in
Principezinho, Antoine Saint-Exupéry.
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
Da Geografia
"É claro que a Geografia me serviu muito. Sabia distinguir num relance, a China do Arizona. É muito útil, sobretudo quando andamos perdidos na noite."
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
terça-feira, 26 de setembro de 2017
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
domingo, 24 de setembro de 2017
O Melancólico Fusco que vem do Norte Europeu
Foi-se embora o Verão de calendário mas a temperatura e a humidade continuam sufocantes. Foi, não podemos negar, a estação mais cálida e abafada do ano. Esta temporada estival despede-se e é, portanto, quando usamos mais o sentido da visão, pois vivemos sob o signo da claridade e da luz solar. Agora, para nosso descontentamento, a noite chega mais cedo. Outros sentidos tomarão conta das nossas curtas vidas ali no exterior. Que assim seja, com os ouvidos à escuta neste melancólico fusco que vem do norte: “Life will See You Now”, de Jens Lekman.
sábado, 23 de setembro de 2017
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
"Muros de Pedra" de André Laranjinha
O filme estreia hoje, às 21h30, no 9500 Cineclube |
MUROS DE PEDRA
Um filme de André Laranjinha, numa coprodução Alice’s House e Museu Carlos Machado
Documentário, 2017, 15 minutos
Entrada Livre
Entrada Livre
Este filme é um olhar subjetivo
sobre a arte de construir em pedra, tanto na sua dimensão de empreendimento e
engenho humanos, como na dimensão da essência material das pedras, que é também
a essência da própria ilha: lava.
terça-feira, 19 de setembro de 2017
Da Campanha Autárquica
"Manter um inconformismo permanente com os problemas relacionados com a recolha do lixo urbano."
sábado, 16 de setembro de 2017
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
quarta-feira, 13 de setembro de 2017
São Miguel: Uma Doce Melancolia
Daqui: www.wook.pt/ |
“A melancolia é uma arte. Vede
quanta beleza existe no próprio e simples dizer das cinco sílabas desta
palavra: me-lan-co-li-a. Agridoce, tão próxima do silêncio interior como das mágoas
do olhar, nos Açores esta palavra é comum a todas as ilhas. E a todas as
pessoas. Mas em nenhuma delas como em São Miguel ela resulta tanto desta forma
de contemplar o encanto da paisagem: de a ver de coma (quando se sai da Ribeira
Grande para o alto da serra, a caminho da Lagoa do Fogo): a gente pára ali, a
meio da encosta, volta-se para trás, e pasma. Deslumbra-se com o que tem à
frente dos olhos. Aquilo que se avista de lá de cima é como um tombadilho
gigantesco, todo verde e quase plano, o qual roda em círculo connosco e envolve
o gesto que aponta para aquém da cidade da Ribeira Grande e de Rabo de Peixe. A
palavra melancolia vê-se também no próprio espanto que em nós estranha e não
explica o verde-azul-amarelo da terra mar, corpo lânguido e feminino da
paisagem, trecho da costa norte fendido ao meio pela Ponta do Cintrão: baixa, e
até maneirinha, à esquerda; alta e muito recortada para as bandas de Porto
Formoso. Os tons esmeralda da pradaria e das matas de incenso e criptoméria
parecem a um tempo colidir e complementar-se entre si; ao longe e em baixo, a
brancura das casas – que se perfilam ao longo das ruazitas desertas, tortuosas,
com as suas barrinhas de basalto em volta de portas e janelas – resplandece acima
dos verdes múltiplos da terra, como numa marcação a giz dessa cor.
A
paisagem que do alto se despenha aos nossos pés, primeiro a prumo ou em declive
acentuado, depois num remanso que se derrama até o azul do mar, prolonga-se
afinal até se espraiar pelos cerrados de milho e tremoço, pelos hortos e
jardins do tabaco e pelos campos de chá. O prazer e o assombro de tanta beleza
excedem o nosso modo de olhar. Passam para além do pasmo e recordação.”
