“O lugar ocupado pela mentira na vida humana é bem curioso. Os códigos
da moral religiosa, pelo menos no que diz respeito às grandes religiões
universalistas, sobretudo aquelas que emergiram do monoteísmo bíblico, condenam
a mentira de um modo rigoroso e absoluto. O que, de resto, se compreende: sendo
o seu Deus o da luz e do ser, forçoso é que seja também o da verdade. Mentir,
isto é, dizer o que não é, deformar a verdade e velar o ser, é portanto um
pecado; e mesmo um pecado gravíssimo, pecado de orgulho e pecado contra o
espírito que nos separa de Deus e nos opõe a Deus. A palavra de um justo, tal
como a divina, não pode e não deve ser outra senão a verdade.”
Alexandre Koyré, Reflexões sobre a Mentira, edições Frenesi.