terça-feira, 17 de abril de 2018

Da Arte

          “Eu diria que a arte é, em primeiro lugar, não sobre o mundo mas sobre o sujeito que a produz. A arte é um modo através do qual o sujeito pratica o desenho da sua própria aparência do mundo. A arte manifesta não o modo como eu vejo o mundo, mas o modo como quero que o mundo me veja a mim. Regra geral, a imagem que apresentamos ao mundo não nos agrada – por isso tentamos mudá-la por meio da filosofia, da política e da arte. E, ao mudarmos a nossa imagem da sua prática, a arte transforma o mundo no qual acontece. A arquitectura, por exemplo: independentemente de gostarmos dela ou não, temos de viver dentro dela. A arquitectura define o nosso modo – isso pode ser dito de todas as formas de design. Mas também somos formados pelos filmes que vemos, os livros que lemos, etc. Nada disso é feito pela natureza – nem por nós, enquanto leitores ou espectadores. E a nossa relação com toda esta arte não é uma relação externa, estética. Não temos a liberdade da distância estética e do juízo estético. Vivemos dentro da arte e somos formados por ela. Por isso é uma pergunta legítima: como é que este processo formativo acontece? E é precisamente uma questão da poética, não da estética.”

Boris Groys numa entrevista a António Guerreiro, revista Electra, Março de 2018

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Palavra de Honra


 "A palavra de honra está moribunda, quase extinta, decadente. De facto, a honra morreu. É preciso fazer-lhe uma cerimónia fúnebre, e convictamente enterrá-la de vez. Sugiro uma cerimónia com pompa e circunstância, com flutes de espumante francês e canapés, e com uma consternação moderada, suavizada por actuações de palhaços contratados e cuspidores de fogo. Provavelmente não poderei estar presente devido a compromissos publicitários, portanto peço-vos que fiquem atentos: o que é para enterrar é só a honra! Não vá o coveiro distrair-se e enterrar também a palavra ainda viva. Seria um incidente embaraçoso, que nos deixaria literalmente sem palavras."

Fausto

Colo de Teresa Vilaverde no Teatro Micaelense



Como é que chegamos aqui? Poderia ter sido a pergunta feita milhares de vezes quando se atingiu o auge da crise portuguesa em 2012. E porque parecia uma nação antiga tão desorientada? E os seus cidadãos completamente perdidos e ausentes de laços de solidariedade? 
       Teresa Villaverde filmou, por isso, a sua cidade: Lisboa. Imaginou, há três anos atrás, o que seria na capital do país a desagregação de uma família onde a mãe está ocupada com dois trabalhos, o pai perde o emprego e a filha adolescente ensimesmada com as respectivas crises de crescimento. É tudo filmado de forma branda, anunciando de forma subtil o afastamento entre as pessoas e o esfriamento dos laços. Vai fundo na derrisão a que cada um está sujeito perante o medo da fragilidade e aquilo que a exposição da perda faz a cada um de nós. A tensão cresce, no entanto, neste país nunca chega a estourar, rebentar de revolta ou a descambar completamente. Uma fotografia belíssima de Acácio de Almeida, uma interpretação convicta de Alice Albergaria Borges e ainda planos fixos que são pinturas lindas de assistir, valem bem a pena presenciar este filme que asseguram, sobretudo, as vozes do dono, vir em contraciclo. Será verdade?