João de Melo, in “Açores – O Segredo das
Ilhas”, Publicações Dom Quixote, edição revista e acrescentada, 2016.
Nada Tenho de Meu de Miguel Gonçalves Mendes
Hoje, às 21 horas, na Galeria Arco 8 |
“O realizador português Miguel Gonçalves Mendes e os escritores
brasileiros Tatiana Salem Levy e João Paulo Cuenca viajaram até ao Extremo
Oriente para uma troca de experiências com artistas e pensadores de Macau, Hong
Kong, Vietname, Camboja e Tailândia. Desse
contacto, que surgiu depois dos 3 autores terem sido convidados a estar
presentes no "1º Festival Literário de Macau - Rota das Letras",
nasceu a série de 11 episódios “Nada tenho de meu”, descrita pelos seus autores
como “uma mistura de caderno de viagens e ficção".
Daqui:http://www.mgm.org.pt/mgm
terça-feira, 12 de setembro de 2017
segunda-feira, 11 de setembro de 2017
O Cinema de Miguel Gonçalves Mendes na Galeria Arco 8
"Nada Tenho de Meu", dia 13 de Setembro |
“Em Portugal, a normalidade da convivência pura e simples não existe. Persiste uma visão infantil e bipolar, em que coexistem o “nós” perfeito e os “outros”, uma cambada de inúteis e oportunistas. Existe uma total ausência da noção do que é o bem comum. Entretemo-nos em guerras inúteis, destruindo o caminho uns dos outros. Nada se constrói, nada tem continuidade. E o “outro” é um alvo permanente a abater.”
(…)Em Portugal, salvo honrosas
excepções, a crítica não faz crítica, ou fá-la como uma criança de cinco anos:
ama ou odeia. E nesta falta de consistência, confundida com exercício de poder,
o crítico sente-se crítico apenas no momento em que determina a selecção
daquilo que deverá integrar o corpus cultural do país — ou seja, a crítica não
perdoa e só reconhece quem foi criado por si.
Os colegas de profissão, em
geral, desprezam-se e digladiam-se como se não existisse espaço suficiente, sem
perceberem que o mundo é diverso e que, na arte, ninguém ocupa o lugar de
ninguém. Num país de dez milhões de habitantes, onde se produz uma média de
menos de 20 longas-metragens por ano, coabitam duas associações de realizadores
e duas de produtores que rivalizam entre si. É mais do que triste: é
confrangedor. E existem ainda os “brilhantes falhados”, aqueles que desprezam
tudo o que os rodeia porque nunca fizeram nada — e geralmente odeiam o sucesso
do outro por ser esse o espelho da sua própria inacção.”
Miguel Gonçalves
Mendes, in
Público, 9 de Dezembro de 2016
domingo, 10 de setembro de 2017
sábado, 9 de setembro de 2017
Do Gesto
"Outro dos exercícios do escritor é tentar sempre olhar o mundo pelos olhos dos outros, e todos nós somos muito rápidos a julgar. Para mim é intrigante o que está por trás de cada gesto."
David Machado, Revista Expresso.
sexta-feira, 8 de setembro de 2017
Janeiro Alves Redarguiu Pouco Tempo Antes do Verão Capitular
Caríssimo Doutor Mara,
É com enorme
regozijo que recebo a sua missiva, que como é costume, constitui o testemunho
bem redigido de uma vida de ócio e laxismo, e que me diverte nestas curtas
pausas que faço para o ler. Na verdade, e ao contrário da vida pacata do meu
amigo, estou num pleno de afazeres que se devem à meticulosa preparação da
minha viagem, sobre a qual ainda não tive o prazer de o informar, mas que
dentro de poucas palavras o meu amigo ficará ao corrente. Há umas semanas
atrás, tentando escapar a um fluxo de turistas algo descontrolado e sob o
efeito de uma relativa histeria, decidi ir visitar uns antiquários suburbanos,
onde acabei por comprar uma Leica de
1985, impecável, a estrear. Comecei logo ali a fotografar a suburbanidade. Ao
passar numa zona mais comercial, olhei para a loja Pull & Bear. Não entrei,
fiquei apenas a observar o nome da loja. Foi então que decidi ir fotografar
ursos para a América do Norte. Parto amanhã para o Canadá, apenas com uma pequena
mala onde tenho todo o tipo de apetrechos para a máquina, um camuflado a imitar
carvalho americano, algumas conservas bom petisco e uma garrafa de macieira, e
um livro sobre ursos, para além de outras bugigangas e roupa quente. Assim,
serei breve nesta minha carta, pois vou agora a um workshop de “defesa pessoal
perante um ataque de urso”, e ainda tenho de ir comprar cotonetes.
