção para outros sentires e pensamentos do corpo. A
arte é uma realidade empírica que se abre às intuições e se projecta no mundo
simbólico dos seus fruidores como metáfora de uma realidade mais profunda do
ser, que apenas se revela após a experiência e evidência de acto criador. Esta
consciência de que a arte comunica através da metáfora e pela revelação de algo
que suscita sentimentos e pensamentos que se consubstanciam no mundo do
fruidor, transformando a sua sensibilidade estética e o seu entendimento
artístico, é essencial para quem trabalha no campo da arte e a quer pública.”
Alberto Carneiro
domingo, 15 de fevereiro de 2015
Myrica Faya no Teatro Faialense
Myrica
Faya é uma banda musical da Ilha Terceira, composta por Bruno Bettencourt
(viola da Terra), Cláudio Oliveira (baixo), Emílio Leal (piano, voz), Pedro
Machado (guitarra, voz), Ricardo Mourão (guitarra, voz). No dia 21 de Fevereiro,
no Teatro Faialense, irão apresentar o seu primeiro
disco intitulado “Vir’ó Balho”, datado de 2014, contando com um reportório essencialmente elaborado por
músicas tradicionais açorianas, sendo certo que escutaremos as suas
reinterpretações de “Caracol”, “Charamba”, “São Macaio”, “Sol”, “Lira”, o “Pézinho
da Vila”, e ainda a celebrada internacionalmente, “Chamateia”. Estes temas são revestidos de novas
roupagens, reforçadas pela panóplia de vozes deste agrupamento e com a predominância das
cordas, evidenciado com a vivacidade das guitarras, inclusive a viola da terra, tão presentes no cancioneiro tradicional açoriano.
As Raparigas Lá de Casa
Como eu amei as raparigas lá de
casa
discretas fabricantes da penumbra
guardavam o meu sono como se
guardassem
o meu sonho
repetiam comigo as primeiras
palavras
como se repetissem os meus versos
povoavam o silêncio da casa
anulando o chão os pés as portas
por onde
saíam
deixando sempre um rastro de
hortelã
traziam a manhã
cada manhã
o cheiro do pão fresco da humidade
da terra
do leite acabado de ordenhar
(se voltassem a passar todas juntas
agora
veríeis como ficava no ar o odor
doce e materno
das manadas quando passam)
aproximavam-se as raparigas lá de
casa
e eu escutava a inquieta maresia
dos seus corpos
umas vezes duros e frios como
seixos
outras vezes tépidos como o
interior dos frutos
no outono
penteavam-me
e as suas mãos eram leves e frescas
como as folhas
na primavera
não me lembro da cor dos olhos
quando olhava
os olhos das raparigas lá de casa
mas sei que era neles que se
acendia
o sol
ou se agitava a superfície dos
lagos
do jardim com lagos a que me
levavam de mãos dadas
as raparigas lá de casa
que tinham namorados e com eles
traíam
a nossa indefinível cumplicidade
eu perdoava sempre e ainda agora
perdoo
às raparigas lá de casa
porque sabia e sei que apenas o
faziam
por ser esse o lado mau de sua
inexplicável bondade
o vício da virtude da sua imensa
ternura
da ternura inefável do meu primeiro
amor
do meu amor pelas raparigas lá de
casa
Emanuel Félix in “Habitação das
Chuvas” (1997)
(24 de Outubro de 1936-14 de Fevereiro de 2004-Angra do Heroísmo)
sábado, 14 de fevereiro de 2015
A Longitude do Amor Embarcado (com o som de fundo de "Cavalo"de Rodrigo Amarante)
Rodrigo Amarante (imagem do You Tube) |
Talvez o poeta Al Berto conseguisse falar melhor sobre"a longitude do amor embarcado" antes de ver"como seriam felizes as mulheres, à beira mar debruçadas para a luz caiada, remendando o pano das velas e espiando o mar", pois há tantos dias assim, povoados de uma felicidade miudinha como os pingos de chuva que julgam, assim, não molhar. Uma manhã de luz intensa e variada, muitos mergulhos no azul do mar, ainda uma tarde com o regresso deste melancólico mormaço tão típico da ínsula em que habitamos. A canção "Ribbon" de Rodrigo Amarante em repeat como se não houvesse ontem, amanhã ou depois. E, à semelhança de "O Céu que nos Protege", escrito pelo Paul Bowles, contaremos pelos dedos as vezes que vimos o nascer do sol ou a lua em noites de céu limpo, já que acreditamos ser tudo isto que existe em redor um poço sem fundo, uma canção interminável. Infelizmente, não é.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
Ontem escrito numa parede da cidade
-O que é que o traz por cá?
-Eu? Padeço de policromatismo açoriano.
-Eu? Padeço de policromatismo açoriano.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
Benjamin Clementine: Lamento Doce
Irrompe como
um diamante sonoro em lamento doce e timbre esvoaçante, chama de canto dorido e belo, que dá seguramente para preencher o corpo das almas e dos dias Fevereiros de canções sentidas e amadas. Música plena. Para além de cantar, toca com as mãos um piano
trémulo, quase aflito, a clamar por antigos sonhos e refeitas esperanças. As suas
canções são compostas por atmosferas electrónicas que servem apenas para criar ambientes e cânticos de tal forma plácidos, por vezes sóbrios e, maioritariamente, encantadores. O músico nascido em
Londres, com ascendência ganesa, a viver actuamente em Paris, amante da simplicidade de Leo Ferré, crítico de
Brel enquanto artista total, dá pelo nome de Benjamin Clementine. É, seguramente, uma voz em crescendo desde que
lançou o "At least for Now", álbum de estreia, afirmando e confirmando o músico talentoso que já é, para que assim o possamos escutar com alegria e redobrada atenção nos temas que hão-de vir. Até doer.
sábado, 7 de fevereiro de 2015
domingo, 1 de fevereiro de 2015
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