terça-feira, 10 de abril de 2018

“Prefiro não o Fazer” na Galeria Arco 8



A Galeria Arco 8 é actualmente palco e presença de três artistas visuais: Adriano Rangel, Ana Alvim e Rui Teixeira. Com um título sugestivo: “Prefiro não o Fazer”, retirado do livro de Herman Melville,“O Escrivão ou Bartleby, o Escriturário”, os autores pretendem dar a ver os seus recentes trabalhos fotográficos. Cada um deles, à sua maneira, espelha o sentimento e a forte impressão que os lugares lhes causam na forma como se expressam pela via das imagens, sejam paisagens humanas ou não.
            Numa produção de assinalável cuidado na composição e bom gosto na organização do espaço, patente também no jornal da exposição, a sala está tripartida com três corredores expositivos, ainda várias gavetas com fotografias espalhadas pela galeria, que faz com que o observador daqueles “espelhos” possa circular e deambular pela geografia daquele percurso, parando ou movimentando-se consoante a sua vontade ou espanto. 
           Certos, por isso, que o universo gráfico de Adriano Rangel, a poesia basáltica de Ana Alvim ou o humor imagético de Rui Teixeira são merecedores de uma visita atenta, demorada e esclarecida.
        

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Interior/Exterior

A exposição termina dia 15 de Abril no
Núcleo de Santa Bárbara, Museu Carlos Machado.
(Fotografia de Carlos Olyveira)

domingo, 8 de abril de 2018

Ana Vieira: Da Ausência ao Deslocamento do Olhar

Livro da Exposição Interior/Exterior
(Fotografia de Carlos Olyveira)
                 A artista plástica Ana Vieira nasceu na cidade de Coimbra em 1940, viveu nos Açores, em São Miguel, até aos 18 anos de idade. Frequentou a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, terminando o curso de Pintura em 1965. Foi casada com o pintor Eduardo Nery. Faleceu em Fevereiro de 2016, em Lisboa. Há dois dias atrás, Catarina Mourão apresentou, na Galeria Arco 8, o seu documentário “Pelas Sombras”, e, por isso conviria lembrar aqui aquilo que Ana Vieira respondeu numa entrevista a Hans Ulrich Orbist, a propósito da artista madeirense: “A primeira vez que vi uma exposição de Lourdes de Castro, foi em Lisboa, e fiquei não só encantada, como expectante, sem conseguir perceber bem porquê. Uns anos depois descobri que era o conceito de “ausência”, tão detectável nas “sombras” de L. de C. Em relação ao Luís Noronha da Costa foi a liberdade de ensaiar, de experimentar, assim como de propor novas percepções da arte. O Noronha da Costa tinha tirado o curso de arquitectura e talvez, ou certamente por isso, estava muito ligado ao espaço.” Desta feita, registamos aqui as afinidades da artista Ana Vieira: Lourdes Castro, Luís Noronha da Costa e, claro, Pistoletto…essa ideia do expectador poder ou não entrar na obra de arte.