Deixo-lhe por
fim meia dúzia de palavras para lhe dizer que conto consigo para a elaboração
da agenda para as Conferências da Fajã de 2018, pois o evento aproxima-se e o
Doutor Mara necessita de pôr as suas capacidades ao serviço da sociedade
pós-moderna, em detrimento desse arrastamento doentio em que se encontra, da
cama para o sofá, do sofá para a tasca, da tasca para as termas, das termas
para o jardim, do jardim para o restaurante, do restaurante para a sauna, da
sauna para a festa, da festa para o sol que lhe queima as pestanas e lhe coze o
cérebro.
Se não der
notícias da América do Norte e se entretanto não for comido por um urso ou
atropelado por uma carrinha de caixa aberta, dar-lhe-ei as mais refrescantes
novidades no meu regresso. Até lá, um bem-haja e prepare-se para o frio que aí
vem. Cuidado com os nevoeiros ou neblinas matinais, e outras coisas que tais.
Deste
seu humilde servo,
Janeiro Alves
quarta-feira, 6 de setembro de 2017
Missiva Breve a Janeiro Alves no Render do Verão
Caro
Janeiro Alves,
Escrevo-lhe
no render do Verão e, queira o meu mui nobre amigo acreditar, só agora decido
sair destes aposentos em que me encontro. Estive, assim, durante toda a
canícula recluso, a maior parte do tempo à sombra, aproveitando para recuperar
forças entre outras coisas que entretanto se encontravam ocultas. Acredite, um
Agosto inteirinho dedicado à penumbra e à avassaladora quietude.
Estive,
por isso, afastado da regeneração urbana em curso, longe dos ruídos das
betoneiras e dos caterpílares e, por isso, nem fui capaz de verificar com os
meus próprios olhos como se encontram os contentores do lixo com o aumento da
população em redor. Estou, como deve calcular, ávido de novidades e convicções
que este mundo contemporâneo nos queira oferecer de mão beijada. Devido a esse
facto, acabo de sair para dar um mergulho num conjunto de praias que me são
familiares: São Roque, Pópulo
e das Milícias, Água de Alto, Vinha da Areia e Amora.
Sendo
assim, despeço-me alegremente deste estio ao mesmo tempo que aproveitei para
comprar um par de óculos escuros de marca que estavam em promoção pois ainda ninguém tem a
certeza até quando teremos a presença do rei Sol. Quanto a refrescos continuo
fielmente a optar pelo “sumo de lúpulo e cereais maltados” que as entidades
locais se orgulham, e bem, em produzir. No entanto e, enquanto julgo durar a
renda deste moinho alugado, tenciono rever um pequeno ciclo de cinema italiano
da restauração e cujas lembranças subsistem na minha memória. Agora e, talvez
porque acabo de partir o eixo da bicicleta que me transportava na via pública, começarei pelo
“Ladri di Biciclette”, de Vittorio de Sica, seguindo-se o “Il Vitelloni” do
Federico Fellini e, por fim, irei ver “Il Sorpasso” de Dino Risi. A vantagem
dum ciclo caseiro é que podemos parar o DVD, voltar atrás, beber mais uma
“mosca”, tirar algumas notas e prosseguir a reflexão fílmica em curso.
