2023 vai entrar de mansinho e nós continuaremos por aqui, certamente, com a mesma energia ou à procura dela. Poderia ter sido um ano inesquecível e, no entanto, à semelhança de todos os outros anos, as guerras, a fome, o desperdício e o desequilíbrio humano seguem de forma indelével. Até quando?
Na verdade, há sempre pouca coisa que muda, sendo necessário destrinçar o essencial do supérfluo, ainda que seja indispensável que continuem a existir a força das canções de Nick Cave, a firmeza do timbre de Cátia Mazari Oliveira, a profundidade de Adrianne Lenker, a dolência de Rita Costa Medeiros ou a melancolia de Maria Carolina e Hillary Woods. De volta esteve também a voz delicada de Anna Jarvinen. E, como seria que o novo ano trouxesse de volta a dupla Medeiros/Lucas com uma mão cheia de canções. Continuando pelo lado dos ouvidos, cada vez mais o palco como atenção e o prazer da escuta, a música ao vivo - Sessa e Rodrigo Amarante, dois príncipes da palavra, encheram de corpo e alma a edição do presente ano do Tremor!
Por fim, a memória de uma visita maravilhosa ao jardim do Palácio Palácio de Sant´Ana, onde me foi dado a conhecer as suas árvores frondosas e vistosas, num passeio rico pela diversidade dos elemento vegetais e florais que remontam à herança de oitocentos, num percurso em que se avistam araucárias, yucas, melaleucas e dragoeiros, para além de um metrosídero que conta com 170 anos de idade oriundo da Nova Zelândia. Tudo o resto é do domínio do indizível. Um feliz 2023!