Sobre a escolha das obras de Ana Vieira

Falar sobre estes dois objectos artísticos da exposição Interior/exterior é tentar (re) capturar a atenção de uma ausência, o fluxo do invisível, essa improvável permuta entre a obra do artista e o olhar atento do expectador. As obras por mim escolhidas são, por isso, uma caixa com o vazio da garrafa e uma poltrona da artista plástica Ana Vieira. O que dizer depois do lastro desse primeiro olhar?
A escolha das obras da Ana Vieira pretendem assim dar conta desse olhar que não se encontra, que também se perdeu, que se encontra ausente. Como exprimir o deslumbramento desse olhar? E, claro, depois disso visualizar uma perspectiva, tornar legível o sentir no deslocamento de um olhar que um expectador sente com a intersubjectividade do seu corpo. Se possível, com o corpo todo. A obra de Ana Vieira não é para ver mas sim para espreitar.
 A obra de uma caixa com o invólucro/vazio da garrafa remete para uma ideia de ausência, desse jogo da invisibilidade/visibilidade a que o objecto está sujeito e da interrogação previsível de quem assiste, isto é, ao questionamento do espectador. A garrafa não se encontra presente, apenas a sua forma e por isso se torna possível imaginar que esta possa ter sido usada, que esta possa ser fruto de uma vivência, a reticulação duma qualquer marca, pegada, digamos, que ficou por esclarecer ou desvendar. Do mesmo modo que uma poltrona exposta nos sugere o questionamento e envia para uma invisibilidade física que faz pensar sobre o usufruto que alguém lhe possa ter dado ou ter sido usada em casa por alguém ou dar lugar para alguém se sentar. Quantas pessoas nela se terão sentado? Que memória guarda aquela poltrona?
Como característica essencial do trabalho plástico de Ana Vieira: a criação de espaços e de ambientes, a obra aberta. O expectador participa enquanto “espião” de imagens e lugares, alguém que pressente o eco, esse sussurro do momento em que algo lhe tocou os sentidos. O que é possível dizer ou acrescentar ao que não sabemos, ao vazio que as representações nos sugerem? Mais importante do que as sombras, ficam as tramas, o véu, o vácuo, os materiais que envolvem os objectos, o que não é mostrável, esse lugar inacessível. Pode ser assim, melhor, existir um diálogo com a obra de Ana Vieira, num jogo de ocultação/visibilidade, investindo no questionamento da arte.
Curiosamente, apraz-me concluir que a obra de Ana Vieira é-me muito apetecível pelo seu lado da representação, daquilo que é encenado, intuído, evidenciado por esse jogo de espelhos, tal como as sombras ou transparências... que evoca tantas vezes  a arte teatral, que faz-nos ver o seu trabalho de fora, com uma consciência em off. Sem dúvida, uma artista com pergaminhos, que soube explorar esse lado subtil da arte, delicada nos gestos e honesta na sua busca e percurso singular, ainda a sua concepção de uma arte multidisciplinar, essencialmente na forma como esta se percepciona e nos coloca perante os seus objectos artísticos.


*Texto lido no dia 6 de Abril, na exposição Interior/Exterior, no Núcleo de Santa Bárbara, Museu Carlos Machado.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

(...)

eu quero que fiques neste lugar onde nos deixam
ser árvore, sob a copa do verão, fica comigo, sem
nunca teres ido embora, puxa as águas para trás,
enxuga-lhes a sombra afiada, as palavras que
descuidámos, por não podarmos a música, fica
comigo, oh, fica nesta hora imensa, com a alegria
da maré baixa, e as portas abertas, sem medo da
corrente, no ar que sempre arrefece, as larguras
do amor, oh fica connosco, se nunca deixámos de
ser o mesmo sonho, jurado na fotografia líquida
sem margens para descair, se foi contra o sol que
se virou, a ver se media o tempo, que sempre nos
resta para começarmos a viver.

Daniel Gonçalves, inédito com a Rhianna.

O que me vale

O que me vale aos fins de semana 
é o teu amor provinciano e bom
para ele compro bombons 
para ele compro bananas
para o teu amor teu amon
tu tankamon meu amor
para o teu amor tu te inflamas
oh o teu amor não tem com
plicações viva aragon
morram as repartições


Manuel António Pina

Honestidade

Frequentemente,
a única coisa que a preocupava
era tentar não esconder a ignorância.
Preferia assumi-la, olhos nos olhos,
como quem levanta a saia para mostrar
que, por debaixo, e à parte das cuecas, é
igual às outras. Exactamente.
Mais pelo menos pelo, mais dobra menos dobra,
mais uso ou menos uso.

Madalena Castro Campos in "O Fardo do Homem Branco", Companhia das Ilhas, 2013.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Tascà (ode à PSP - Palco dos Sonhos da Poesia)

No receituário extenso das madeiras
A contínua respiração exclusiva
Sobejam líquidos vertidos das arcadas
Em noctívago jorro que vela das canseiras

Escutam obsoletas vozes desavindas
Versos e rimas de bardos compulsivos
Secos frutos devoram apreensivos
Notando-se à distância o odor dos livros

Cigarros misturados de incertezas
À laia de brotar inspirações
Canceladas vagas de tristezas
Destilam por ali no temor das emoções