Aproveito,
entretanto, para augurar ao meu amigo Janeiro, um bom regresso à antiga capital
do império e faça de conta que aquilo que ouve é a língua dos seus
compatriotas tal qual os táxis que
avista continuam a ostentar o preto nas portas e o verde no tecto. Por fim,
caso possa, beba um verde tinto e coma um pastel de bacalhau em honra deste seu
amigo que fica a aguardar as suas notícias que, ao que julgo e desconfio, devem ser frescas e boas.
Com
o respectivo abraço e elevada estima que nutro por si,
seu amigo eterno
Doutor Mara
Voz de Veludo
Daqui:http://www.4ad.com |
“I was gifted at the music
I was born the day the year was
new
Someone has stolen all the water
I keep the pills inside an urn”
Aldous Harding, Stop Your Tears, 2014
O
que impressiona nesta voz modelada, cavada, quase inspirada e que quase se perde na
respiração é que nos parece assustadoramente sincera. Aldous Harding nasceu em
1990 numa pequena cidade, Lyttelton, na longínqua Nova Zelândia. Crescida no
interior de uma família de músicos, a sua mãe é Lorina Harding, com larga
tradição de cantores, e que terá sido descoberta pela produtora Anika Moa. A
edição deste seu segundo disco, intitulado “Party”, pertence à mítica 4AD,
depois da cantora ter sido representada em nome próprio pelas” Flying Nun
Records” e “Lyttelton Records” no seu primeiro disco. O registo, sentido e melancólico, mantém-se.
A
cantora que, ao que tudo indica foi descoberta a cantar nas ruas, autodenomina-se de gótica e folk. O que é um facto que estamos na presença de uma
exímia escritora de canções com apenas dois álbuns, tendo já colaborado com uma
plêiade considerável de músicos: John Parish, Mike Hadreas, Marlon Williams e Fenne Lily, entre outros.
Seria o Amor Português
Muitas
vezes te esperei, perdi a conta,
longas
manhãs te esperei tremendo
no
patamar dos olhos. Que me importa
que
batam à porta, façam chegar
jornais,
ou cartas, de amizade um pouco
—
tanto pó sobre os móveis tua ausência.
Se
não és tu, que me pode importar?
Alguém
bate, insiste através da madeira,
que
me importa que batam à porta,
a
solidão é uma espinha
insidiosamente
alojada na garganta.
Um
pássaro morto no jardim com neve.
Nada
me importa; mas tu enfim me importas.
Importa,
por exemplo, no sedoso
cabelo
poisar estes lábios aflitos.
Por
exemplo: destruir o silêncio.
Abrir
certas eclusas, chover em certos campos.
Importa
saber da importância
que
há na simplicidade final do amor.
Comunicar
esse amor. Fertilizá-lo.
«Que
me importa que batam à porta...»
Sair
de trás da própria porta, buscar
no
amor a reconciliação com o mundo.
Longas
manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda
bem que esperei longas manhãs
e
lhes perdi a conta, pois é como se
no
dia em que eu abrir a porta
do
teu amor tudo seja novo,
um
homem uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis
circunstâncias da vida.
Que
me importa, agora que me importas,
que
batam, se não és tu, à porta?
Fernando Assis Pacheco,
in “A Musa
Irregular”, Assírio
& Alvim, Novembro de 2006
segunda-feira, 4 de setembro de 2017
sábado, 2 de setembro de 2017
Sina Saudade de Medeiros/Lucas
Oh, que me fosse dado
Ir lá ter contigo
A essa terra de cal e pena
Oh, que me fosse dado
Ir lá ter contigo
Também nunca me vi de espanto
Feito dessa loucura
Na terra de vil ternura
Que é Sina Saudade
Orça tal delírio
Pesa esse fulgor
Feito na cidade
De Sina Saudade
Ah! Que me fosse dada
Passagem sem tributo
A essa terra de vil Sirena
Ah! Que me fosse dada
Passagem sem tributo
Também nunca me vi lanhado
Carente de sutura
Na terra, curva planura
Que é Sina Saudade
Pousa esse lírio
Sente esse ardor
Feito na cidade
Que é Sina Saudade
Letra: João Pedro Porto
sexta-feira, 1 de setembro de 2017
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