E trago o negro nos olhos pintado
quarta-feira, 31 de agosto de 2022
"Mandem Saudades" de Mário Augusto
Capa de "Mandem Saudades" |
terça-feira, 30 de agosto de 2022
Um Poema de Manuel `Fernando´ Gonçalves
que as casas são circulares.
Objetos que se vestem
de outra natureza, térmicos:
metáfora do Sol
que crispa as imagens.
in Caos, Novembro,1987, Frenesi
sexta-feira, 26 de agosto de 2022
Velhos Hábitos
Poema de Joaquim Pessoa (3)
Profundas como a sede de uma jóia ou
tão leves como nomeá-las simplesmente.
Mil milénios de feridas, mistérios e
esplendor cabem devagar na fala. Tudo é
incalculável, a vida é incalculável, as
coisas serão a memória de si mesmas.
Existe tanta força no que não sabemos. É
tão pobre a lembrança, vazia a luz das
nossas mãos, sombria a superfície de todas
as vitórias. Que vale menos? O oiro
de cabeças sumptuosas ou os segredos
dos dias que se esgotam? O êxtase
está em gastar a vida sem saber
como deveriam ser as coisas.
in "Por Outras Palavras", Litexa Editora, 1990.
quinta-feira, 25 de agosto de 2022
Poema de Joaquim Pessoa (2)
forma do que morre. O mar
não tem forma, é um oculto que
se mostra e ausente ondula
fulgurante ou, terraço vivo,
recebe o sol. O mar é apenas um
quase, um estudo de quem
pinta com água o seu
retrato.
Joaquim Pessoa in "Por Outras Palavras", Litexa Editora, 1990.
quarta-feira, 24 de agosto de 2022
Sobre "As Pescas em Portugal"
Nascido na Foz do Douro, em 1867, acostumado às lides e tragédias do mar, quando terminou a carreira militar Raul Brandão dedicou-se ao jornalismo e à literatura. Num tempo de transição para um mundo novo, de acentuada industrialização das pescas, Os Pescadores são uma prosa impressionista de múltiplos sentidos, menos literária do que parece. Assente na observação directa da paisagem litoral, a narrativa consiste numa visita guiada pelas praias e enseadas de pesca do litoral português. Com mestria literária e alguns arroubos mitificadores, o escritor realça a diversidade de uma paisagem geográfica e humana ameaçada de corrosão. As tensões entre uma pesca industrial em expansão e as velhas pescarias artesanais perpassam nos textos do escritor andarilho. As consciências dos desmandos pelas artes de embarcações depredatórias agudizam a concorrência em tempos de crise do abastecimento. Por isso, durante a República o Estado aperta os regulamentos que restringem os arrastos. Já em 1928, é proibido o registo de propriedade de novos galeões e traineiras que usassem redes de cercar para bordo e interdita-se qualquer alteração dos existentes."
segunda-feira, 22 de agosto de 2022
O Verão e os Jornais Estrangeiros
"In God We Trust" de Miguel Mansilha
ainda moram na ilha
E transportam a candura própria
de quem respira o ar de São Miguel
Diferem dos credos, mesmo os cristãos,
pois tem uma relação menos materialista
com o "american dream".
Quando olham as notas verdinhas do tio Sam,
chamam-lhe uma dólar
com a ternura de quem faz amor
com uma couve tronchuda
depois das geadas de Janeiro (tão tenrinha!)
domingo, 21 de agosto de 2022
Falar da Vida
"(...) O que é a vida se não fossem os livros, os espectáculos, se não fosse o cinema, a música? A vida é isso. A vida não é ir para uma praia e olhar para o mar. Esse é um lado melancólico da vida. Claro que é óptimo ir para a praia, seja no verão ou no inverno. A vida, na verdade, são as coisas que podemos fazer com ela, e a forma como absorvemos outras influências. As minhas influências não vêm da fotografia."
Entrevista a Daniel Blaufuks por Cristina Margato, in Revista Expresso, 19 de Agosto de 2022.
quarta-feira, 17 de agosto de 2022
sexta-feira, 12 de agosto de 2022
"A Bicicleta" de Mário Rui de Oliveira
quinta-feira, 11 de agosto de 2022
quarta-feira, 10 de agosto de 2022
Poema de Joaquim Pessoa (1)
de uma escolha: ouvir discos,
ordenar papéis, fazer amor.
O teatro da dúvida tem a porta
aberta. O actor acredita à sua
maneira - o grande actor tacteia -
como madeira ardendo. Meto
conversa, o roupão cai. A nudez
é uma nova máscara. Deixo passar
indignações, as palavras secam
no altar da boca. Mozart
sou eu.
in "Por Outras Palavras", Litexa Editora, 1990.
"Outra Vida Para Viver" de Theodor Kallifatides
segunda-feira, 8 de agosto de 2022
Da Crítica
“Há pessoas que me dizem: “Estás a ler? Vai mas é ler uma peça ou o filme. Não percas tempo a ler ou a formar uma opinião”. Mas então não posso ler a opinião de outra pessoa? “Não, não te deixes influenciar “, insistem. Mas é um dado da civilização humana, ora que porra! Teria alguma hipótese de descobrir sozinho tantos autores? E os professores e as aulas? Haverá coisa mais importante do que ser influenciado? Devemos é poder escolher quem nos vai influenciar. Estão a destruir a crítica ou já a destruíram. E com a crítica, cai a civilização toda.”
Entrevista a Miguel Esteves Cardoso por José Marmeleira, in Ípsilon, Jornal Público, 5 de Agosto de 2022.