Despedem-se como velhos amigos
No cúmulo dos altares reluzentes
Abarcam contos e demais narrativas
Lembram-se das horas e dos poemas lidos.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Breve Léxico do Nosso Tempo

     “E uma nova civilização começou a erguer-se a uma velocidade inaudita diante de nós e penetrou bem dentro de nós. Com as redes, todas as regras do jogo político, sócio-económico e cultural foram profundamente afectadas ou mesmo desintegradas. Uma rede sem centros e sem diferenciação do espaço e do tempo constituiu um corte radical com todas as categorias da experiência anterior à reticulação do mundo. Mesmo aquelas que designamos como “redes sociais” nada têm a ver com aquilo com o que caracterizou até agora o social e, definidas por antigos critérios, poderíamos dizer anti-sociais. O imenso caudal de reflexões teóricas e análise de dados que têm como objecto a internet mostra que esta suscita visões contraditórias: por um lado, ela é portadora de um imaginário de emancipação e acesso livre generalizado ao saber e à informação; por outro, traz consigo o lado mais negro da barbárie tecnológica. Não basta dizer, utilizando a linguagem de Marcel Mauss, que a rede significou um facto antropológico total. É algo mais do que isso: a nossa condição de indivíduos constantemente conectados, determinou a viragem para uma antropologia do artificial e para uma condição pós-humana. Estar ligado à rede, em permanência, significa também ser continuamente interrompido e entrar no regime da comunicação desconexa e fragmentada. A economia e a ecologia da atenção tornaram-se, assim, questões maiores do nosso tempo. Mas as mais visíveis transformações operadas pela rede são as do próprio sistema capitalista: nas modificações das formas de trabalho, nas metamorfoses do poder (não apenas  o poder político, mas todo aquele que é hoje inerente a uma sociedade de controle) e, muito especialmente, num aumento colossal de mercadorias cada vez mais imateriais.”

António Guerreiro e João Oliveira Duarte in “Breve Léxico do nosso Tempo” – revista “Electra”, Março de 2018.

Pelas Sombras de Catarina Mourão na Galeria Arco 8


         Este filme foi realizado há oito anos pela Catarina Mourão e, à altura, ganhou o prémio do público no Indie Lisboa. São oitenta e três minutos a ver o mundo de Lourdes Castro, artista plástica oriunda da Madeira que viveu em Paris e em Berlim. A música do documentário é de Chopin e de Schubert. A realizadora, aquando da apresentação deste trabalho, referiu:"Um dia escrevi uma carta à Lourdes Castro porque gostava do trabalho dela e tinha uma enorme curiosidade pelo trabalho dela hoje". O filme é exibido às 21h30, na Galeria Arco 8, numa parceria entre o Museu Carlos Machado, 9500-Cineclube e o Arco 8. A sessão é gratuita ao público e conta com a presença da realizadora.

Galgar de Medeiros/Lucas

Rombos nas portas
Frinchas nos tectos
A brecha pela parede

Feito roto de acinte
Galga tudo de freio nos dentes,
Interessa pouco o que se ganhe
tampouco o que se enfrente

Bombos às portas
Ferros sem notas
Toada sem o revede

Feito pronto de ouvinte
Galga tudo aquilo que sente
Interessa pouco o que s´apanhe
Tampouco o que se tente

Nenhum pedinte de nada
Só desapego e galgada

Sente-se a leiva na veia
Sangue posto no peito

Tombos às sotas
Trotes querendo
Galope pela calada

Feito fogo urgente
Galga tudo aquilo que entende
Interessa pouco onde se chegue
Tampouco o que se pene

Rombo na porta
Um bombo sem nota
A brecha, o ferro e os trotes

Feito raio de acinte
Galga tudo de rédea ardente
Interessa pouco ou quase nada
Todo o que não se enfrente

Nenhum pedinte de nada
Só desapego e galgada

Sente-se a leiva na veia
Sangue posto no peito

Letra: João Pedro Porto

terça-feira, 3 de abril de 2018

A Arquitectura Urbana em Ponta Delgada – Finais do Século XIX começos do Século XX de António Eduardo Soares de Sousa

Fotografia de Carlos Olyveira
“No seu amplo interior, o Coliseu Micaelense teve a colaboração de dois grandes artistas micaelenses: o escultor Canto da Maia, no friso escultórico por cima do boca-de-cena, e Domingos Rebelo, que pintou o pano-de-boca. Mas, podemos ainda referir outros edifícios que foram construindo, como o destacado edifício dos Armazéns Cogumbreiro, mandado edificar em 1913 pelo Sr. José de Medeiros Cogumbreiro para o comércio de vários tipos, coisa absolutamente inovadora na cidade e à imagem dos armazéns da Metrópole.
           Serão de mencionar alguns dos edifícios que emolduram a praça do centro da cidade: o edifício do Banco de Portugal, o edifício que alberga a firma Azevedo e Companhia, o edifício do antigo Banco Micaelense e, na Rua dos Mercadores, um bem proporcionado edifício que o sr. Luís Maria Aguiar mandou construir, bem como outros edifícios dignos de menção em várias zonas do centro histórico da cidade. Destacaremos ainda o edifício da Sociedade Corretora, rua Hintze Ribeiro, que exibe uma fachada austera e de largas fenestrações, onde creio notarem-se influências da arquitectura industrial dos países do norte da Europa, para onde se exportavam os ananases que a firma comercializava.
Todos estes edifícios evidenciam uma arquitectura híbrida, com influências da arquitectura urbana do Continente português, em feição simplificada, todavia, com uma decoração curiosa e amaneirada, que transporta um gosto peculiar, nomeadamente nas molduras e ornamentos das fachadas.
As fachadas possuem amplas janelas e portadas com molduras em relevo, executadas quase sempre com reboco de cimento e barro, excluindo a tradicional pedra de basalto, tomando uma acentuada dimensão vertical, permitindo maior iluminação e ventilação para os aposentos.
Um outro aspeto muito curioso no detalhe construtivo das fachadas de alguns edifícios dessa época é o aparecimento de varandas concebidas em ferro forjado, que, ao que se sabe, foram produzidas na fundição da Calheta, um edifício fabril que ainda hoje e já abandonado ostenta uma grande chaminé da caldeira em forma de pirâmide octogonal, uma silhueta imponente ladeada por uma alta chaminé de pedra.
A estrutura e as guardas das varandas que ornamentam muitas das edificações habitacionais em Ponta Delgada apresentam desenhos trabalhados ao sabor do gosto da época, de elaborada composição decorativa.
Estas varandas, tão peculiares, existem mesmo em edifícios habitacionais modestos, mas também em outros de grande porte, como é o caso do edifício dos Marqueses da Praia, na Rua Marquês da Praia e Monfort.”

António Eduardo Soares de Sousa, in A Arquitectura Urbana em Ponta Delgada – Finais do Século XIX começos do Século XX, organização e revisão José Ferreira de Almeida.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

UM FIM

(Imitado de Christina Rossetti)

Morreu o amor forte como a morte
Anda, vamos enterrá-lo
Enterrei-o sozinho, estava vivo como a morte
Debaixo da pedra
Debaixo das flores
Vem, senta-te longe dos amores

Ardeu a serra durante o verão
Voltámos cobertos de cinza
Apaguei-te sozinho, estavas linda como o Verão
Debaixo das folhas
Debaixo das flores
Bem sentada longe dos amores

Cantámos tudo só com dois acordes
Sempre o mesmo tom menor
E uma praia sozinha, de areia batida pelas cordas
Debaixo das ondas
Debaixo das flores
Sinto-me bem longe dos amores

João Paulo Esteves da Silva in “Vertem-se Bíblias em Quimbundo”, edições Mia Soave, 2017.